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Alísio Vaz: Preços


Edição de Abr / Mai de 2011 - 13 mai 2011 - 07:56 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:28
Revista BiodieselBR No final de 2010 a Fecombustíveis falou que o diesel ia subir na bomba por causa do preço do biodiesel. Alguns produtores de biodiesel reclamam que quando há aumento no preço trimestral do biodiesel, o preço do diesel na bomba aumenta, e quando o preço do biodiesel diminui, o preço do diesel na bomba não faz o mesmo caminho. Por que isso ocorre?
Alísio Vaz
Primeiro é preciso ver esses números em detalhe, para ver se acontece de fato isso que estão falando. Eu tenho alguma dúvida se acontece exatamente isso; que quando cai, não cai, mas quando sobe, sobe. Nesse último aumento [em janeiro de 2011], o preço [do biodiesel] para as distribuidoras aumentou de R$ 1,85 para R$ 2,44, um aumento de 59 centavos no preço de aquisição. Cinco por cento disso seria em torno de três centavos, e o preço que eu vejo nas pesquisas da ANP não subiu três centavos. A pesquisa da ANP traz uma média de preço do diesel no Brasil: era de R$ 1,98 e no mês de fevereiro esteve em torno de R$ 2,00. E o potencial de aumento em função do preço do biodiesel seria de três centavos. Ou seja, passados dois meses e meio, o diesel não aumentou tudo o que poderia aumentar.

Em janeiro de 2010 os preços do biodiesel vendido pelas usinas eram muito parecidos com os de janeiro de 2011, cerca de R$ 2,32. Ou seja, apesar da queda de preço no último trimestre de 2010, não houve aumento no preço do biodiesel em um ano que justificasse o anúncio de aumento do preço do diesel na bomba.
Alísio Vaz
Não se anuncia aumento. Uma coisa é informação e outra é um anúncio. Parece que foi um decreto assinado por alguém, que declarou que vai ter um aumento. O que se diz é que com este aumento de custo é esperado um impacto no preço final potencial. Anunciar que vai ter um aumento dá até cadeia. Há uma expectativa diante do novo patamar de preços do releilão, há uma expectativa de impacto de até “x” centavos. Em razão do releilão, havia uma expectativa de em torno de três centavos. O que aconteceu até agora: dois centavos. Isso são expectativas colocadas por agentes do setor dentro daquilo que está acontecendo. Agora, um aspecto que eu queria enfatizar dentro dessa questão de preço é que o mercado de combustíveis tem mais de cem distribuidoras, mais de 35 mil postos e um cliente caminhoneiro é um cliente profissional, extremamente rigoroso no controle dos seus preços. Então, o patamar de preços ninguém impõe. Ninguém diz, “Eu vou cobrar R$ 2,10 amanhã” e fica por isso mesmo. Não existe essa condição de preços que não seja a mais eficiente possível no mercado de diesel. Então, falar que aumentou indevidamente, não baixou devidamente, é uma conversa para quem não conhece o mercado de combustíveis. O caminhoneiro anda mais dez quilômetros e abastece no posto mais barato. Não adianta querer impor um preço sem que haja uma razoabilidade para ele, sem que haja uma realidade de mercado que o sustente. O mercado se equilibra, e fica um pouco ingênuo dizer que não repassou, guardou no bolso ou está ganhando dinheiro em cima do outro. São afirmações que não são compatíveis com a competição que existe no mercado de combustíveis.

O atual modelo de leilão entre as usinas e a Petrobras seguido de um releilão entre a Petrobras e as distribuidoras ainda funciona ou o setor de biodiesel já está maduro o suficiente para negociar diretamente com as distribuidoras?
Alísio Vaz
Estamos permanentemente avaliando a questão do releilão. Nós entendemos que a busca por eficiência será maior sem o sistema de leilões e releilões. A negociação direta entre produtores e distribuidores, assim como ocorre no mercado de etanol, é o indutor de eficiência em diversos sentidos. Indutor de eficiência para qualidade, para custos, para logística, para a questão operacional de um produtor que carrega o produto mais rápido e tem um atendimento mais ágil. Ou seja, a negociação direta leva a uma eficiência maior. A presença hoje da Petrobras é em função de segurança. Ela gera uma segurança para o setor de que há esse equilíbrio entre quem está comprando diesel e biodiesel. Nós entendemos que, dentro daquela revisão que nós propusemos do programa e uma vez a ANP tendo a questão do controle bem equacionada, nós poderemos migrar para uma negociação direta e causar aquela indução de eficiência que todos desejam. Então, a nossa certeza é de que a negociação direta é a melhor solução, mas primeiro precisamos transpor essa questão da segurança de que os controles estão bem operacionais e estão funcionando de uma forma segura para que não haja desequilíbrios competitivos daqueles que eventualmente não misturam o biodiesel no diesel.

Quando a Petrobras revende o biodiesel para as distribuidoras, ela coloca um sobrepreço no produto e não informa para ninguém qual foi o preço médio dos releilões. Como você analisa essa questão?
Alísio Vaz
A Petrobras tem custos para administrar todo esse sistema. Pode- se eventualmente concordar ou discordar. E o sistema de releilão que é feito ocorre de forma equilibrada. Esse sobrepreço é fruto desses dois componentes: o custo administrativo e os lances que são dados no releilão. Isso pode ser chamado de ineficiência? Sim, mas também pode ser chamado de segurança. É o preço que se paga para ter a segurança de hoje. Por isso afirmei com muita tranquilidade que a compra direta trará mais eficiência para o processo. Existem hoje ineficiências, mas não queremos trocar eficiência por insegurança. Nós queremos ter os dois, eficiência e segurança.