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Miniusinas: Inviabilidade e Gestão


BiodieselBR - 22 dez 2007 - 13:24 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 10:23

Inviabilidade

As miniusinas esbarram em outro problema: a inviabilidade comercial de se produzir biodiesel para o mercado. “São muitas as exigências legais da ANP para se obter a autorização de produção, e o biodiesel fabricado precisa atender às especificações de qualidade”, diz Fernandes. “Diante disso tivemos que mudar o foco do projeto. Ao invés de produzirem o biodiesel para o mercado, as pequenas propriedades vão usá-lo para consumo próprio, em máquinas agrícolas, motores estacionários etc.”, justifica, acrescentando que a extração de óleo será a produção principal. “Vamos deixar a produção de biodiesel com as grandes usinas. A Brasil Ecodiesel já possui unidade extratora, mas a Petrobras Biocombustíveis, em Quixadá, não, e a empresa tem toda a infra-estrutura logística para mandar buscar o óleo nas miniusinas”, completa.

Mas há quem duvide inclusive da viabilidade econômica da produção de biodiesel para consumo próprio. “O biodiesel de mamona não tem competitividade, o custo de produção é alto demais para a pequena escala. O quilo está R$ 1,04; o litro do óleo é extraído a um custo de R$ 2,87. Portanto, o custo do litro do B100 fica entre R$ 3,50 e R$ 3,80 e não tem como competir com o diesel mineral”, diz Magalhães. Na avaliação de Fernandes, do Dnocs, o setor produtivo precisa de subsídios maiores. “Este é um projeto de cunho social. Nessa fase inicial, o programa não é viável, por isso o governo precisa remunerar melhor o agricultor”, diz.


Gestão

Além da falta de infra-estrutura, matéria-prima e equipamentos, o que tem engessado o projeto é a ausência de algo elementar em qualquer tipo de empreendimento: gestão e capital de giro. A idéia do Dnocs é montar um comitê gestor nas mini-indústrias, formado inicialmente por membros do próprio Dnocs, prefeituras, Banco do Brasil, Banco do Nordeste e da recém-criada Cooperativa de Produção da Agricultura Familiar e Biocombustível do Estado do Ceará (Copoperbio). “A idéia é que esse comitê participe da gestão no início até que a Cooperbio consiga sua autonomia”, diz Fernandes. “Temos que abrir linhas de crédito para que as indústrias tenham capital de giro. Não dá para simplesmente entregar a usina aos agricultores. Precisamos acompanhá-los nessa etapa”, diz Fernandes.

Por conta desse impasse, o governo do Estado está reavaliando sua participação no projeto. “Fizeram o projeto industrial, mas com a gestão mal resolvida. Enquanto isso não for solucionado, nós não pretendemos avançar”, diz Magalhães. “A cooperativa dos agricultores tem capacidade gerencial muito frágil. Não há infra-estrutura nem recursos para contratação de pessoal”, diz.

A saída para os problemas que paralisaram as miniusinas no Ceará pode vir do exemplo paranaense. Há um projeto em fase de estudo para construção de usinas de pequeno porte, desenvolvido pela Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel) em parceria com cooperativas. Para dar viabilidade econômica na pequena escala de produção, o projeto quer integrar unidades de recepção de grãos (milho e soja), de extração de óleo, de produção de biodiesel e de fabricação de ração (a partir da torta dos grãos). No projeto, estuda-se inclusive a criação de uma unidade de concentração de glicerina. “Tanto a ração como o biodiesel seriam destinados ao consumo próprio das cooperativas”, diz Francisco José Alves de Oliveira, superintendente da área de energias renováveis da Copel, que está coordenando o projeto.

“Na análise econômica, vimos que a produção em pequena escala é viável, embora a margem de lucro seja apertada. Se não houver gestão e controle rígidos, o projeto não se sustenta”, diz. Para Oliveira, o calcanhar de Aquiles na indústria de pequeno porte é a extração de óleo. “As prensas pequenas, mecanizadas, são menos eficientes. No mercado de soja, tanto o óleo como o farelo são commodities. A margem de lucro é muito pequena, e em certas épocas do ano são negativas”, diz.

O projeto piloto, que ainda está aguardando o aval do governo do Estado, tem a seu favor a cadeia produtiva integrada e o know-how administrativo da Copel. A expectativa em torno desta iniciativa é grande, pois caso funcione, pode ser um modelo a ser replicado em todo Brasil.