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Armazenamento: lente de aumento nos problemas


Edição de Ago / Set de 2010 - 15 ago 2010 - 12:04 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 11:58
Lente de aumento
Segundo especialistas, outra questão que pode estar relacionada com o aumento da quantidade de borra gerada nos tanques subterrâneos dos postos é a característica detergente do biodiesel. A adição de maior percentual de biodiesel pode contribuir para dissolver sedimentos de origem química do próprio diesel acumulados nos tanques. “O biodiesel não é o vilão. Ele acaba funcionando como uma lente de aumento para os problemas que sempre existiram”, diz Cavalcanti.

Cavalcanti diz que muitos postos não fazem o correto manuseio do produto de acordo com a norma da ABNT NBR 15512, publicada em março de 2008, que trata do armazenamento, transporte, abastecimento e controle da qualidade de biodiesel e/ou mistura de óleo diesel/biodiesel. Ou por desinformação ou mesmo para evitar gastos adicionais com limpeza e troca de equipamentos.

“O biodiesel é um ‘bicho’ diferente. Muitas vezes falta informação para que a revenda possa prevenir tais problemas”, diz Marcondes, do Sindicom. Com percentuais maiores de mistura de biodiesel, a norma recomenda que os postos façam drenagem e limpeza dos tanques com uma freqüência maior. “Eles não querem parar tudo e colocar um funcionário com uma galocha para limpar o tanque. Isso significa prejuízo para os postos, que trabalham com margem estreita de lucro”, diz Cavalcanti. A ANP diz que a adoção da norma, apesar de ser indispensável para garantir a qualidade do combustível, tem caráter voluntário.

O diretor de Postos de Rodovia da Fecombustíveis, Ricardo Hashimoto, defende a categoria dizendo que os problemas têm acontecido mesmo quando todas as precauções são tomadas. “Mas até mesmo isso tem sido insuficiente”. Ele conta que itens do sistema de armazenamento e bombeamento estão sendo trocados com uma freqüência maior. “Antes era uma vez por mês, agora é a cada 15 dias e, em alguns casos, uma vez por semana”, diz.

As bombas também têm elementos filtrantes, que se não forem limpos diminuem a vazão do combustível. “Nunca ouvi que tinha que trocar esses filtros. Até porque ele é lacrado, aferido pelo Inmetro e Ipem, só pode ser feito por um técnico com credencial dos órgãos metrológicos”. Hashimoto diz que logo antes da vigência do B2 foi recomendado que os postos limpassem seus tanques, “mas depois disso não houve esclarecimentos sobre a freqüência correta de limpeza. A norma não diz isso”, informa.

A limpeza dos tanques subterrâneos, em geral com capacidade para 30 mil litros, envolve uma logística que, dependendo do movimento do posto, pode se tornar mais difícil. Hashimoto explica que tem que interromper a operação por um tempo, drenar o combustível, desmontar todo o sistema de armazenamento e bombeamento, inertizar o tanque etc. Segundo ele, tudo isso pode custar até R$ 2.500 e precisa ser feito apenas por empresas homologadas. “Não é uma lavagem corriqueira. Teve casos em que precisaram ser usados até produtos anti-bactericidas”. Esse é outro problema, pois ainda não há nada na legislação que permita usar tais produtos.

Os revendedores ainda temem prejuízos maiores, como a cassação da licença de funcionamento decorrente da venda de um combustível fora das especificações. “A Fecombustíveis não é contra o biodiesel. Mas um segmento da cadeia não pode ser penalizado sozinho”, defende o diretor.

Quanto a uma coisa, pelo menos, todos concordam. A norma da ABNT precisa de revisão. “Assim como foi feito com o etanol, vamos discutir e trocar experiências para poder introduzir melhores práticas”, diz Marcondes, do Sindicom.

No final de junho, em resposta aos problemas apresentados pelo diversos agentes do segmento, a ANP solicitou à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), foro nacional de normalização, a criação de um grupo de trabalho para revisão da norma NBR 15512, com o objetivo de aperfeiçoar os procedimentos. A primeira reunião aconteceu no dia 22 de julho no Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), no Rio de janeiro. “Muitos setores participarão desta revisão e será a oportunidade de esclarecer algumas dúvidas, o que com certeza contribuirá para a qualidade dos combustíveis ao longo da cadeia, do produtor ao consumidor final”, diz Fátima.

Para mais informações sobre armazenamento e estocagem e os cuidados necessários para prevenir a absorção de água pelo biodiesel, acesse: www.biodieselbr.com/tag/armazenamento