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Pequenas usinas: Atenção redobrada


Edição de Abr / Mai de 2011 - 31 mai 2011 - 14:09 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:39
As pequenas e médias usinas não entraram no negócio de biodiesel a passeio e garantem ter musculatura para continuar no jogo. Confira o que pode fazer a diferença para este grupo de empresas

Fábio Rodrigues de São Paulo


Que o setor de biodiesel cai num estado de espírito sombrio sempre que um leilão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) não vai bem, é fato conhecido. Mas desde o fim do leilão 19, que derrubou os preços do biocombustível, começou a ganhar fôlego a tese de que o setor estaria a caminho de virar um negócio com margens de lucro reduzidas, no qual a escala de produção e a verticalização representam a diferença entre continuar no mercado ou ir embora. Em outras palavras, o segmento estaria às vésperas de virar uma disputa aberta apenas aos grandes players e as usinas pequenas e médias estariam com os dias contados.

Acontece que tem uma porção de gente nas usinas de menor porte que, respeitosamente, considera isso tudo papo furado.

É verdade que os grandes players do setor andam arreganhando os dentes uns para os outros. Oleoplan, ADM e Granol andaram se alternando no posto de maior usina do Brasil. Em novembro passado, a Oleoplan chegou ao topo do pódio ao ampliar sua planta para 378 milhões de litros, mas ela logo deverá ser superada pela ADM, que já foi autorizada a aumentar sua planta dos atuais 343 para 487 milhões de litros. E há outros projetos de grande porte em vista, como a unidade de 518 milhões de litros que o grupo Guaporé Frigoríficos planeja inaugurar em Várzea Grande (MT) no ano que vem. Mas os números superlativos não significam que as usinas médias e pequenas estejam fora da parada.

Segundo a classificação da ANP, para ser grande uma usina precisa estar acima de 126 milhões de litros; entre 126 e 36 milhões de litros ficam as médias; e são pequenas todas as que estiverem abaixo disso. Dessa forma, das 68 fábricas atualmente autorizadas pela ANP, apenas 22 estão no topo da escala, enquanto as 46 restantes são médias (16) ou pequenas (30).

Por outro lado, o tamanho médio das unidades está crescendo. A capacidade média das usinas brasileiras está em 91 milhões de litros, mas se acrescentarmos as 27 que estão em fase planejamento ou construção, descobertas pelo Mapa das Usinas de Biodiesel de 2011, a média sobe para 99 milhões de litros. Contudo, a participação de pequenas, médias e grandes deve permanecer praticamente inalterada.

Para onde o vento sopra

Mesmo assim, há quem não tenha dúvidas de para onde o vento está soprando. É o caso do presidente executivo da Cesbra, Carlos Omar Polastri. “No novo cenário que está se formando para o mercado de biodiesel, você não pode ser pequeno, não pode nem ser médio. Você tem que ser ou grande ou muito grande”, assegura o executivo, responsável por liderar a indústria com 60 anos de tradição no ramo de químicos de estanho em sua entrada no mercado de biodiesel iniciada em 2006.

Por enquanto, a Cesbra é dona de uma usina de módicos 60 milhões de litros, mas os planos são bem mais ambiciosos. “Segunda- -feira passada [28 de fevereiro] entramos na ANP com um pedido para aumentar nossa capacidade para 200 milhões de litros”, diz Polastri, informando que a empresa também está planejando criar uma filial na região amazônica, com a meta de instalar uma usina de 200 milhões de litros em Rondônia. E, considerando a quantidade de usinas listadas com projetos de ampliação pendentes, dificilmente a direção da Cesbra está sozinha em sua convicção de que os investimentos em mais capacidade produtiva vão compensar.

A questão é que o timing parece errado. Desde que o PNPB estacionou no B5 em janeiro de 2010 – e sem indícios de que governo pense em novos aumentos da mistura obrigatória neste ano – o crescimento da oferta de biodiesel só tem servido para derrubar os preços pagos pelo litro do produto nos leilões da ANP. Então, por que colocar ainda mais oferta no mercado? A resposta mais ouvida por esta reportagem é que os aumentos de escala ajudam a diluir os custos fixos e melhoram a competitividade. “Quando você faz o rateio dos custos fixos de uma empresa que produz entre 10 e 15 milhões de litros por mês, isso sai [desaparece] quase totalmente. Diferente de uma que produza só 1 milhão de litros”, explica Polastri.

Não são todos os usineiros que rezam por essa cartilha. Uma parte considerável dos empresários responsáveis por usinas pequenas e médias se declara satisfeita com o que têm em mãos e não acha que o mercado do biodiesel será decidido num exercício de força bruta. O mercado tem bem mais sutilezas do que isso.