Óleo vegetal natural: obstáculos políticos e de distribuição
Fora do motor
A implantação de motores a óleo vegetal também enfrentaria problemas de outra ordem: seria necessário passar por cima de obstáculos políticos e, por outro lado, definir como seria o funcionamento de uma rede de distribuição do produto. Além disso, a proposta de liberação do uso do óleo vegetal cru coloca o combustível em franca concorrência com o biodiesel, cujo uso no Brasil já se encontra em processo avançado de implantação.
Na parte política, pode ser que exista resistência de várias partes. Os fabricantes de veículos e de motores podem não gostar de ter uma nova concorrência. Os fabricantes de outros combustíveis também poderiam ser afetados e criar resistência. Na opinião dos defensores do óleo vegetal, essas resistências existem e são naturais: já estavam presentes, por exemplo, no caso do ProÁlcool. “A indústria também resistiu muito na época do Proálcool. Uma boa política governamental de incentivo a inovações tecnológicas com certeza mudaria esta postura”, diz Denucci.
Mas para que criar um novo programa de combustível quando a substituição do óleo diesel mineral já está contemplada pelo Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel? “Respondo com outra pergunta: Para que criar combustíveis de segunda geração, quando os de primeira atendem bem? Não vejo razão em fazer biogasolina de etanol. Defendo os motores a etanol, que nem existem mais, pois agora só existem os beberrões flex. Temos que nos conscientizar que é a natureza que faz o óleo vegetal, o etanol e o biogás de forma absolutamente grátis. Portanto, nenhum combustível de segunda ou terceira geração será competitivo com os de primeira”, radicaliza Fendel.
Mas para Denucci, a implantação do óleo vegetal como combustível, em vez de criar uma competição com o biodiesel, traria novas oportunidades de mercado para esse produto. “Poderíamos, por exemplo, utilizar o óleo vegetal internamente e gerar excedentes exportáveis de biodiesel”, sugere.
Segundo Schlosser, o uso do óleo vegetal já é realidade em algumas regiões do país. “Aqui [no Rio Grande do Sul] tem muito produtor rural que usa o óleo porque é mais barato”, revela. A preocupação dele é com a produção do combustível pelo próprio usuário, “que via de regra pode provocar problemas ambientais, principalmente de contaminação e mau gerenciamento de resíduos”.
“Temos acompanhado diversos usuários na nossa região que têm optado pela mistura de óleo vegetal cru diretamente no diesel e que se mostram muito satisfeitos. Temos um caso de um transportador que move um caminhão com uma mistura de 50% e já acumula 350 mil quilômetros sem necessidade de manutenção corretiva de motor. Em outro caso, um agricultor que utiliza sistematicamente a mesma mistura em seus tratores se mostra bastante satisfeito após muitas horas de uso. Essas experiências absolutamente indicam o uso desta alternativa, mostrando somente que os usuários desejam criar alternativas de cunho econômico imediatista, sem muita preocupação com o ambiente e com futuros problemas mecânicos”, relata Schlosser.
Para que o óleo vegetal possa ser considerado uma alternativa viável, ainda faltam estudos. O problema é que as linhas de financiamento para esse tipo de pesquisa, informa Schlosser, sumiram. “Agora as verbas disponíveis são todas para o estudo o biodiesel.”
Um jeito de solucionar tanto os problemas técnicos quanto os políticos ao mesmo tempo seria a introdução gradual do novo combustível no mercado. “Uma das soluções é ir adicionando gradativamente óleo vegetal ao diesel fóssil, fazendo com que a indústria seja obrigada a se adaptar, da mesma forma como aconteceu com o etanol”, diz Thomas Fendel. “Outra é adicionar bombas de óleo vegetal nos postos, como acontece com o etanol e com o GNV. Mas a melhor solução é liberar o comércio e o uso dos combustíveis para quem quiser vender e usar, pois não se justifica a centralização das coisas descentralizadas. Na Alemanha, o óleo vegetal é classificado na escala ‘zero’, a mesma classificação da água e areia, ou seja, não poluente e não agressivo, e é vendido em qualquer lugar.”
Seja como for, a oportunidade parece boa e não custa discuti-la. Para quem é defensor ardente da opção, porém, é bem mais do que isso. “Não podemos descartar uma possibilidade energética quase única que a nação brasileira tem com a utilização direta do óleo vegetal puro. Já estamos muito atrasados e não há mais tempo a perder”, diz Denucci. A aposta é de que o Brasil é grande o suficiente para comportar diferentes iniciativas no setor de combustível. Se ele estiver certo, não resta dúvida. É preciso correr atrás do tempo perdido.
