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Óleo de cozinha - Prioridade: organização


Edição de Ago / Set de 2010 - 15 ago 2010 - 14:01 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 12:21
Empresas e entidade que trabalham com coleta e reciclagem de óleo de cozinha começam a se organizar nacionalmente e criar uma pauta comum de reivindicações

Alice Duarte, de Curitiba

Impulsionadas pelo mercado de biodiesel e pela maior conscientização ambiental, iniciativas de coleta e reciclagem de óleo de cozinha usado, sejam encabeçadas por cooperativas, ONGs ou pela iniciativa privada, multiplicam-se Brasil afora. Mão-de-obra e oferta de matéria-prima não falta. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleo (Abiove), o Brasil consome por ano 4,5 bilhões de litros de óleo de soja. De acordo com o Instituto PNBE de Desenvolvimento Social, cerca de 3,4 bilhões de litros são transformados em óleo de cozinha e metade disso sobra como resíduo, indo parar em rios e lagos ou, quando muito, em aterros sanitários. Os 1,7 bilhão de litros descartados seriam o suficiente para incrementar a adição de biodiesel no diesel em até 4%, sem a necessidade de recorrer a outras oleaginosas. Sem falar que nessa conta não estão inclusos outros óleos, como de girassol, milho, canola e dendê.

Sem maior engajamento do poder público nessa questão, grande parte das iniciativas de coleta e reciclagem, pulverizadas aqui e ali, trabalham sozinhas e de forma desarticulada para dar conta de todo esse resíduo. Enquanto isso, o governo parece ignorar que um problema dessa magnitude é ao mesmo tempo uma oportunidade rentável de matéria-prima, de geração de emprego e renda, e de despoluição do meio ambiente.

Mas agora esse panorama pode mudar com o início da organização desse potencial e promissor mercado. Pode-se dizer que o pontapé inicial foi a criação da Associação Brasileira para Sensibilização, Coleta e Reciclagem de Resíduos de Óleo Comestível (Ecóleo), fundada há pouco mais de um ano. Segundo a presidente, Célia Marcondes, a entidade surgiu da necessidade de reunir e requalificar todas as organizações coletoras, beneficiadoras, usinas, ONGs, associações e iniciativas isoladas.

A Ecóleo começou a se formar após o sucesso do projeto de coleta porta em porta lançado em 2007 no Cerqueira César, bairro nobre da capital paulista. Contando com a parceria da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, foi iniciado um trabalho em condomínios, bares e restaurantes da região. Já no segundo ano do projeto, a Sabesp constatou uma redução de 26% no número de desobstruções nas tubulações de esgoto na região da campanha. A adesão hoje ao projeto é de 100% dos edifícios (1.600 condomínios).

A iniciativa ganhou ampla repercussão nacional, fazendo com que a população e coletadores de diversas regiões do Brasil procurassem a ONG para obter mais informações sobre o projeto. “Foi aí que percebemos a necessidade de organização, qualificação e ampliação da coleta. Juntamos os coletadores interessados, os ambientalistas engajados e criamos a entidade”, diz a presidente.

Hoje a Ecóleo vem desenvolvendo um trabalho em nível nacional. Em São Paulo, atua em três regiões metropolitanas (São Paulo, Santos e Campinas) e em mais de 60 municípios paulistas. Também representa organizações da região do sul de Minas Gerais, sul fluminense, norte do Paraná e ações isoladas em 12 Estados brasileiros.

Mapa da coleta
O último dia 9 de junho foi um marco importante para o segmento. Todas as questões que interessam aos envolvidos na atividade puderam ser debatidas no 1º Seminário sobre Coleta e Reciclagem de Óleo Vegetal, onde foi apresentado o “Mapa da Coleta e Reciclagem do Óleo no Estado de São Paulo”. O evento, promovido pela Ecóleo e pela Sabesp, reuniu na capital paulista pesquisadores, consultores, empreendedores e comunidade acadêmica de vários cantos do país, que puderam conhecer alguns casos de sucesso. “Sem dúvida o evento foi muito proveitoso. Veio gente do Brasil todo e pudemos trocar experiências”, diz Gerard Eysink, gestor de produtos perecíveis do grupo Carrefour, que também possui um programa de reciclagem e produção de biodiesel (veja box).

Durante o evento, a Ecóleo apresentou o resultado do inventário sobre a coleta no Estado, trabalho que mapeou as ações, a quantidade coletada, o número de trabalhadores no setor, o destino do óleo, as formas de coleta e reciclagem e a logística. Tudo foi realizado em parceria com associações, sindicatos, empresas, órgãos públicos e prefeituras.

De acordo com o levantamento, São Paulo é o primeiro Estado a ter disponibilidade de coleta em todos os 645 municípios. Segundo a associação, a Grande São Paulo conta com o maior programa de reciclagem do país. Na cidade, 98% dos bares e restaurantes destinam o óleo a alguma empresa recicladora e cada vez mais aumenta a adesão de condomínios. Só nessa região a coleta atualmente já soma mais de 1,7 milhão de litros de óleo por mês (20,4 milhões de litros ao ano) – quantidade 70% maior que no ano anterior. O cálculo está baseado na coleta das 12 maiores empresas de reciclagem de óleo do Brasil, associadas à Ecóleo. Essas empresas, por sua vez, compram de ONGs, cooperativas e catadores, o que faz com que o número represente mais de 90% das organizações coletoras deste resíduo. Segundo Célia Marcondes, a meta é dobrar esse número em um ano.

Ainda de acordo com a sondagem, em todo país são 130 organizações beneficiadoras do óleo de cozinha, que coletam 6 milhões de litros por mês e geram mais de 3 mil postos de trabalho. Cerca de 60% das organizações estão concentradas na região Sudeste.

A associação também está mapeando iniciativas de coleta de óleo na região Nordeste e Norte. “A idéia é fortalecer uma rede nacional de coleta com o objetivo de gerar renda, trabalho e proteger as nossas águas”.