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Álcool: O mercado do metanol


Edição de Abr / Mai de 2011 - 31 mai 2011 - 14:46 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:26
Mesmo sem receber o mesmo nível de interesse do óleo vegetal, o discreto metanol consolidou-se como ingrediente fundamental para o biodiesel brasileiro

Fábio Rodrigues, de São Paulo

Pegue qualquer bom manual de química e ele vai explicar que o biodiesel é fabricado normalmente através da transesterificação, que vem a ser um processo onde se mistura um óleo – de origem vegetal ou animal – e um álcool na presença de um catalisador. A reação que se segue quebra a molécula de gordura e joga a glicerina para um lado e os ésteres para o outro. O que chamamos de biodiesel é precisamente esta segunda parte. Acontece que, enquanto temos prestado grande atenção nos óleos que andamos usando, pouco se comenta sobre o álcool que entra nessa receita.

Embora seja possível usar praticamente qualquer tipo de álcool, só dois deles têm sido explorados para a produção de biodiesel em nível comercial: o metanol e o etanol. Os processos de transesterificação baseados nessas duas substâncias são chamados, respectivamente, rota metílica e rota etílica do biodiesel. Mas a impressão é que, desses dois, por enquanto só o metanol pode mesmo ser levado a sério. Os números do setor são bem eloquentes a respeito do pouco crédito que a rota etílica goza entre os produtores brasileiros de biodiesel: de um total de 99 fábricas presentes na lista compilada pelo portal BiodieselBR, apenas três informam que utilizam a rota etílica.

Não deixa de ser um tanto contraintuitivo que o metanol tenha obtido uma vitória tão inequívoca ao arrebanhar o mercado criado a partir do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) em um país que enche o peito para falar do pioneirismo e liderança que exerce na produção de etanol. Renovável e de origem 100% nacional, o etanol é tudo o que o metanol não é.

Embora o metanol possa ser fabricado com biomassa e tenha durante muitos anos sido produzido a partir de um processo de destilação da madeira, hoje em dia os grandes fabricantes comerciais usam gás natural como matéria-prima para o produto. Além disso, a maior parte do metanol usado no Brasil precisa ser importada. Segundo dados publicados pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) na edição 2010 de seu Anuário da Indústria Química Brasileira, o mercado nacional consumiu pouco menos de 770 mil toneladas da substância, das quais 73,2% tiveram que ser importadas. Só há duas empresas brasileiras competindo no mercado de metanol: a GPC Química do Rio de Janeiro, com capacidade para 220 mil toneladas, e a Companhia Petroquímica do Nordeste (Copenor), de Camaçari (BA), com 82,5 mil toneladas. A empresa chilena Methanex também concorre no mercado nacional.

Motivos da dominação

“Embora o PNPB tenha sido concebido para utilizar o etanol, isso não ocorreu por uma série de razões. A mais importante é que o metanol é mais barato do que o etanol”, sintetiza o diretor-presidente da Copenor, João Bezerra. Uma tonelada do álcool metílico sai por aproximadamente US$ 425 (cerca de R$ 710 pelo câmbio de R$ 1,66 registrado em 21 de março) na cotação do Golfo do México – preço internacional de referência do produto –, enquanto a mesmíssima quantidade de etanol fica em R$ 2.140 pelo preço médio apurado pela ANP junto às distribuidoras da Região Sudeste na semana entre 13 e 19 de março.

Deixado sozinho, o mercado seguiu sua tendência natural e se dirigiu para a opção mais barata. Outro ponto a favor do metanol é a existência de uma tecnologia completamente dominada e um melhor aproveitamento do óleo no processo de transesterificação.

“Embora feitas por gente bem- -intencionada e muito séria, as primeiras tentativas de fazer biodiesel de etanol no Brasil se viram frustradas pela falta de conhecimento e tecnologias adequadas”, explica o professor Miguel Dabdoub do departamento de química da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. A má qualidade e baixo rendimento obtidos por essas primeiras experiências foram fatais para a imagem do biodiesel etílico e os investidores começaram a ficar desconfiados dessa tecnologia. “Aos olhos desses primeiros produtores o metanol começou a parecer uma opção mais simples e segura. Então, o pessoal que queria produzir biodiesel partiu para tecnologias importadas dos Estados Unidos e da Europa, que já estavam totalmente dominadas e eram baseadas no metanol”, explica, dizendo que os usineiros passaram a procurar fornecedores estrangeiros de equipamentos.

Para Gazzoni, agora que os investimentos já foram realizados e o parque industrial está erguido, seria difícil e demorado tentar fazer uma mudança de rumo. “A capacidade produtiva que já temos pode atender o mercado por bastante tempo, mesmo que haja novos aumentos de mistura”, calcula. Isso equivale a dizer que o metanol deve continuar dominando o mercado por bastante tempo.