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Petrobras: a gigante intimida


BiodieselBR.com - 21 jul 2009 - 08:07 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:57
Entrada da estatal no setor de biodiesel ameaça sustentabilidade e inflama os debates. Ela pode desestruturar ou ajudar o setor?

Fábio Rodrigues, de São Paulo

Definitivamente, a Petrobras não é uma empresa comum. Dona de um faturamento (bem) superior a R$ 200 bilhões ao ano, ela é um daqueles atemorizantes mostrengos corporativos cujos movimentos podem ser medidos na escala Richter. Tentar imaginar uma criatura desse porte perambulando pelo precoce mercado do biodiesel produz imagens mais ou menos parecidas com as de Godzilla pisoteando Tóquio. É compreensível, portanto, que o empresariado nativo do setor sinta uma grande preocupação toda vez que lembra de seu mais novo concorrente.

Quase imediatamente, a decisão da empresa começou a atrair uma espessa artilharia de críticas, centradas num ponto principal. Quando o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) foi lançado em 2004, o setor privado topou o desafio proposto pelo governo e obteve um sucesso estrondoso ao viabilizar a indústria nacional do biodiesel – de zero litros em 2004, saltamos para uma capacidade instalada superior a 3 bilhões de litros no final de 2008 e agora já ultrapassamos os 4 bilhões de litros. Ao apontar sua estatal de maior calibre para o mesmíssimo setor, o governo parece querer tirar com a mão esquerda o que havia entregue à iniciativa privada com a direita. Não foram poucos os produtores que se sentiram traídos por essa atitude.

A bem da verdade, o flerte entre a poderosa petrolífera tupinambá e o biodiesel vem dos primeiros tempos do PNPB – desde 2006 que a estatal opera duas unidades experimentais de produção de biodiesel localizadas no Rio Grande do Norte. Mas o romance só começou para valer no final de julho do ano passado, quando a companhia constituiu uma subsidiária especialmente para tocar seus investimentos na área de combustíveis renováveis: a Petrobras Biocombustível.

Depois disso, a empresa parece ter engatado a segunda marcha e, entre setembro e dezembro passados, inaugurou três usinas de biodiesel de nível comercial, cada uma delas capaz de fabricar 57 milhões de litros por ano: Candeias (BA), Quixadá (CE) e Montes Claros (MG). Também há planos para converter as unidades experimentais em comerciais e para instalar uma nova usina no Norte do país, possivelmente no Pará, com pelo menos o dobro de capacidade das usinas atuais. Entre 2009 e 2013, a companhia planeja investir US$ 480 milhões apenas em biodiesel. Desde agosto de 2008 a empresa vem vendendo sua produção nos leilões de biodiesel, mas foi apenas nos dois últimos leilões que as vendas da empresa chegaram a volumes relevantes e o caldo das críticas à estatal começou a engrossar de verdade.


Boas-vindas?

Curiosamente, o primeiro impulso dos empresários do setor é desfiar um polido discurso de boasvindas à “novata” e sublinhar que o mercado de biodiesel tem preocupações mais urgentes do que o currículo de seus concorrentes. “A Petrobras é muito bem-vinda em nosso setor, desde que haja algum mercado. Nosso maior problema agora não é quem entra ou não – até porque o segmento é livre para quem quiser investir nele –, mas o tamanho do mercado em si mesmo”, avalia o diretor da Binatural, João Batista Cardoso.

Há inclusive quem considere que o tamanho e as credencias da estatal podem até ajudar a abrir novas portas para o restante da indústria. “A Petrobras é um player mundialmente respeitado, sua entrada no setor do biodiesel talvez nos ajude a entrar no mercado externo”, especula Erasmo Carlos Battistella, diretor de operações da BSBios.

De uma forma ou de outra, ambos os executivos parecem resignados em ter alguns dos maiores conglomerados capitalistas do planeta pisando no setor. Como a Glencore, maior trading de commodities do mundo, que passou a controlar as duas usinas da Agrenco. E ainda Bunge, Cargill e Dreyfus, que parecem andar preparando o melhor momento para entrar no negócio de biocombustíveis no Brasil. No final das contas, a entrada de mais um Golias nesse mercado era só uma questão de tempo.