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Laboratórios: De olho na qualidade


BiodieselBR.com - 25 mai 2009 - 15:10 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 09:29
Laboratórios correm contra o relógio para atender às novas exigências da legislação brasileira.

Ana Pécora, de São Paulo


Desde que o biodiesel começou a ser visto como alternativa energética sustentável no país, diversas matérias-primas passaram a ser pesquisadas para a fabricação do biocombustível. Óleo de soja, sebo bovino, mamona, pinhão-manso e até resíduos antes descartados, como o óleo de fritura, integraram a lista desses estudos. Mas, independentemente da matéria-prima, o biodiesel brasileiro tem hoje suas especificações técnicas a serem seguidas, e a cada ano a legislação nacional avança para elevar as garantias de qualidade do produto vendido no mercado.

A partir do dia 22 de abril uma nova norma começa a valer em todo o país. Somente terá qualidade reconhecida o biodiesel com análise físico-química atestada por laboratórios credenciados na Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), cujas regras foram especificadas em outubro do ano passado na resolução número 31. O órgão regulador preferiu não divulgar quantos laboratórios estão cadastrados e aptos para fazer os testes de qualidade no Brasil – pelo menos até que o prazo de cadastramento seja expirado. Tampouco a agência quis informar quantos laboratórios já entraram com processo de cadastramento depois da publicação da resolução 31.

Os laboratórios terceirizados e de usinas estão em uma corrida contra o relógio para concluir esse cadastramento, que demanda documentação, calibragem de equipamentos, treinamento de equipe e investimento.

Entre as regras, a que mais acarretou custos aos laboratórios foi a exigência de um plano de calibração, assim como a comprovação documental da mesma. Isso porque, em alguns casos, a exigência chega a custar mais que o próprio equipamento de análise. “Um termômetro, por exemplo, custa R$ 100. E a calibração desse equipamento varia de R$ 200 a R$ 300”, explica Alexandre Nicolini, responsável técnico da ASG do Brasil, filial da multinacional com sede na Alemanha e que atua há dois anos no Brasil apenas com análise de biodiesel.

Antes desse procedimento, os laboratórios não podem preencher o cadastro solicitando o credenciamento, conforme explica Deise Mendes, responsável substituta do laboratório Lacol, do Instituto Nacional de Tecnologia do Rio de Janeiro (INT-RJ). “Estamos tentando a certificação há uns seis meses e para preencher o cadastro temos que estar pelo menos com os equipamentos calibrados, pois após o preenchimento estamos sujeitos a receber visitas de técnicos da ANP”, conta Deise.

Os estabelecimentos reclamam que está difícil agendar essas calibrações, justamente pelo aumento da procura por esse serviço. “Grande parte das exigências para cadastramento já foram cumpridas e esperamos em pouco tempo agendar a visita da ANP. Mas temos encontrado dificuldade em marcar data para as calibrações de equipamentos, pois empresas que prestam o serviço estão com a agenda lotada”, conta Raquel Teruel, engenheira química e supervisora de qualidade de biodiesel da Fiagril, usina de biodiesel instalada em Mato Grosso com capacidade de produção de 147,6 milhões de litros ao ano.

A empresa iniciou a implantação do laboratório em agosto de 2007 e já investiu R$ 550 mil. Além da matéria-prima e dos insumos (ácido clorídrico, ácido fosfórico, hidróxido de sódio, metilato de sódio e metanol), o laboratório da Fiagril também faz o controle de qualidade de diversos pontos do processo, além do biodiesel e seus subprodutos (glicerina, ácido graxo e borra).

Inicialmente, o laboratório da Fiagril pretende cadastrar na ANP dez tipos de análise de biodiesel, de um total de 22 exigidas para atestar por completo a qualidade do biocombustível (massa específica, viscosidade a 40°C, teor de água, ponto de fulgor, contaminação total, cinzas sulfatadas, corrosão ao cobre, ponto de entupimento, resíduo de carbono e glicerina total). “Temos como objetivo, mais adiante, cadastrar os demais ensaios, o que demandará mais aplicação de recursos financeiros pela empresa”, antecipa Raquel.

Mas os investimentos feitos trarão retorno, segundo a especialista da empresa. A expectativa da Fiagril é de que o laboratório próprio traga uma economia significativa de tempo e dinheiro. “Essa economia será de cinco dias, pois quando se envia amostras para qualquer laboratório terceirizado há o prazo para o recebimento e análise da amostra, além da emissão do certificado de qualidade para iniciar o carregamento do tanque de expedição”, resume. A empresa calcula que economizará aproximadamente mil reais por tanque (de 2 milhões de litros).