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Rotas tecnológicas e entrevista


BiodieselBR.com - 22 dez 2007 - 16:10 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:06
Rotas tecnológicas
Os processos de produção desses novos combustíveis podem variar muito de acordo com a matéria-prima utilizada, mas, de uma forma geral, podem ser agrupados em duas rotas tecnológicas principais: a bioquímica e a termoquímica. A primeira utiliza microorganismos para quebrar as moléculas de lignina presentes na biomassa através da hidrólise enzimática e assim libertar as cadeias de carbono. O fluido proveniente dessa decomposição é refinado e transformado em etanol de celulose. Outros processos utilizam fungos, algas e organismos criados pela engenharia genética que secretam hidrocarbonetos sob a forma de óleo ou gás. Esses materiais são coletados e passam por processos de síntese para produzir gasolina e biodiesel.

Na rota termoquímica é utilizada a pirólise (aquecimento em ambientes com concentração baixa ou nula de oxigênio) para obtenção das cadeias de carbono necessárias para formar combustíveis. A biomassa proveniente de resíduos como bagaço de cana, restos de madeira e da produção agrícola ou outras matérias-primas de baixo valor agregado é submetida a uma temperatura de aproximadamente 500ºC, a uma pressão ambiente. A reação resulta em três subprodutos: biocarvão, gás combustível e bioóleo. Esse processo também é chamado de craqueamento, pois utiliza a energia calorífica para quebrar as moléculas dos compostos.

Outra rota pesquisada é conhecida como BTL (“biomass to liquid”), que consiste na transformação da biomassa em gases de síntese (monóxido de carbono e hidrogênio principalmente), com os quais se produzem diversos tipos de hidrocarbonetos sintéticos (pelo processo químico de Fischer-Tropsch), entre eles o diesel e a gasolina.

Apesar de apontarem para o futuro, esses processos não são novidade. A síntese de Fischer- Tropsch foi inventada em 1920. Países como a África do Sul há muito tempo utilizam a pirólise para produzir combustível tendo como matéria-prima resina de petróleo e carvão mineral.

Viabilidade
Na avaliação de Paulo Suarez, professor do Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB), falta pressão econômica para desenvolver esses processos de fabricação de combustíveis, uma vez que a produção de primeira geração satisfaz às demandas de mercado. Ele acredita que o H-Bio, por exemplo, já teria condições de ser usado em escala industrial, e que isso só não acontece ainda por motivos econômicos ou políticos, e não tecnológicos.

Mesmo que houvesse intenção de comercializar essa produção, não existe nem mesmo enquadramento técnico por parte da Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para essas operações. Segundo comunica o órgão, até o momento não houve nenhuma solicitação para que fossem criadas regulamentações específicas para este tipo de combustível, justamente porque eles ainda estão em fases de testes.

Para o pesquisador da Embrapa Agroenergia, José Dílcio Rocha, mais importante do que as questões econômicas é o uso racional dos recursos naturais. “Estamos numa encruzilhada, buscando aumentar nossa sobrevida na terra”, diz. O caminho da sobrevivência passa pelas energias renováveis, incluindo aí os biocombustíveis atuais, como o biodiesel, que, ele acredita, dificilmente serão suplantados totalmente pelos novos combustíveis. “O combustível de primeira geração é fantástico, porém só pode ser produzido com mais eficiência nos trópicos”, enfatiza.

Entrevista
Ney Sarrão, coordenador do programa tecnológico de energias renováveis do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes), fala dos planos da estatal na área dos biocombustíveis de segunda geração e do atual estágio das pesquisas.

Revista BiodieselBR Quais as pesquisas que a Petrobras desenvolve no campo dos combustíveis de segunda geração?
Ney Sarrão
A pesquisa mais avançada visa a produção de etanol a partir de resíduos celulósicos por hidrólise enzimática. A principal matéria-prima considerada é o bagaço de cana. Esta rota tecnológica está em planta-piloto desde o final de 2007 e o próximo passo será a construção de uma planta demonstrativa, em escala semi-industrial. Também está sendo pesquisada a rota conhecida como BTL (“biomass to liquid”), cuja etapa inicial é a gaseificação de biomassa, gerando gás de síntese. Desse gás podem ser produzidos hidrocarbonetos sintéticos, pela síntese de Fischer-Tropsch, ou álcoois, por processo catalítico ou por fermentação. Nossa expectativa é ter unidades-piloto em operação até o início de 2011. Outra rota em desenvolvimento é a produção de biodiesel a partir de microalgas. Atualmente estamos trabalhando na identificação e cultivo de microalgas que produzam óleo com qualidade adequada e elevada produtividade. Existem ainda outras pesquisas, em estágio menos maduro, para produção de biocombustíveis a partir de microrganismos desenvolvidos por biologia sintética.

Quais as perspectivas comerciais desses combustíveis?
Ney Sarrão
O desenvolvimento tecnológico para a produção de biocombustíveis de segunda geração tem que considerar sua sustentabilidade social, ambiental e econômica. É possível que tenhamos soluções diversas em função de diferentes condições regionais.

Existe alguma previsão sobre quando os combustíveis de segunda geração chegarão ao mercado?
Ney Sarrão
É difícil prever. Há ainda questões logísticas e de infra-estrutura a serem superadas. Embora várias empresas estejam buscando ser a primeira a chegar ao mercado, a viabilidade depende também da escala. Só quando houver demanda acima de determinado volume poderá ser obtida a viabilidade econômica.

A empresa tem planos de expandir suas pesquisas nessa área?
Ney Sarrão
A Petrobras já é uma das empresas que mais investem em pesquisa de biocombustíveis no mundo. No período 2009-2013, estão previstos investimentos de US$ 530 milhões em pesquisa e desenvolvimento nesta área. Nosso foco atual é buscar a obtenção de resultados no menor prazo possível, se necessário por meio de cooperação com entidades e empresas que desenvolvam pesquisas complementares.