Ainda acredito nas pequenas usinas
No último leilão de biodiesel
realizado no início de
março podemos notar que
a participação das pequenas
usinas foi de apenas 3,18%
de todo o volume homologado.
Foram apenas 16,7 milhões de
litros dos 525,5 milhões de litros
homologados até o momento. E
além de venderem pouco, venderam
mal, pois tiveram o menor
preço médio do leilão.
Esse resultado ruim para as
pequenas usinas se deve à forma
como o leilão foi realizado,
já que limitou a possibilidade de
oferta das pequenas usinas a uma
quantidade de biodiesel inferior
à dos últimos leilões. Nos próximos
certames a situação deve ser
ainda pior, pois duas usinas da
Ecodiesel, mais a CLV e possivelmente
a Agrenco também estarão
disputando apenas o lote que não
exige o selo. Em suma, o futuro
das pequenas usinas pode não ser
nada bom.
Por mais eficiente e bem
administrada que seja uma pequena
usina, ela sempre terá um
custo de produção maior que os
grandes. O ganho de escala na
produção de combustíveis é inegável.
Por esse motivo, um leilão
com uma oferta um pouco maior
que o último acabaria deixando
as pequenas de fora. Foi isso que
ocorreu no 13º leilão da ANP.
Mesmo acreditando que,
cada vez mais, os leilões de biodiesel
serão um lugar apenas para
as grandes usinas, ainda vejo lugar
para as pequenas unidades no
futuro deste setor. A permanência
delas depende de localização,
mercado livre e integração.
Uma das primeiras conclusões
que tirei quando comecei a
trabalhar com biodiesel em 2002
foi que a produção brasileira seguiria
dois caminhos: grandes
usinas para abastecer os grandes
centros consumidores e pequenas
usinas regionais para atender a
demanda local. No atual sistema
de comércio, as pequenas funcionam
como as grandes, mandando
o produto para longe do local de
produção. Isso só acontece porque
não são as usinas que pagam
o frete, o que torna a localização
irrelevante.
Em um mercado livre, a localização
das usinas passará a ser
importante, e uma usina pequena
poderá compensar a desvantagem
no custo de produção com
o diferencial logístico.
Outro caminho para elas se
dará através da integração. As
pequenas usinas deverão se unir
ou se associar com outras que
tenham um negócio complementar.
Um exemplo é o projeto da
Copel, de uma usina de apenas 5
mil litros por dia, que inicialmente
fará biodiesel utilizando o óleo
de uma extração mecânica de 40
toneladas de soja por dia. A torta
de soja resultante dessa extração
e mais cerca de 200 toneladas de
milho por dia serão transformadas
em ração para atender os
pequenos produtores da região.
Nesse projeto, a fábrica de ração
é o que dará suporte econômico
ao projeto e viabilizará a produção
de biodiesel. E toda a produção
será destinada para consumo
entre os pequenos produtores integrados.
As pequenas usinas devem
começar a repensar sua posição
dentro do setor. Não haverá mais
a facilidade de vender biodiesel
nos leilões da ANP, e novas formas
de comercializar a produção
precisam ser encontradas. Acredito
que o mercado livre será um
aliado das que estiverem bem
localizadas. Assim como será o
vilão das demais.
Univaldo Vedana é analista do setor de biodiesel.