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Palma: comércio local e agricultura familiar


Edição de Fev / Mar de 2011 - 02 mar 2011 - 14:17 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:59

Comércio local

Há uma questão de fundo delicada aqui. Mesmo que o biodiesel de palma não chegue ao sul do país, a Região Norte é dona de um mercado muito maior do que se imagina, especialmente por causa dos transportes fluviais e das termelétricas. Uma reportagem publicada pela revista Veja em setembro de 2009 apurou que, todos os meses, cinco petroleiros carregados com 180 milhões de litros de diesel saem do porto de São Sebastião(SP) rumo a Manaus.

A Brasil Biofuels quer um pedaço desse filão. “O volume de diesel náutico vendido em Manaus é um monstro. Também temos as 260 termelétricas da Amazônia, que consomem diesel com alto teor de enxofre que provoca chuva ácida. Substituir parte disso por biodiesel é um dos nossos focos”, resume Steagall.


Outros eixos

O programa da palma faz bem mais do que dizer onde plantar. Ele é um instrumento que o governo federal espera usar a favor da agricultura familiar. O MDA está tentando resolver um problema crônico na região amazônica: a ocupação irregular da terra. O ministério está priorizando os agricultores das áreas aptas ao cultivo do dendê nas ações do Programa Terra Legal, iniciativa desenvolvida para ajudar os pequenos agricultores e comunidades tradicionais a obterem a posse definitiva das terras que ocupam. “Já temos 4 mil agricultores cadastrados, diagnosticados e georreferenciados, prontos para assinarem contratos com as empresas” comemora o diretor de geração de renda e agregação de valor do MDA, Arnoldo de Campos.

Em termos de renda projetada para os agricultores familiares, a palma é um bom negócio. “Os agricultores cujas plantações já atingiram a maturidade têm obtido uma renda mensal em torno de R$ 2 mil. Não tenho dúvidas de que esse é o melhor caso de geração de renda entre as oleaginosas no Brasil”, continua Campos. É um salto e tanto quando comparado aos R$ 415 mensais que o ministério levantou entre os trabalhadores rurais do nordeste do Pará. Essa renda extra pode criar uma alternativa econômica que reduza a tentação da extração ilegal de madeira.

Mas esse negócio pode vir a ter um lado menos atraente na forma de concentração fundiária. Ao menos é nessa direção que Miccolis, da PUC, aponta: “Essa é uma preocupação e já temos alguns exemplos de como a produção de oleaginosas colabora para a concentração fundiária. Isso acontece porque os grandes projetos aumentam o valor da terra e isso pressiona as populações tradicionais”.

Fora isso, a Embrapa recebeu um polpudo aporte de R$ 60 milhões para expandir o domínio tecnológico sobre a planta. Segundo o chefe geral da Embrapa Agroenergia, Frederico Durães, a estatal vem trabalhando com o aprimoramento do dendê desde os anos 80 e, há poucos meses, introduziu comercialmente uma cultivar hibrida entre a palma africana (Elais guineenses) e uma prima nacional (Elaeis oleifera) chamada BRS Manicoré, que iguala a produtividade da espécie africana mas é mais resistente ao amarelecimento fatal – anomalia que mata a palma africana pura. O próximo passo, segundo Durães, é investir no aumento da produção de sementes, com a meta de disponibilizar 2,6 milhões de sementes este ano. E isso é só o começo. “Estamos investindo em uma biofábrica com capacidade para 5 milhões de sementes por ano e já começamos entendimentos com a iniciativa privada para expandir ainda mais essa capacidade produtiva”, continua.

O importante aqui é que, mesmo que o biodiesel de palma não se torne uma realidade, a indústria do biodiesel fica um pouco menos exposta aos altos e baixos da excessivamente volátil cotação da soja. Além disso, no fundo, para quem está plantando palma não faz assim tanta diferença se o óleo que eles estão produzindo será ou não absorvido para a produção de biodiesel. O mercado alimentar e oleoquímico são grandes o bastante para justificar os investimentos e podem garantir que a cadeia da palma acabe durando até mais que o próprio PNPB. “Quando você planta palma, você precisa pensar no longo prazo porque a planta fica produtiva por 25 anos. Quando olho para 2050 não consigo imaginar que não tenha surgido uma alternativa ao biodiesel, mas o mercado de óleos vegetais deve continuar aquecido”, arremata Steagall.