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Brasil Ecodiesel: Embaraços


BiodieselBR.com - 22 dez 2007 - 14:41 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 10:59
Embaraços
A aposta no gigantismo também foi a causa dos primeiros contratempos da Brasil Ecodiesel. Para conseguir os vultosos recursos de que precisavam, os investidores decidiram abrir o capital da empresa no final de 2006. Não seria nada demais se não fosse pelo envolvimento de Daniel Birmann.

Em 2005, Birmann foi punido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por ter prejudicado acionistas de uma de suas empresas. Além de amargar uma pesada multa no valor de R$ 243 milhões (das maiores já emitidas pela autarquia), ele também ficou proibido de participar da administração de empresas abertas. Portanto, a Brasil Ecodiesel teria que se desfazer de seu maior acionista – em 2004, ele detinha 67,6% dos papéis – se quisesse fazer a oferta pública de ações que tinha planejado.

Em julho de 2005, a Brasil Ecodiesel Participações foi transformada em sociedade por ações e dobrou sua base acionária de 3 para 6 milhões de títulos. Os novos papéis foram adquiridos por uma empresa norte-americana chamada Eco Green Solutions. Birmann transferiu parte de suas ações para diversos dos sócios minoritários e no final do dia apenas três sócios tinham modificado sua participação: a Eco Green tinha ficado dona de 50%; Birmann tinha ido de 67,6% para 22,6% e a BSB Participações (também ligada ao banqueiro) caiu de 10% para 5%.

Em agosto de 2006, o restante das ações detidas por Birmann e pela BSB foi comprado pelo fundo de investimentos norte-americano Zartman Services. Isso encerraria a era Birmann na Brasil Ecodiesel.

O que fez muita gente torcer o nariz para o novo arranjo foi o fato de a Eco Green (então detentora de 50% das ações) ser controlada pela BT Global Investments Fund, que, por sua vez, pertence a um truste sediado nas Ilhas Cayman. Isso tornava virtualmente impossível descobrir quem de fato mandava na Eco Green. Não demorou nada para que se generalizasse a suspeita de que Birmann continuava no comando do espetáculo. Também em agosto, Eco Green, Zartman e Nelson da Silveira celebraram um acordo de acionistas vinculando 87% das ações da Brasil Ecodiesel, o que lhes dava controle quase irrestrito da empresa.

O falatório não impediu a CVM de dar luz verde para que a Brasil Ecodiesel realizasse sua oferta pública inicial em novembro de 2006. Foram colocadas à venda 25% das ações por um valor unitário de R$ 12,00, totalizando quase R$ 379 milhões.

É fácil perceber que havia razões para otimismo. As perspectivas de ganho futuro eram bastante promissoras. Apenas de 2006 para 2007, o faturamento tinha disparado de R$ 65 milhões para R$ 380 milhões. E era só um aquecimento para a estréia da mistura obrigatória do B2 em janeiro de 2008. Claro que nem tudo foi festa. Em 2007 a empresa teve um prejuízo bastante considerável, da ordem R$ 37,7 milhões, e acumulara um endividamento de R$ 177 milhões, quase todo concentrado no curto prazo. Foi aí que a situação desandou.

O baque
Boa parte da culpa veio da excepcional barbeiragem cometida pela empresa nos 6º e 7º leilões da ANP. Realizados em novembro de 2007, aqueles dois leilões foram os primeiros “para valer” do PNPB. Por causa desse simbolismo, a Brasil Ecodiesel entrou na competição disposta a deixar todo mundo comendo poeira e derrubou seus preços para esquálidos R$ 1,848 por litro, obtendo contratos da ordem de 161 milhões de litros (42,2% do total negociado). O restante dos produtores seguiu a deixa e, quando o martelo bateu, o preço médio tinha ficado em R$ 1,867 – 22% abaixo do preço de referência da ANP.

O surto hipercompetitivo se mostraria desastroso para o setor como um todo, e para a Brasil Ecodiesel em particular, quando a cotação do óleo de soja na Bolsa de Chicago começou a subir sem parar. A tonelada de óleo de soja, negociada a US$ 993 em novembro de 2007, chegou a junho de 2008 valendo US$ 1.399. Foi um Deus nos acuda. Não faltou, inclusive, quem apontasse o dedo na direção da Brasil Ecodiesel, acusando-a de ter empurrado o setor inteiro para o buraco. “É evidente que cometemos um erro, mas não uma decisão de má-fé. Tomamos um prejuízo de mais de R$ 200 milhões por causa disso”, desabafa José Carlos Aguilera, executivo que sucedeu Nelson da Silveira na direção da companhia depois desse episódio.

A Brasil Ecodiesel foi à lona. De uma hora para outra, ela se viu produzindo a R$ 3,00 o litro e vendendo a menos de R$ 1,85. O endividamento disparou, as alternativas para que a empresa conseguisse capital de giro minguaram e logo ela começou a não dar mais conta dos volumes devidos. Dos 140 milhões de litros de biodiesel arrematados no 6º leilão, a empresa entregou perto de 55 milhões. Embora esse tenha sido o pior resultado em termos absolutos, a inadimplência se tornaria um problema recorrente para a empresa durante mais de um ano. “Muita gente nos julgava por não entregar o biodiesel como se estivéssemos cometendo um crime de lesa-pátria. Viramos a Geni do mercado”, ironiza Aguilera.

Internamente, o golpe também foi sentido. Nas contas do diretor financeiro Eduardo de Come, mesmo sem ter feito demissões a empresa perdeu 10% de seu efetivo por causa da crise – gente que foi procurar segurança em outras bandas. “Foi muito ruim, de uma hora para outra tivemos que mandar nossos funcionários para casa em licenças remuneradas que duravam até três meses. Todo mundo ficou preocupado”, relata, pontuando que apesar das dificuldades a empresa nunca deixou de pagar salários e benefícios.

O pior momento foi em meados do ano passado. “A empresa estava inoperável: sem caixa, com dívidas de milhões e deficitária. Mas a gente nunca perdeu a esperança”, resume Marcos Leite. Como gerente de RI da empresa, Leite cumpria a ingrata tarefa de divulgar as más notícias para o mercado. Ele avalia que uma parte da repercussão em torno da crise foi alimentada pelo fato de a Brasil Ecodiesel ser a única do setor com capital aberto. “Outras empresas também passaram por dificuldades, mas como só as nossas contas eram divulgadas, a gente virou a grande vitrine”, completa.

Em meio ao bombardeio de más notícias, as ações da Brasil Ecodiesel (Ecod3) simplesmente derreteram. Lançadas a R$ 12,00 em novembro de 2006 (com pico de R$ 15,00 em julho de 2007), as ações chegaram a cair para R$ 0,59 em outubro de 2008, no início da crise financeira mundial. Desde então, as ações têm ensaiado uma alta e já andam rondando a faixa de R$ 1,00.
Tags: Ecodiesel