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Preço nos leilões: a questão da soja


Edição de Dez 2010 / Jan 2011 - 15 dez 2010 - 11:10 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 11:27
A questão da soja
Outro fator que poderia ajudar a explicar os preços no 19º leilão era a cotação da soja, que até meados do ano andou quietinha pela faixa dos R$ 1.700 em São Paulo (valor por tonelada e com 12% de ICMS). Somado a um câmbio padrasto para os exportadores, isso pode ter alimentado a impressão de que o acesso ao óleo não seria problema. Engano crasso. Nem bem o leilão havia terminado, o óleo bruto voltou a subir e, em outubro, ficou em R$ 2.195, o que, certamente, não é boa notícia para quem vendeu grandes volumes de biodiesel a preços camaradas e sem proteção e nem para quem pudesse estar planejando repetir a dose.

E nada indica que os preços da soja devam dar um refresco. “A China é, de longe, o maior mercado de nossa soja, e a projeção para o crescimento chinês é de 8%. A crise está afetando mais os países ricos, mas o efeito disso sobre o consumo de alimentos é baixo porque comida é o último lugar onde as pessoas cortam. Então, a demanda está longe de cair”, explica o economista da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Furlan.

Seria precipitado afirmar que as empresas que venderam a preços baixos estejam amargando prejuízos. A estrutura de preços do biodiesel é um assunto sobre o qual os empresários não gostam de falar nem com a própria família. Mesmo assim, o prognóstico coletivo oferecido pelas usinas diverge dessa teoria. O diretor-presidente da Oleoplan, Irineu Boff, disse que o biodiesel “se tornou um mau negócio” por causa dos preços do leilão 19. E a diretora da Granol, Paula Regina Ferreira, afirma que a indústria como um todo deverá ter prejuízos no último trimestre do ano, que só não se tornarão aparentes porque ficarão “mascarados no resultado anual, compensados pela margem positiva de 2010”.

Os resultados financeiros das empresas podem dar uma pista sobre essas divergências de rentabilidade. Segundo o jornal Valor Econômico, a Granol enfrentou “sérios problemas financeiros no início da década”, mas depois do surgimento do mercado de biodiesel praticamente triplicou de tamanho.


Frotas

Por tudo isso, ainda deve levar um bom tempo até que o biodiesel consiga competir com o diesel mineral em termos de preço. Mesmo assim, o patamar obtido no 19º leilão animou uma porção de gente que andava esperando um horizonte mais favorável.

Esse é o caso, por exemplo, da B100 Participações, empresa que desenvolve um projeto de uso de biodiesel nos ônibus da Viação Itaim Paulista (VIP) na cidade de São Paulo. Segundo o vice-presidente da companhia, Paulo Mendes, na fase de testes a frota rodou um total de 158 milhões de quilômetros usando B30. No dia 7 de abril passado, a companhia conseguiu uma autorização da ANP para ser a primeira do país a rodar fazendo uso cativo do B20. “Ainda estamos fazendo adaptações, mas logo devemos começar a usar B20 em 2.000 ônibus, com possibilidade de chegarmos a 4.000”, diz. Nas estimativas de Mendes, com 2.000 carros nas ruas a VIP passaria a consumir 1,3 milhão de litros de biodiesel por mês.

O número dá uma boa dica de como as grandes frotas poderiam criar um enorme mercado adicional, mas para abri-lo é preciso trazer os preços do biodiesel mais para perto dos do diesel comum. “O custo do biodiesel ameaçava a viabilidade econômica desse projeto, por isso estávamos aguardando com muita ansiedade sua queda”, avalia Mendes.

O mercado de frotas agrícolas é até mais promissor porque, além de grande, ele tende a ficar longe das refinarias de diesel fóssil e na vizinhança onde a maioria das usinas de biodiesel está instalada. Convencer esse mercado a adotar misturas maiores seria uma grande vitória.