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Soyminas: Do pioneirismo a melancolia - Biodiesel


BiodieselBR.com - 30 abr 2007 - 12:34 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 09:36

Biodiesel

Contudo, a face mais conhecida – e importante – da Soyminas é mesmo a de primeira usina de biodiesel do Brasil. Em certa medida, a distinção foi conquistada com o apoio da Ale Combustíveis (atualmente rebatizada como AleSat). Como relata o presidente do conselho administrativo da companhia, Sérgio Cavalieri, a empresa, cuja principal atividade é a distribuição de combustíveis, foi uma das interlocutoras do governo durante a fase de formatação do PNPB. Mais do que isso, a AleSat decidiu investir na novidade e se tornar a primeira a comercializar B2 no mercado brasileiro, anos antes da mistura se tornar obrigatória. Ao procurar um fabricante que estivesse em condições de fornecer o biodiesel necessário, a distribuidora acabou se deparando com a Soyminas.

“Eu fui até a Soyminas e conversei com o Sr. Artur. Juntos, fomos atrás de todas as certificações necessárias para que a empresa pudesse nos fornecer o biodiesel do qual precisávamos”, explica Cavalieri. A cerimônia de 24 de março de 2004 foi resultado direto dessa movimentação.

A parceria comercial entre as duas empresas se prolongaria por uns seis meses, mas, rapidamente, as necessidades da AleSat superaram a modesta capacidade produtiva da Soyminas. “Na medida em que o número de postos distribuindo B2 aumentava, a gente precisava de mais biodiesel, e chegou um momento em que a Soyminas já não conseguia mais nos abastecer com o volume e a regularidade necessários. Foi aí que começamos a trazer biodiesel de outra usina no Pará, que além de volume, tinha um preço melhor”, relata o executivo. Fora isso, Cavalieri avalia como “muito bom” o relacionamento entre as duas companhias. “Tivemos alguns problemas, mas nada que possa ser considerado grave ou inesperado vindo de uma empresa que havia acabado de entrar em operação. De modo geral, nossa relação com a Soyminas foi absolutamente correta”, diz.

A participação da Soyminas nos leilões da ANP também não pode ser descrita como um sucesso. Dos 13 leilões realizados até o momento, a usina só participou ativamente do primeiro – realizado em novembro de 2005 –, ocasião em que vendeu 8,7 milhões de litros por um valor equivalente a R$ 16,5 milhões. Mas quando olhamos para os dados de produção compilados pela ANP, logo percebemos que a produção total passa bem longe do volume necessário. Ao todo a usina fabricou 492 mil litros (isso se incluirmos os 44 mil litros produzidos em 2005, antes do leilão da ANP), bem menos do que o volume arrematado.

De acordo com Alves, não foi por falta de vontade ou de capacidade que a Soyminas não cumpriu esse contrato. Segundo o engenheiro, a empresa produziu os volumes adequados de biodiesel para atender as entregas marcadas para os primeiros meses de 2006. O problema é que, como a logística de distribuição não estava consolidada naquela época, os tanques da usina ficaram rapidamente abarrotados. “Ficamos impossibilitados de produzir mais antes que viessem retirar o biodiesel que já estava estocado, e isso só aconteceu depois de alguns meses”, justifica.

Outro revés sofrido pela empresa foi a perda do Selo Combustível Social – documento que garante vantagens fiscais e acesso aos leilões nos quais são negociados os maiores volumes de biodiesel. De acordo com Arnoldo de Campos, que coordena as atividades do PNPB em nome do MDA, a Soyminas foi a primeira a conquistar o selo (em novembro de 2005) e uma das primeiras a perdê-lo (em junho de 2008).

Para conquistar o selo, a usina precisa atender a três requisitos em relação à agricultura familiar: comprar uma porcentagem mínima da matéria-prima, oferecer valores contratuais adequados e garantir um plano de assistência técnica. “A Soyminas não conseguiu comprovar nem as compras nem o plano de assistência”, explica Campos, destacando, contudo, que o problema parece ter vindo mais da quase inanição que se abateu sobre a usina do que de algum tipo de má-fé. “Até onde o ministério ficou sabendo, e a gente costuma ser comunicado relativamente rápido quando esse tipo de coisa acontece, a Soyminas não lesou nenhum agricultor familiar”, relativiza, acrescentando que, se a empresa tivesse interesse, já poderia tentar reconquistar a certificação.

Por enquanto, Alves parece mais focado em reassumir a operação da usina (na última vez que essa reportagem conversou com ele, a recompra da Soyminas ainda não estava 100% formalizada, faltava acertar parte da documentação). Ele prevê para abril a retomada das operações. Já a volta da produção de biodiesel só vai acontecer quando for mais interessante do ponto de vista econômico. “Enquanto não for, nós vamos nos focar na produção de óleo vegetal e em outros produtos”, finaliza.