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Perfil da Indústria: Brasbiodiesel


BiodieselBR.com - 29 jul 2009 - 14:28 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:51
Outros frigoríficos tentaram, mas só a BrasBiodiesel, do grupo Bertin, conseguiu produzir biodiesel comercialmente no Brasil

Fernanda Guirra, de Goiânia

No setor industrial, um dos segredos para um bom desempenho nos negócios é a utilização total dos subprodutos gerados pelo processo produtivo. Com a pecuária de corte, não é diferente. Além de vender carne bovina de alta qualidade, muitos frigoríficos investem no aproveitamento eficiente de miúdos, couro e sebo. Nada se perde. Pensando nisso e também nas inúmeras possibilidades que envolvem a produção de energia renovável, o grupo Bertin decidiu entrar no setor de biodiesel meses antes do governo instituir a obrigatoriedade da mistura no diesel mineral. E entrou com uma estratégia que muitas usinas estão buscando, mas que para ela é natural: a verticalização da produção, ou seja, quando a empresa é, por exemplo, a sua própria fornecedora de matéria-prima. Atualmente, o sebo bovino é o segundo maior insumo da indústria de biodiesel, com uma média de 20% de participação no volume total produzido em 2008.

Foi em agosto de 2007, na cidade de Lins, interior paulista, que o grupo iniciou as operações da usina hoje chamada de BrasBiodiesel – nos últimos leilões de biodiesel a empresa tem se apresentado com o nome jurídico Bracol Holding Ltda. A inauguração foi prestigiada por ministros e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que arrancou gargalhadas quando, em tom bem-humorado e com uma amostra do biocombustível nas mãos, disse que aquele era “um biodiesel de picanha”.

Brincadeiras a parte, Rogério Barros, diretor comercial da usina, explica melhor o processo produtivo e destaca que o sebo não é a única matéria-prima utilizada pela BrasBiodiesel. “Costumo dizer que a usina é flex, ou seja, podemos usar 100% de gordura animal, 100% de óleo vegetal ou ainda um mix entre os dois. Atualmente, trabalhamos quase que permanentemente com uma mistura de gordura animal e óleo vegetal. Nessa mistura, a parte majoritária é o sebo bovino”, afirma.

De acordo com ele, dependendo da época do ano e do preço das matérias-primas, a empresa utiliza quantidades diferentes de cada produto. “A mistura pode variar entre 70% de sebo e 30% de óleo de soja e 50% de cada um, por exemplo”, diz o diretor comercial. Para se beneficiar das alíquotas diferenciadas de PIS/Cofins, garantidas pelo Selo Combustível Social, a BrasBiodiesel apóia projetos ligados à agricultura familiar em São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul.

A capacidade de produção autorizada da BrasBiodiesel é de 125 milhões de litros por ano. “E a nossa meta para 2009 é produzir 80% dessa capacidade [cerca de 100 milhões de litros]”, revela. Nos meses de janeiro a março deste ano, conforme dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a indústria produziu 17,3 milhões de litros de biodiesel. No ano passado, o volume total fabricado foi 69 milhões de litros.

A planta da usina foi desenvolvida pela Dedini S/A Indústrias de Base e a tecnologia de produção utilizada é a rota metílica. Para o diretor, o fato de o grupo ter investido em uma fábrica com tecnologia comprovada e também em um laboratório próprio para a análise do produto são diferenciais fortes da indústria. “Não existe biodiesel um pouco melhor ou um pouco pior. Existe biodiesel dentro ou fora da especificação e, aliás, caso esteja fora da especificação, deixa de ser biodiesel. Sempre entregamos o produto conforme as normas oficiais. Para isso, investimos em um laboratório altamente equipado, com tecnologia de ponta, apto a analisar e supervisionar o processo de produção”, destaca o diretor.

A cidade de Lins, explica Barros, é considerada estratégica porque é onde o Bertin possui um centro de recebimento de sebo de outras unidades do grupo e também de terceiros. Além disso, a indústria está localizada no maior mercado consumidor de biodiesel do Brasil – o Estado de São Paulo –, o que dará vantagem competitiva quando os leilões de venda de biodiesel acabarem.

Alguns dos principais frigoríficos do Brasil chegaram a instalar usinas de biodiesel, mas o grupo Bertin é o único que se estabeleceu com produção comercial. O que contribuiu para essa consolidação, segundo o executivo, é a própria história da empresa, que está no mercado há mais de 30 anos. O grupo Bertin é uma holding de capital 100% nacional, que atua nos segmentos de agroindústria, infra-estrutura e energia, atendendo o mercado interno e cerca de 80 países. Eles mantêm um conglomerado industrial focado em seis divisões de negócios: agropecuária, alimentos, couros, equipamentos de proteção individual, higiene e beleza e produtos pet.

O diretor comercial prefere não falar sobre os investimentos totais já realizados. No entanto, somente até a época da inauguração, a BrasBiodiesel exigiu cerca de R$ 42 milhões em investimentos. A indústria está situada em uma área de 30 mil metros quadrados, dentro de um complexo industrial de 500 mil metros quadrados, que engloba outras divisões de negócios do grupo.