A implantação de motores a óleo vegetal também enfrentaria problemas de outra ordem: seria necessário passar por cima de obstáculos políticos e, por outro lado, definir como seria o funcionamento de uma rede de distribuição do produto. Além disso, a proposta de liberação do uso do óleo vegetal cru coloca o combustível em franca concorrência com o biodiesel, cujo uso no Brasil já se encontra em processo avançado de implantação.
Na parte política, pode ser que exista resistência de várias partes. Os fabricantes de veículos e de motores podem não gostar de ter uma nova concorrência. Os fabricantes de outros combustíveis também poderiam ser afetados e criar resistência. Na opinião dos defensores do óleo vegetal, essas resistências existem e são naturais: já estavam presentes, por exemplo, no caso do ProÁlcool. “A indústria também resistiu muito na época do Proálcool. Uma boa política governamental de incentivo a inovações tecnológicas com certeza mudaria esta postura”, diz Denucci.
Mas para que criar um novo programa de combustível quando a substituição do óleo diesel mineral já está contemplada pelo Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel? “Respondo com outra pergunta: Para que criar combustíveis de segunda geração, quando os de primeira atendem bem? Não vejo razão em fazer biogasolina de etanol. Defendo os motores a etanol, que nem existem mais, pois agora só existem os beberrões flex. Temos que nos conscientizar que é a natureza que faz o óleo vegetal, o etanol e o biogás de forma absolutamente grátis. Portanto, nenhum combustível de segunda ou terceira geração será competitivo com os de primeira”, radicaliza Fendel.
Mas para Denucci, a implantação do óleo vegetal como combustível, em vez de criar uma competição com o biodiesel, traria novas oportunidades de mercado para esse produto. “Poderíamos, por exemplo, utilizar o óleo vegetal internamente e gerar excedentes exportáveis de biodiesel”, sugere.
Segundo Schlosser, o uso do óleo vegetal já é realidade em algumas regiões do país. “Aqui [no Rio Grande do Sul] tem muito produtor rural que usa o óleo porque é mais barato”, revela. A preocupação dele é com a produção do combustível pelo próprio usuário, “que via de regra pode provocar problemas ambientais, principalmente de contaminação e mau gerenciamento de resíduos”.
“Temos acompanhado diversos usuários na nossa região que têm optado pela mistura de óleo vegetal cru diretamente no diesel e que se mostram muito satisfeitos. Temos um caso de um transportador que move um caminhão com uma mistura de 50% e já acumula 350 mil quilômetros sem necessidade de manutenção corretiva de motor. Em outro caso, um agricultor que utiliza sistematicamente a mesma mistura em seus tratores se mostra bastante satisfeito após muitas horas de uso. Essas experiências absolutamente indicam o uso desta alternativa, mostrando somente que os usuários desejam criar alternativas de cunho econômico imediatista, sem muita preocupação com o ambiente e com futuros problemas mecânicos”, relata Schlosser.
Para que o óleo vegetal possa ser considerado uma alternativa viável, ainda faltam estudos. O problema é que as linhas de financiamento para esse tipo de pesquisa, informa Schlosser, sumiram. “Agora as verbas disponíveis são todas para o estudo o biodiesel.”
Um jeito de solucionar tanto os problemas técnicos quanto os políticos ao mesmo tempo seria a introdução gradual do novo combustível no mercado. “Uma das soluções é ir adicionando gradativamente óleo vegetal ao diesel fóssil, fazendo com que a indústria seja obrigada a se adaptar, da mesma forma como aconteceu com o etanol”, diz Thomas Fendel. “Outra é adicionar bombas de óleo vegetal nos postos, como acontece com o etanol e com o GNV. Mas a melhor solução é liberar o comércio e o uso dos combustíveis para quem quiser vender e usar, pois não se justifica a centralização das coisas descentralizadas. Na Alemanha, o óleo vegetal é classificado na escala ‘zero’, a mesma classificação da água e areia, ou seja, não poluente e não agressivo, e é vendido em qualquer lugar.”
Seja como for, a oportunidade parece boa e não custa discuti-la. Para quem é defensor ardente da opção, porém, é bem mais do que isso. “Não podemos descartar uma possibilidade energética quase única que a nação brasileira tem com a utilização direta do óleo vegetal puro. Já estamos muito atrasados e não há mais tempo a perder”, diz Denucci. A aposta é de que o Brasil é grande o suficiente para comportar diferentes iniciativas no setor de combustível. Se ele estiver certo, não resta dúvida. É preciso correr atrás do tempo perdido.