Competitividade: Biodiesel regional
Núria Saldanha, de São Paulo
Em um país de dimensão continental como o Brasil, gastos com frete têm grande impacto nos preços de qualquer produto que precise chegar a qualquer lugar, do Oiapoque ao Chuí. Até o momento, grande parte dos investidores do setor de biodiesel entenderam que a melhor equação era construir usinas próximas à produção de matéria-prima. Mas essa situação de mercado pode mudar. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já declarou que pretende deixar de realizar os leilões de biodiesel após a definição do marco regulatório dos biocombustíveis. No cenário de livre comercialização, a produção regionalizada, ou seja, a concentração de todas as operações dentro do próprio Estado ou região, pode, no fim das contas, reduzir custos e aumentar a competitividade das usinas. No entanto, esta não é uma solução para todos os casos.
Atualmente o setor transporta com dificuldade cerca de 2,4 bilhões de litros de biodiesel por ano pelas rodovias do Brasil. Uma produção que percorre, em média, 1.403 quilômetros das usinas até o consumidor. Os custos desses longos deslocamentos ainda não entraram na contabilidade das usinas, isto porque, desde que o setor nasceu, em 2005, o leilão é FOB e o frete é suportado pelas distribuidoras.
Devido à maneira com que o mercado de biodiesel foi organizado no princípio, as indústrias optaram por instalar suas unidades no interior do país, em regiões agrícolas, especialmente produtoras de soja, e longe dos centros de consumo. Não é à toa que a maior parcela das usinas está concentrada na região Centro-Oeste, principalmente em Mato Grosso. É desta região que vem o maior volume de biodiesel comercializado no país. Das 44 usinas que participaram dos leilões da ANP nos três primeiros trimestres deste ano, 14 são do Mato Grosso, que respondeu por mais de 25% das vendas.
Uma destas indústrias é a Cooperbio. Localizada na capital do principal Estado produtor de soja do país, a empresa não tem dificuldade para encontrar matéria-prima e desconhece os trajetos que o produto faz até os pontos de consumo. “A gente vende o biodiesel através dos leilões da ANP, entrega na porta da usina e depois dali não temos conhecimento da logística até o consumidor”, diz o diretor da indústria, João Luiz Ribas Pessa. Como a oferta é mais robusta no Centro-Oeste e a lei da mistura precisa ser cumprida, as distribuidoras rodam longas distâncias para buscar o produto e o custo é repassado ao consumidor.
Mercado livre
De acordo com a União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), a liberação do mercado deverá reduzir o percurso e os gastos com a logística do biodiesel. “No futuro, num cenário de mercado livre, isso pode ser otimizado em termos logísticos. Vai ser possível aproximar as distâncias num cenário em que a produtora de biodiesel vende direto para distribuidoras quando a Petrobras sair desse modelo de leilões”, diz o diretor executivo da entidade, Sérgio Beltrão. Segundo ele, já se tem notícia de que a ANP e o governo estão discutindo internamente sobre o mercado livre de biodiesel, mas o setor ainda não foi convocado para conversar. “A Ubrabio ainda não foi chamada para discutir o novo modelo, mas gostaríamos de participar”, declara Beltrão.
Ao ser questionado sobre um possível mercado livre, o diretor da Cooperbio diz que a situação das usinas ficaria difícil. “Seria um complicador. Apesar de termos a vantagem da matéria-prima mais barata pela proximidade com a indústria, teria a desvantagem de entregar o produto final nos mercados do Sul e do Sudeste, os maiores consumidores, e arcar com o frete”, conclui Pessa.
Mesmo quem tem localização privilegiada, tanto próxima à matéria-prima como ao consumo, receia as mudanças. “O mercado vai ficar mais disputado. Com o mercado livre vai ser preciso rever os custos e apostar em novas matérias- primas mais rentáveis, vai ser preciso fugir da soja”, ressalta Heitor Mariano Gobbi Barbosa, coordenador de projetos da Fertibom. A usina está situada em Catanduva (SP), região rodeada por cidades importantes de São Paulo e do sul de Minas Gerais, e perto das bases da Petrobrás no Triângulo Mineiro. A produção de biodiesel da empresa é feita com soja, sebo bovino e amendoim, que estão no máximo a 60 quilômetros da usina.
Aproximar a indústria das regiões de grande consumo diminui o desgaste logístico, mas talvez não seja a melhor solução. É o que acredita o diretor de abastecimento e regulamentação do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Fábio Bittencourt Marcondes. “Em qualquer país, é muito pouco provável ter produção junto à demanda porque o custo imobiliário é muito alto nessas regiões”. Marcondes diz ainda que a dificuldade é acentuada devido à infra-estrutura deficitária de estradas, ferrovias e portos no Brasil. “O ideal é uma malha ferroviária, rodoviária e de dutos que fizesse com que os problemas com a logística fossem minimizados”, propõe.
O diretor do Sindicom vai além para dizer que não faz sentido o produtor se fixar perto da demanda. “Imagine o seguinte: a demanda para biodiesel é boa no Rio de Janeiro, mas não tem como plantar soja por perto. O que vai fazer? Vai trazer soja do Centro- -Oeste de caminhão para o Rio de Janeiro? Não faz sentido”.
