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Coluna: Ácidos Graxos: co-produtos que podem valer mais que o biodiesel


BiodieselBR.com - 19 jul 2007 - 07:57 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:13


Em textos anteriores, escrevi sobre a importância e mesmo oportunidade de investimento em plantas de purificação de glicerina. Equipamentos que são hoje bem mais baratos do que no passado e que viabilizam não apenas a comercialização da glicerina destilada em si, mas que abrem portas para inúmeros produtos derivados desta.

Uma outra oportunidade interessante para fabricantes de biodiesel é a comercialização de ácidos graxos, devidamente purificados. Os ácidos graxos aparecem em pelo menos duas etapas do processo convencional de transesterificação e estão presentes na própria matéria-prima (óleos vegetais e gorduras animais).

Normalmente, ocorre um pré-tratamento para remoção quase completa dos ácidos graxos livres presentes nos óleos e gorduras. Esse tratamento é muito semelhante ao refino dos óleos vegetais para a indústria de alimentos, com exceção da etapa de desodorização.

Quando o tratamento ocorre por refino físico (destilação por arraste a vapor), os ácidos graxos saem praticamente puros, contendo apenas baixos teores de insaponificáveis (pigmentos, fosfatídeos, carotenóides etc.). Nesse tipo de processo, uma etapa de fracionamento da fração oléica (insaturada) da fração esteárica (saturada) gera de uma só vez dois produtos com preços de mercado equivalentes ao do biodiesel. Uma etapa adicional de hidrogenação ou uma destilação a vácuo geram respectivamente ácido esteárico e ácido oléico, ambos com preços superiores ao biodiesel.

Quando o refino químico (com solução de soda cáustica) é empregado, os ácidos graxos são removidos por centrífuga sob a forma de sabões (soapstock). Mesmo os melhores processos de transesterificação, que empregam óleos refinados como matéria-prima, geram também um pouco de sabão na fase da glicerina (balanço de sabões tipicamente por volta de 3% do biodiesel).

Na etapa de transformação de glicerina bruta em glicerina loira, esses sabões são desdobrados por ácidos minerais, produzindo assim mais ácidos graxos. Procedimento semelhante deve ser dado ao “soapstock”, com o agravante que este possui um teor mais elevado de fosfolipídios quando o óleo de soja degomado é utilizado. Após essa etapa de acidulação, esses ácidos graxos costumam sofrer certa oxidação, gerando pigmentos escuros. Uma destilação a vácuo proporciona a purificação dos ácidos graxos e o resíduo da destilação serve como combustível para a própria caldeira. Esses ácidos graxos destilados podem ser também fracionados ou hidrogenados, gerando assim os mesmos produtos de apelo comercial mencionados acima.

Outra ótima notícia é que todos os processos descritos acima estão disponíveis com tecnologia nacional. Também com tecnologia brasileira existe o processo de produção de biodiesel por hidroesterificação, sendo que na primeira etapa de hidrólise já são gerados ácidos graxos e glicerina com grau alimentício. O biodiesel é produzido na segunda etapa por esterificação – ou não, caso os ácidos graxos da hidrólise tenham um valor no mercado superior ao do biodiesel. Sem dúvida, trata-se de um processo bem mais eficiente e que traz maiores flexibilidades ao setor. Porém, falaremos sobre esse processo mais detalhadamente em outra oportunidade.

Donato Aranda é professor de engenharia química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possui o título de comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico.