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Produção e demanda em tempos de crise


BiodieselBR - 15 jan 2008 - 20:09 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 10:12
Biodiesel na inércia: Produção e demanda em tempos de crise

Produção e demanda

É fato que a crise nos mercados financeiros mundiais está afetando os planos de investimento das empresas. Mas há outro fator que desmotiva investimentos no setor: há capacidade instalada muito superior à demanda, que cresce lenta. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), até 3 de dezembro as indústrias autorizadas a produzir biodiesel no país somavam capacidade de 3,76 bilhões de litros, enquanto o B3, em vigor desde julho, demanda apenas 1,4 bilhão de litros por ano.

No caso do biodiesel, a preocupação de quem hoje concede crédito está muito mais relacionada aos próprios fundamentos do setor do que à crise propriamente dita, segundo Ricardo Cunha da Costa, gerente do departamento de Gás, Petróleo, Co-geração e Outras Fontes de Energia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Temos uma capacidade muito superior à demanda e as perspectivas não são muito animadoras para o biodiesel se considerarmos que atualmente os preços do petróleo estão muito baixos. O biodiesel, que já é mais caro que o próprio diesel, pode ficar ainda menos competitivo caso as cotações atuais do petróleo se sustentem”, afirma Costa. Ele acredita que esse cenário turbulento pode até influenciar negativamente na própria antecipação da mistura do B5 (5% de biodiesel) de 2013 para 2010.

Desde 2006, o BNDES investiu R$ 241 milhões em sete usinas, que representaram uma capacidade instalada de 691 milhões de litros de biodiesel. Outros projetos, que somam desembolso de R$ 417 milhões pelo banco e uma capacidade de produção de 302 milhões de litros, estão em diversas etapas de avaliação. “O que está aprovado, em torno de R$ 128 milhões, depende agora da contratação do recurso, que pode levar até 60 dias. O banco não está deixando de liberar dinheiro para os projetos aprovados”, ressalta Costa.

Estado de espera

Beltrão, da Ubrabio, concorda que a principal preocupação hoje circunda em torno desse descolamento entre oferta e demanda de biodiesel. Mas mantém-se a expectativa de que haverá antecipação da mistura, não só do B4, mas também do B5, com a qual o setor conta para sair da ociosidade que atinge quase dois terços da capacidade instalada. “A nossa capacidade instalada permite atender até uma mistura de 6% no diesel”, diz o diretor. Ele acredita que a trajetória ascendente do biodiesel daqui em diante depende, entre outros fatores, da antecipação do B5 para 2009. Sobre essa possibilidade, o Ministério de Minas e Energia (MME) apenas informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentará a questão porque a decisão não foi tomada, apesar de tecnicamente a medida ser possível. “O fato de o governo não definir logo a antecipação para o B5, combinado com a situação de crise mundial, deixa os investimentos em estado de espera”, lamenta Beltrão.

Além da antecipação, o setor conta também com o uso de biodiesel em misturas superiores a 5% – como B20 e B30 – em frotas cativas, como no transporte coletivo urbano. O conflito neste ponto, admite Beltrão, está na inviabilidade econômica do biodiesel na comparação com o diesel. “Em um primeiro momento, isso poderia significar aumento de tarifas à população. Mas o que é preciso considerar nessa equação são as externalidades positivas do biodiesel, como redução de poluentes e, conseqüentemente, doenças pulmonares. Há estudos da Universidade de São Paulo (USP) que mostram que uma menor liberação do enxofre pelo óleo diesel usado nos veículos pode evitar 150 mortes por ano na cidade de São Paulo. É uma questão de saúde pública. Por isso, não está descartada a possibilidade de se criar subsídios”, argumenta.

Outra frente de trabalho para garantir o futuro deste setor é a correção de distorções tributárias para que o Brasil possa competir na exportação de biodiesel com a Argentina. “O setor aqui é muito tributado para vender ao exterior, diferentemente do que ocorre no país vizinho”, compara Beltrão, acrescentando que o setor tem neste momento perspectivas positivas, independentemente da cotação da soja. “O importante é que o custo de produção seja refletido nos preços dos leilões.”