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Oferta e demanda: Gangorra sobe


BiodieselBR - 22 dez 2007 - 09:50 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 10:25

“Olha, 2008 foi um ano das mais fortes emoções”, brinca o diretor de operações da BSBios, Erasmo Carlos Battistella. O excesso de capacidade produtiva de hoje é brincadeira de criança quando comparado ao que tínhamos no início deste ano, época em que o mercado de biodiesel se restringia aos 800 milhões de litros do B2. Foi esse o principal motivo dos leilões 6 e 7 terem se transformado em um campo de batalha comercial, com empresas arrematando com deságios superiores a 22% em relação ao preço de referência (lembram da lei da oferta e procura?). “A disputa feroz por mercado levou a preços baixíssimos do biodiesel, que provocaram seis meses de dificuldades”, sintetiza.

Com o preço do biodiesel fixado lá embaixo, somado a um leilão que tinha intermináveis seis meses de validade, as empresas viram o fôlego sumir quando o preço dos óleos vegetais começou a disparar no mercado internacional (na Bolsa de Chicago, o óleo de soja, que era cotado a US$ 0,50 por libra- peso na primeira semana de janeiro, chegou a ser negociado no dia 15 de junho por US$ 0,66). A indústria do biodiesel só percebeu que havia passado uma rasteira em si mesma quando já era muito tarde. Dadas as condições, não chega a ser propriamente uma surpresa que a inadimplência aumentou muito e que os resultados foram anêmicos no período.

A própria BSBios passou os seis primeiros meses de 2008 em ponto morto por causa dos preços baixos. “Praticamente não produzimos nada. Só a partir do segundo semestre, quando os preços começaram a melhorar, foi que voltamos a funcionar e agora estamos com capacidade plena de produção”, anima-se o executivo, informando que sua empresa acaba de pedir para a ANP um aumento na capacidade autorizada de sua planta.

A Agrenco, por exemplo, está com a produção paralisada desde agosto passado, quando entrou em recuperação judicial para se salvar de uma grave crise financeira. Entre os problemas vividos pela multinacional está uma operação de hedge que acabou se transformando num pesadelo. “A ironia é que fizemos essa operação para nos proteger dos riscos e ela acabou ficando tão cara que acabou com o nosso fluxo de caixa e com o nosso crédito”, explica o novo diretor-presidente da empresa, Luiz Gustavo Silva, destacando que a empresa está implementando um plano de recuperação. “Pretendemos retomar a produção entre fevereiro e março que vem”, calcula.

Inegável que o terremoto foi sério e que o impacto ainda reverbera, mas o pior parece ter passado. O modelo dos leilões foi revisto para melhor, as empresas aprenderam preciosas lições sobre cautela comercial (o deságio ficou em níveis bem mais comportados: 4% nos leilões 8 e 9, e 1% nos leilões 10 e 11) e, por fim, a inadimplência vem caindo bastante. De acordo com a ANP, das 27 unidades que deveriam fazer entregas em outubro, 14 entregaram mais de 100% do combinado – adiantando parte da produção de novembro – e outras tantas chegaram a marcas acima dos 90%. “Os índices têm sido os maiores desde o começo do PNPB. Acho que podemos dizer que a fase da inadimplência já ficou para trás”, elogia Edson Silva.

Apesar do cumprimento dos acordos de entrega por parte das usinas, o governo continua se comportando como o proverbial gato escaldado. “Só quando tivermos total segurança na capacidade de entrega por parte das usinas é que vamos poder pensar em elevar a mistura sem o medo de que isso acarrete um desabastecimento”, conclui Rodrigues. Por via das dúvidas, o governo federal preferiu dimensionar o leilão 12 para atender à demanda do B3, o que significa que qualquer aumento da mistura obrigatória virá apenas a partir de abril do ano que vem.

A Ubrabio avalia que esse é um caso onde o governo pode estar pecando pelo excesso de prudência. “A inadimplência do primeiro semestre de 2008 teve causas bastante pontuais e que já estão resolvidas”, garante Ferrés.