Em um país de dimensão continental como o Brasil, gastos com frete têm grande impacto nos preços de qualquer produto que precise chegar a qualquer lugar, do Oiapoque ao Chuí. Até o momento, grande parte dos investidores do setor de biodiesel entenderam que a melhor equação era construir usinas próximas à produção de matéria-prima. Mas essa situação de mercado pode mudar. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já declarou que pretende deixar de realizar os leilões de biodiesel após a definição do marco regulatório dos biocombustíveis. No cenário de livre comercialização, a produção regionalizada, ou seja, a concentração de todas as operações dentro do próprio Estado ou região, pode, no fim das contas, reduzir custos e aumentar a competitividade das usinas. No entanto, esta não é uma solução para todos os casos.
Atualmente o setor transporta com dificuldade cerca de 2,4 bilhões de litros de biodiesel por ano pelas rodovias do Brasil. Uma produção que percorre, em média, 1.403 quilômetros das usinas até o consumidor. Os custos desses longos deslocamentos ainda não entraram na contabilidade das usinas, isto porque, desde que o setor nasceu, em 2005, o leilão é FOB e o frete é suportado pelas distribuidoras.
Devido à maneira com que o mercado de biodiesel foi organizado no princípio, as indústrias optaram por instalar suas unidades no interior do país, em regiões agrícolas, especialmente produtoras de soja, e longe dos centros de consumo. Não é à toa que a maior parcela das usinas está concentrada na região Centro-Oeste, principalmente em Mato Grosso. É desta região que vem o maior volume de biodiesel comercializado no país. Das 44 usinas que participaram dos leilões da ANP nos três primeiros trimestres deste ano, 14 são do Mato Grosso, que respondeu por mais de 25% das vendas.
Uma destas indústrias é a Cooperbio. Localizada na capital do principal Estado produtor de soja do país, a empresa não tem dificuldade para encontrar matéria-prima e desconhece os trajetos que o produto faz até os pontos de consumo. “A gente vende o biodiesel através dos leilões da ANP, entrega na porta da usina e depois dali não temos conhecimento da logística até o consumidor”, diz o diretor da indústria, João Luiz Ribas Pessa. Como a oferta é mais robusta no Centro-Oeste e a lei da mistura precisa ser cumprida, as distribuidoras rodam longas distâncias para buscar o produto e o custo é repassado ao consumidor.
Mercado livre
De acordo com a União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), a liberação do mercado deverá reduzir o percurso e os gastos com a logística do biodiesel. “No futuro, num cenário de mercado livre, isso pode ser otimizado em termos logísticos. Vai ser possível aproximar as distâncias num cenário em que a produtora de biodiesel vende direto para distribuidoras quando a Petrobras sair desse modelo de leilões”, diz o diretor executivo da entidade, Sérgio Beltrão. Segundo ele, já se tem notícia de que a ANP e o governo estão discutindo internamente sobre o mercado livre de biodiesel, mas o setor ainda não foi convocado para conversar. “A Ubrabio ainda não foi chamada para discutir o novo modelo, mas gostaríamos de participar”, declara Beltrão.
Ao ser questionado sobre um possível mercado livre, o diretor da Cooperbio diz que a situação das usinas ficaria difícil. “Seria um complicador. Apesar de termos a vantagem da matéria-prima mais barata pela proximidade com a indústria, teria a desvantagem de entregar o produto final nos mercados do Sul e do Sudeste, os maiores consumidores, e arcar com o frete”, conclui Pessa.
Mesmo quem tem localização privilegiada, tanto próxima à matéria-prima como ao consumo, receia as mudanças. “O mercado vai ficar mais disputado. Com o mercado livre vai ser preciso rever os custos e apostar em novas matérias- primas mais rentáveis, vai ser preciso fugir da soja”, ressalta Heitor Mariano Gobbi Barbosa, coordenador de projetos da Fertibom. A usina está situada em Catanduva (SP), região rodeada por cidades importantes de São Paulo e do sul de Minas Gerais, e perto das bases da Petrobrás no Triângulo Mineiro. A produção de biodiesel da empresa é feita com soja, sebo bovino e amendoim, que estão no máximo a 60 quilômetros da usina.
Aproximar a indústria das regiões de grande consumo diminui o desgaste logístico, mas talvez não seja a melhor solução. É o que acredita o diretor de abastecimento e regulamentação do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Fábio Bittencourt Marcondes. “Em qualquer país, é muito pouco provável ter produção junto à demanda porque o custo imobiliário é muito alto nessas regiões”. Marcondes diz ainda que a dificuldade é acentuada devido à infra-estrutura deficitária de estradas, ferrovias e portos no Brasil. “O ideal é uma malha ferroviária, rodoviária e de dutos que fizesse com que os problemas com a logística fossem minimizados”, propõe.
O diretor do Sindicom vai além para dizer que não faz sentido o produtor se fixar perto da demanda. “Imagine o seguinte: a demanda para biodiesel é boa no Rio de Janeiro, mas não tem como plantar soja por perto. O que vai fazer? Vai trazer soja do Centro- -Oeste de caminhão para o Rio de Janeiro? Não faz sentido”.