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Mais biodiesel, menos importação de combustíveis fósseis


Edição de Fev / Mar de 2011 - 02 mar 2011 - 08:28 - Última atualização em: 22 dez 2011 - 11:10

Mesmo tendo ainda um teor fixo de 5% de biodiesel no diesel, a demanda do biocombustível é dinâmica, à medida em que o consumo de diesel é variável. Sobretudo nos últimos 12 meses, quando o consumo de diesel no país cresceu muito (cerca de 12%, índice significativamente superior ao crescimento da economia do país). Esse crescimento “extra” na demanda do biodiesel equivale a pouco mais de 200 milhões de litros/ano.

Parece muito, mas não é. Uma única nova grande usina no Brasil produz, sozinha, mais do que esse “plus”. E várias novas grandes usinas estão sendo inauguradas ou serão em breve. A conclusão é que o aumento no consumo nacional do diesel, por mais impressionante que seja, não é suficiente para alavancar o programa de biodiesel.

Por outro lado, há um outro número que salta aos olhos: o aumento na importação do diesel. Passamos de 3,5 bilhões de litros em 2009 para quase 10 bilhões de litros de diesel importado em 2010. Quase triplicamos a importação de diesel em apenas um ano. Isso por si só já é uma grande justificativa para o aumento no teor compulsório de biodiesel no Brasil, sobretudo com preços crescentes do petróleo, já beirando novamente os US$ 100/ barril.

No caso do querosene de aviação, importávamos cerca de 300 milhões de litros em 2005. Em 2010, importamos cerca de 2 bilhões de litros. Em termos proporcionais, importamos um terço de todo o consumo de jet fuel. Trata-se de outra grande oportunidade para os biocombustíveis substituírem essas importações maciças de combustíveis fósseis.

O GLP (gás liquefeito de petróleo, ou gás de botijão) é composto basicamente de propano e butano. O aumento na importação desse gás, comparando-se 2010 com 2009, foi de cerca de 25% em apenas um ano. Apenas para lembrar que a glicerina, que é hoje um resíduo, pode ser convertida em propano, ou seja, um bio-GLP.

Estender a matriz de biocombustíveis no Brasil é uma excelente oportunidade para o novo governo. Trata-se não apenas de uma medida social ou ambiental. Com o crescimento econômico experimentado nos últimos 12 meses, (e que deverá permanecer por um bom período), estamos impactando perigosamente a balança comercial com a importação de combustíveis fósseis.

Em tempo, o consumo de etanol, por sua vez, caiu cerca de 11% nos últimos 12 meses. Estamos falando de aproximadamente 2 bilhões de etanol hidratado que deixaram de ser consumidos – praticamente o equivalente ao consumo de todo o biodiesel no Brasil. Precisamos de uma ação urgente de nossas autoridades para que a liderança do Brasil no cenário dos biocombustíveis não seja ameaçada. Motivações para isso é o que não faltam.

Donato Aranda é professor de engenharia química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possui o título de comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico.