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Preço do biodiesel: álcool, processo e segredo


Edição de Ago / Set de 2010 - 15 ago 2010 - 11:19 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 12:25
Fator nº 2: álcool
Não há dúvida sobre a ordem dos dois fatores mais importantes na composição do preço do biodiesel. O primeiro, disparado, é a fonte, a matéria-prima. O segundo, também com boa distância para os outros fatores, é o uso do álcool no processo. Independentemente de a rota usada ser a etílica ou a metílica, o preço do álcool faz diferença significativa no preço.

A ANP afirma que, como a rota metílica vem sendo a mais usada no Brasil, decidiu levar em consideração o preço do metanol e os custos embutidos nesse tipo de produção. Quem usar a rota etílica terá de se ajustar a essa planilha. Mas, afinal, quanto o metanol pesa no bolso do consumidor de biodiesel?

Segundo especialistas, o metanol responde por cerca de até 10% do preço final do combustível. Veja o que diz o engenheiro químico, Marcelo Dinardi: “O peso da participação do óleo e álcool (metanol) varia de acordo com o tipo de óleo usado. Se a planta optar por um óleo muito barato – por exemplo, óleo usado de fritura – o peso do álcool aumenta muito. Nesta situação há um aumento nos custos de processo, já que é necessário o tratamento deste óleo”. Como o cálculo da ANP é feito usando-se óleo de soja, pode-se considerar que 10% para o álcool é uma média razoável, segundo Dinardi.

Fator nº 3: processo

Embora a matéria-prima e o álcool sejam responsáveis, em alguns casos, por cerca de 90% do custo de produção, existem, certamente, outros fatores que têm de ser levados em consideração. Para a engenheira química Ana Encarnação, mestre pela Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutoranda pela mesma instituição, a lista de outros componentes que precisam ser lembrados inclui: insumos (produtos químicos utilizados no pré-tratamento das matérias primas, na separação e purificação dos produtos e subprodutos, na aceleração do processo, entre outros), utilidades (vapor, água, energia elétrica, entre outros), manutenção da planta industrial, e salários e encargos das equipes. “Para cada tipo de rota e processo utilizado, as variáveis e quantidades dentro de cada um desses itens pode diferir”, afirma.

Ana, no entanto, destaca que se 90% do custo de produção é o preço da matéria-prima, os demais itens causam pouquíssima modificação no resultado. “Mesmo que eu modifique, individualmente, a quantidade ou preço dos demais itens, pouco se alteram os custos de produção”, diz.

Sobre quais são os parâmetros utilizados aqui, a ANP é bastante vaga. A nota sobre o tema afirma apenas que, aos preços calculados para a matéria-prima básica e para o metanol, são somados “os custos médios de produção internos do biocombustível e dos respectivos tributos incidentes”. Nenhuma palavra sobre quais são esses custos ou como eles são calculados.

Fator nº 4: segredo
Se é preciso levar em consideração todos esses itens para saber qual é o preço a ser cobrado por um litro de biodiesel, a ANP decidiu que não é a melhor estratégia revelar quais são os métodos que ela usa para definir exatamente o peso de cada item, nem como busca seus valores no mercado. Esse é o quarto e último fator da composição do preço de referência nos leilões brasileiros: o segredo.

Para o Ministério das Minas e Energia, peça fundamental no Programa Nacional de Biodiesel, o segredo não é feito à toa. Ele realmente ajuda o mercado a funcionar melhor. “Um processo em que todos conhecessem exatamente toda a planilha da ANP seria prejudicial para o bom andamento do leilão”, afirma Ricardo de Gusmão Dornelles, diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do ministério. “No leilão, o governo fica imaginando qual será a estratégia da indústria e a indústria fica imaginando qual a estratégia do governo. Cada um no seu papel. Isso serve para não tirar o nível da competição”, diz ele.

De acordo com Dornelles, o segredo e a imprevisibilidade são fatores tão importantes no ponto de vista do governo que levaram à mudança de leilões presenciais para o modelo de pregão eletrônico, adotado atualmente.

“O que motivou a volta do leilão eletrônico é que o presencial estava com poucas novidades”, explica Dornelles. Segundo ele, as estratégias vêm funcionando. E a prova disso estaria à disposição do público. “O leilão é baseado na incerteza. Se você observar o ComprasNet (site com registro de preços de compras do governo), é possível verificar como está sendo o comportamento de cada indústria. E não se vê nenhuma característica de combinação de preço”, afirma.

Antes da mudança para leilões eletrônicos, os preços do biodiesel vinham sofrendo um deságio muito pequeno. Não importava qual era o preço máximo estipulado pela ANP ou o preço da soja, o deságio normalmente ficava abaixo de 1%. Além disso, as coincidências eram grandes. No leilão 14, durante a segunda rodada de ofertas do segundo lote, houve 16 lances de onze empresas diferentes com o mesmo valor: R$ 2,355. E pouco antes, na rodada anterior, houve outros 15 lances no exato valor de R$ 2,358.