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Congelamento: O passaporte para o frio


Edição de Jun / Jul de 2011 - 05 ago 2011 - 08:50 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:04
Depois de sofrerem nos invernos anteriores, produtores e distribuidoras estão lidando melhor com o problema do ponto de entupimento, mas a questão ainda gera preocupações

Cátia Franco, de São Paulo

A publicação da resolução nº 7 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em março de 2008, semeou no mercado de biodiesel uma série de incertezas. Um ponto em particular preocupou os envolvidos na cadeia de produção e distribuição do combustível: o ponto de congelamento ou entupimento de filtro a frio. Ao estabelecer novas regras para o produto, a agência fixou o parâmetro que regula a temperatura mínima antes do biodiesel cristalizar em 19ºC. A decisão visava viabilizar a comercialização do biodiesel de sebo, que hoje corresponde a 12,5% da produção nacional.

O problema é que o combustível com altas concentrações dessa matéria-prima tende a se cristalizar com muita facilidade. Dependendo da quantidade de gordura animal usada, o biodiesel pode se solidificar entre 10ºC e 18ºC, faixa de temperatura que se aproxima do parâmetro estabelecido pela ANP.

A agência, por meio de sua assessoria, argumenta que a decisão foi “uma medida de segurança” para as regiões mais frias. Mas se esse foi mesmo o critério, temos aí uma incongruência. A temperatura limite fixada pela resolução é comum na região Sul do Brasil mesmo durante estações mais amenas, como a primavera. No inverno, os termômetros de muitas cidades ficam bem abaixo da casa dos 15ºC, o que torna a questão do ponto de entupimento ainda mais relevante.

O receio de que o biodiesel, em especial o produzido com elevadas concentrações de sebo, apresentasse problemas acabou se concretizando. Produtores tiveram cargas devolvidas, distribuidores não conseguiram descarregar o combustível dos tanques, enfim, prejuízos amargados em todas as etapas da cadeia.

Passados três anos, após uma fase de intenso aprendizado, o que se constata é que o cenário não é mais tão nebuloso. Isso porque produtores e distribuidores estão aprendendo a lidar com o problema. Relatos sobre tanques cheios de combustível solidificado não voltaram a ocorrer. “Realmente o número de ocorrências relacionadas a essa questão diminuíram muito”, concede o químico Walber Tuler, da GP Combustíveis.

Blends em alta

Esse “lidar com o problema” restringe- se por enquanto a soluções paliativas, como a adição de óleos vegetais que permitam melhorar a performance do biodiesel quando os termômetros despencam. Esta tem sido a grande aposta das usinas.

O frigorífico Minerva, que está debutando no mercado (iniciou sua produção em fevereiro), retrata bem essa tendência. Eles afirmam que produzem 100% com sebo bovino. Marcelo Alcântara de Queiroz, diretor da empresa, atribui a “façanha” a uma tecnologia exclusiva. “Investimos muito em pesquisa para que o nosso sebo apresente uma qualidade diferenciada. Além de tratar a gordura animal visando ao aprimoramento de suas características, fizemos diversas melhorias no processo de produção”, explica.

Se o combustível produzido pela empresa vai ou não apresentar problemas caso seja comercializado em regiões mais frias ainda é uma incógnita. Quando questionado sobre as medidas que adotaria caso isso acontecesse, a mistura de óleos vegetais está entre as opções cogitadas por Queiroz. É importante ressaltar que a empresa ainda não vendeu nos leilões e por isso ainda não firmou contratos com distribuidoras.