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B100 - O desafio do motor verde - 100% biodiesel


Edição de Ago / Set de 2010 - 15 ago 2010 - 11:35 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 11:50
O desafio do Motor Verde
Um dos grandes interesses das empresas que se envolveram no projeto que utiliza o B100 em uma frota de ônibus de Curitiba é saber como o motor dos veículos vai se comportar ao receber o combustível verde. “O biodiesel tem semelhanças, mas também tem diferenças em relação ao diesel fóssil. Essas diferenças podem danificar o motor se você não prestar muita atenção na manutenção”, afirma Alexandre Parker, responsável pelos assuntos governamentais e institucionais da Volvo do Brasil. Segundo ele, ao longo da realização dos testes notou-se que o B100 estava dissolvendo a cola dos filtros de combustível dos veículos. A situação ocorreu em dois carros e foi solucionada com a utilização de um filtro especial desenvolvido pela montadora.

Na garagem também foram constatadas algumas particularidades do biodiesel. De acordo com José Carlos Travain, gerente de manutenção da Redentor, uma das empresas que opera a Linha Verde, a limpeza nos tanques que operam com B100 teve que ser intensificada. Notou-se a formação de um depósito viscoso no fundo dos reservatórios, tanto dos ônibus quanto dos tanques que estocam o biodiesel para o abastecimento dos veículos.

A formação de uma “borra” como esta é normal em veículos movidos a diesel, mas mostrou-se bem mais intensa nos veículos que operam com biodiesel. Segundo Travain, estabeleceu-se a necessidade de drenar regularmente este material para evitar o entupimento das bombas de injeção.

Outra situação peculiar observada pelo gerente de manutenção da Cidade Sorriso, Eduardo Tows, é o fato do biodiesel possuir característica higroscópica. “Ele acumula muita água”, diz. Segundo ele, este fenômeno se acentua nos dias mais frios do ano e exige que a drenagem dos tanques seja feita em intervalos mais curtos de tempo. (Veja mais sobre este assunto na página 44.)

As características climáticas de cada local também seriam determinantes para formatar a tecnologia mais adequada para os motores que utilizam B100. Segundo o professor Luiz Pereira Ramos, do departamento de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em uma capital fria como Curitiba o uso de matérias-primas como óleo de palma ou óleo de dendê, ricos em ácidos graxos saturados, seria inviável, pois o combustível se solidificaria dentro dos veículos. Nesse caso o biodiesel de soja, que possui ácidos graxos insaturados, seria mais indicado por ter um ponto de fusão mais próximo da temperatura ambiente curitibana.

Na opinião do professor Ramos, seria possível reduzir vários tipos de perdas e desvantagens decorrentes do uso do biodiesel equacionando bem questões como o projeto do motor e do bico de injeção, a temperatura na câmara de combustão e a relação oxigênio e combustível. Uma das questões mais preocupantes que poderiam ser solucionada através destes ajustes é o aumento nas emissões de óxidos de nitrogênio (NOx), gases que trazem graves prejuízos ao meio ambiente e à saúde da população.

Sobre este aspecto, Ramos cita um estudo que mediu as emissões de NOx em experimentos com o uso do B100 em diversas partes do mundo. Estes testes utilizaram diferentes motores e diferentes tipos de biodiesel, e o resultado, segundo ele, “foi uma grande confusão”. Isto porque parte dos dados demonstrou aumento nas emissões de NOx, outra parte mostrou redução nas emissões e houve ainda aqueles que não apontaram mudança alguma.

Concluiu-se então que, embora o aumento nestas emissões seja uma aparente realidade, ela depende das condições em que o teste foi realizado. “E não necessariamente constitui um problema, desde que o motor seja ajustado”, aponta Ramos.