PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
018

Camera: tradição gaúcha


Edição de Ago / Set de 2010 - 15 ago 2010 - 13:50 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 12:03
Camera Agroalimentos investe R$ 30 milhões para construir usina no noroeste gaúcho. Com base na produção de agricultores familiares, fábrica terá condições de vender até 144 milhões de litros a cada ano. Para isso, pretende trabalhar sete dias por semana, em cinco turnos

Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba

A indústria de biodiesel brasileira está ganhando mais um peso pesado. O Rio Grande do Sul, que já é um dos maiores produtores de biocombustível do país, passou a contar com a presença da Camera Agroalimentos S.A., uma indústria tradicional ligada à agricultura, no setor. Com base no noroeste gaúcho, a empresa tem 39 anos de história e atua principalmente com oleaginosas (como soja, canola e girassol) e cereais. Agora, a empresa decidiu que era hora de dar um novo passo e transformar essas plantas em energia.

A Camera não é propriamente a produtora, mas sim a fomentadora da produção em sua área de negócios. A empresa fecha contratos com agricultores familiares, fornece desde as sementes até o apoio técnico e depois compra a produção. Toda a estrutura do negócio já está montada: são 40 técnicos espalhados pelo campo, tomando conta dos produtores que trabalham em diversos municípios da região.

O biodiesel parece uma opção natural para a Camera. Em primeiro lugar, porque a empresa já tem negócios bastante diversificados. Vende os grãos, vende farelo, atua na industrialização e venda de óleo - especialmente de soja e de canola - e quer cada vez multiplicar mais as suas opções, para sempre ter possibilidade de apostar, a cada safra, nos investimentos que se mostrarem mais favoráveis.

O segundo fator propício é a própria seleção de produtos com que a empresa já conta. A soja deverá ser a base da nova indústria de biodiesel. No entanto, outras plantas como a canola e o girassol poderão ser utilizadas, dependendo de quanto elas puderem render em outros mercados e de sua rentabilidade no mercado de biodiesel.

Quer mais um bom motivo? A própria estrutura de negócios da empresa, baseada em agricultura familiar, ajuda a idéia de partir para o negócio do biodiesel. A obtenção do Selo Combustível Social, destinado a quem trabalha com pequenos agricultores, parece mais fácil para quem já atua desta maneira. “Temos hoje atuação com 16 mil pequenos produtores”, afirma Roberto Kist, diretor industrial e de planejamento da empresa. “Só tivemos que fazer adaptações para nos adequar às regras do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)”, explica.


Relacionamento modelo

Kist quer que a Camera seja uma empresa modelo para o MDA no relacionamento com os agricultores. “Já temos a experiência. Nós fomentamos a safra. Se o agricultor gosta de plantar canola, compramos a canola. Se prefere a soja, ficamos com a soja. Se plantou arroz, também compramos”, relata. Esse relacionamento se garante, aponta, porque a empresa tem uma atuação diversificada e consegue dar destinação a todos os produtos que recebe. O que chega nos pontos de atuação da Camera vira ração, produtos alimentícios, óleo bruto, grão, farelo e insumos agrícolas.

Ao fechar o contrato com os produtores rurais, a Camera acerta o fornecimento, seis vezes ao ano, de sementes, insumos, assistência técnica e até mesmo diesel. É uma fórmula que deve permitir que a empresa não tenha os mesmos problemas que outros concorrentes do setor do biodiesel tiveram. “Já temos uma equipe em campo fazendo a assistência técnica. Não vamos ter problemas com isso porque já fazemos esse trabalho há 40 anos”, completa Kist.

Tomada a decisão de entrar no mercado de biodiesel, o principal passo foi construir a usina. Essa fase terminou na virada de julho para agosto. Foram necessários investimentos de R$ 30 milhões. A unidade foi feita para produzir até 400 mil litros de combustível por dia. Em um ano, a capacidade é de 144 milhões de litros. “Decidimos investir no setor em 2009. Notamos que precisávamos entrar no biodiesel para segurar a competitividade”, revela Kist.

Atingir esse número não será fácil: a empresa prevê que a usina funcionará em tempo integral, sete dias por semana. Serão cinco turnos diários de trabalho durante todo o ano. A boa notícia é que tanto esforço poderá ser importante para o mercado de trabalho local. Se a construção da usina já gerou 400 empregos na cidade, a operação da fábrica exigirá mais 200 trabalhadores. No total, o cálculo da Camera é que a usina deve acrescentar à região de Ijuí mais R$ 40 milhões em riquezas ao ano.