Francisco Barreto: Mercado internacional

Francisco Barreto: Mercado internacional

Revista BiodieselBR - A inclusão social pode efetivamente estar ligada à produção de biodiesel?

Francisco Barreto O governo decidiu isso em Brasília, não perguntou nada no campo nem na indústria. A estrutura do plano está equivocada. Mas é possível e plausível, além de ser muito importante para o Brasil. Mas quem tinha que fazer inclusão social era o governo, nós tínhamos a obrigação de comprar a matéria-prima. Mas o governo tentou empurrar o abacaxi para os empresários e nós estamos pagando a conta de tudo. Usar a agricultura familiar custa três vezes mais que a pseudo-isenção que o governo nos deu. Não vejo isso como incentivo. O governo está despreparado para fazer a inclusão social junto com o empresariado. Nós estamos abertos para isso, mas não da forma desorganizada como o governo quer. Deveria existir um órgão governamental para administrar esta inclusão. Os novos assentados vieram das periferias das grandes cidades, nunca trabalharam no campo. Hoje as lideranças sindicais estão orientando esses agricultores de forma errada. Os assentamentos estão completamente estagnados porque não existe política de assentamento. E quando tentamos fazer isso foi um desastre. A inclusão social só se dará se for precedida de um treinamento muito elaborado para os agricultores, específico para cada região do Brasil.

Revista BiodieselBR - E o Brasil está pronto para concorrer no mercado internacional de biodiesel?

Francisco Barreto No curto prazo não vejo chance. O Brasil tem o programa, mas não tem o financiamento. A dificuldade de crédito agora será muito grande por causa da crise na economia. Daqui para frente não será mais possível aumentar o número de indústrias nas regiões produtoras de grãos. Podemos até dobrar nossa participação hoje, mas será suficiente apenas para abastecer a demanda do mercado interno, não para exportar. A demanda por alimento é maior que por biodiesel.

Revista BiodieselBR - E o que fazer para melhorar a competitividade?

Francisco Barreto Precisamos mudar nossa matriz energética para o dendê. Eu acredito que a solução para o biodiesel no mundo está na Amazônia, mas na sua parte devastada, que fique claro, antes que algum ecologista xiita de ONG me critique. Na região do arco do desmatamento é onde está concentrada a maior extensão de áreas degradadas. São 20 milhões de hectares, onde poderão ser plantados dendê e floresta nativa, porque não pode haver monocultura de dendê na Amazônia. Nessa área é possível produzir 50 milhões de toneladas de biodiesel, 10% do consumo mundial. É preciso reflorestar, mas com sustentabilidade e rentabilidade.

Revista BiodieselBR  - Com a ameaça de recessão no Reino Unido, o fundo britânico Trading Emissions vai manter os investimentos previstos?

Francisco Barreto A Bionasa, por enquanto, não está sofrendo o impacto disso porque nosso investimento está praticamente terminado, mas um novo projeto vai ser difícil. Não tenho nenhum problema com os meus sócios ingleses. Eles têm uma busca pelo lucro, se desistirem do projeto vão desistir do próprio lucro.