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As diferenças nos dados de produção, entrega e retirada de biodiesel


Edição de Ago / Set de 2010 - 15 ago 2010 - 11:39 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 11:59
Diferença
Os dados da própria ANP mostram que há sim uma diferença significativa entre o total vendido nos leilões e o total efetivamente entregue pelas usinas. Em 2009, somente 95,83% dos 1,54 bilhão de litros negociados pela agência chegaram aos tanques das distribuidoras – uma diferença de 64 milhões de litros. Em 2008, apenas 71% do combustível vendido foi realmente entregue. Ou seja: de 1,047 bilhão de litros, apenas 740 milhões foram parar nos tanques.

Para mostrar o problema mais de perto, é possível analisar um leilão apenas. Pegando os dados do 16º leilão, revelados após a emissão da portaria nº 50, do Ministério das Minas e Energia, tem-se a seguinte informação: das 40 usinas que conseguiram vender biodiesel na ocasião, em novembro de 2009, foram 31 as que apresentaram diferenças entre o volume produzido e o volume entregue. Ou seja: 77,5% dos casos apresentaram discrepância; e em apenas 22,5% tudo correu conforme o esperado.

Em alguns casos, a diferença entre o vendido e o entregue foi bastante significativa. Cooperbio, Biopar (PR) e Fertibom, que aparecem no topo das usinas que mais enfrentaram disparidade, produziram, respectivamente, 1,49 milhão, 1,15 milhão e 1,15 milhão de litros de biodiesel a mais do que entregaram.

O problema inverso também existe: usinas que entregaram bem mais combustível do que produziram no período. As usinas que tiveram maior diferença, neste caso, foram Bioverde, Granol (GO) e Biocapital. A usina da Bioverde produziu apenas 45% do biodiesel entregue, o que representou um déficit de 9,6 milhões de litros. A Granol de Goiás produziu 7,7 milhões de litros a menos do que entregou; a Biocapital, 5,8 milhões de litros de biodiesel a menos.

Talvez tudo não passe de um problema na acuidade dos dados. É o caso da situação da usina da Innovatti, de Mairinque (SP), que estreou no mercado vendendo 2,16 milhões de litros no 16º leilão. A unidade não aparece nas estatísticas de produção da ANP, mas figura entre as usinas que entregaram biodiesel, com 1,87 milhão de litros entregues no primeiro trimestre. Questionada sobre o assunto, a ANP diz que o erro foi da empresa, que teria informado de maneira equivocada seus dados, o que será retificado em breve.

É claro que a culpa não é só das distribuidoras. E, nesse ponto, sobram críticas às usinas. Em 2008, por exemplo, a responsabilidade por parte da diferença entre entregas e vendas seria de usinas que tiveram dificuldades para entregar combustível em 2007. “Em 2007, nós antecipamos a entrega de 15 milhões de litros em dezembro, para cobrir a inadimplência de outras usinas”, conta Paula Regina Gomes Cadette Ferreira, diretora financeira da Granol. Segundo Paula, a empresa nunca teve problemas com o cumprimento dos contratos com as distribuidoras. “Os contratos foram cumpridos 100%. Tem faixa de desvio de 10%, mas o histórico para nós é positivo. Não houve nenhuma entrega abaixo do valor”, explica.

Consultada pela reportagem sobre o assunto, a Ubrabio afirmou que “não tem conhecimento sobre divergências na retirada do biodiesel”. “Desta forma, se existirem problemas, são casos pontuais”, afirmou a instituição em nota enviada à revista BiodieselBR. Para a entidade, “os acordos firmados decorrentes das compras e vendas nos leilões da ANP devem ser cumpridos em todos os termos contratuais por todas as partes envolvidas. Inclusive, os contratos prevêem pesadas multas para penalização dos descumprimentos.”