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Debate sobre aumento da mistura deve ir além do preço do biodiesel


Edição de Ago / Set de 2010 - 15 ago 2010 - 08:26 - Última atualização em: 22 dez 2011 - 17:07
Editorial

O elevado preço do biodiesel, quando comparado ao diesel, é o principal entrave para o aumento no uso deste biocombustível. Apesar de o Brasil ter aceitado esse custo até o momento, com misturas maiores a conta fica pesada demais.

No final deste mês acontece o 19º leilão da ANP e as usinas deverão reduzir o valor final do biodiesel com mais intensidade. O novo patamar de preço deve facilitar a entrada em vigor do B6, B7 ou B10, garantindo menor ociosidade das usinas.

Com o consumo travado no B5 e o início de operação de novas usinas, o preço deverá cair naturalmente. Mas enquanto as usinas precisam de aumento na mistura para manterem boas margens de lucro com mais ocupação, o governo teme que o incremento para B6, B7 ou B8 provoque o retorno do equilíbrio entre oferta e demanda, pressionando os preços para cima.

Na atual sistemática de formação de preço máximo por parte da ANP, a ociosidade na cadeia produtiva representa parte fundamental no preço final do biodiesel que chega aos consumidores. Uma medida provisória que obrigasse novos Bs sem que fossem balanceados com cuidado a ociosidade das usinas, o preço máximo e o início de funcionamento de novos projetos pode ser desastrosa para a economia brasileira e para o próprio biodiesel, especialmente na questão da eficiência no médio e longo prazo.

Isso não significa que o aumento da mistura obrigatória não deva acontecer, mas o debate em torno do assunto precisa evoluir além da questão do preço apenas. São necessários ajustes na formação do preço para que, caso tenhamos novamente oferta e demanda equivalentes, a eficiência volte a ser a meta primordial das unidades de produção. Sem falar nos incentivos às matérias-primas alternativas à soja e a inclusão social, que precisam estar no centro do debate sobre a elevação da mistura.

O preço máximo do biodiesel definido pelo governo, junto com a sistemática de leilões, foi um dos principais responsáveis até aqui pela grande diferença entre o valor do óleo de soja e o preço médio do biodiesel. Esta situação gerou uma sobreoferta industrial, a qual está justamente pressionando o governo a aprovar novas misturas de biodiesel e desta forma perder a oportunidade de vincular o crescimento no uso do biocombustível com as metas nobres do PNPB definidas em 2004. Se for aprovada uma medida provisória para novos Bs sem que sejam consideradas alterações ou previsão de mudanças no que tange à agricultura familiar ou ao estímulo a novas oleaginosas, perderemos uma oportunidade histórica.

Este seria o começo do fim das metas iniciais do PNPB, e o biodiesel seguiria o caminho trilhado pelo setor sucroalcooeiro: o caminho da concentração de renda.

Julio Cesar Vedana
Diretor de Redação