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Os problemas gerado pelos leilões


Out/nov 2008 - Por Fábio Rodrigues, de São Paulo - 24 out 2007 - 16:02 - Última atualização em: 23 jan 2012 - 10:43

O abalo

Mas o problema da superprodução é muito mais uma questão de fundo que, sozinha, não é capaz de explicar todos os desgostos que os produtores tiveram com o sistema de leilões. Como um problema quase nunca anda sozinho, nada poderia descrever melhor a conjunção de fatores que atingiu em cheio o setor de biodiesel.

Realizados em novembro de 2007 para suprir as necessidades entre janeiro e junho de 2008, os 6º e o 7º leilões da ANP (eles acontecem aos pares, primeiro o principal e, no dia seguinte, um complementar) deveriam entrar para a história como os primeiros a atenderem as necessidades da mistura obrigatória. Seria o fim da fase preliminar e o início do jogo de verdade com a ANP prestes a comprar 380 milhões de litros. Isso acirrou os brios dos produtores e – somado ao excesso de oferta – derrubou os preços do biodiesel, o deságio ultrapassou os 22% em relação do preço de referência definido pela ANP para os dois leilões (de R$ 2,40 por litro). Bastou o leilão terminar para que os preços da soja começassem a oscilar de forma violenta.

Na Bolsa de Chicago, mercado de referência quando o assunto é soja, a tonela do grão saiu de uma média de US$ 459,32 no mês de janeiro para US$ 547,74 em junho. De repente, os produtores se viram obrigados a comprar a matéria-prima ao preço do dia e vender o produto ao preço do ano passado. Não é preciso dizer o que isso deixou muita gente infeliz e forçou muitos a agüentar prejuízos pesados. Não é que os produtores já não olhassem torto para o sistema de leilões, mas agora eles tinham razões de sobra para reclamar.

Com mais de 30 anos de experiência no mercado de commodities, o presidente do conselho da Binatural, Francisco Lavor, não economiza críticas ao modelo. “Como é que você consegue se comprometer a vender com um preço fixo daqui a três meses se a sua matéria-prima varia diariamente? Assim, é mais fácil ganhar dinheiro jogando em Las Vegas”, ironiza informando que esse foi o motivo que levou sua empresa a ficar de fora dos leilões mais recentes (10º e 11º, acontecidos em agosto).

Poucas empresas simbolizam os vícios do modelo de leilões de forma tão exemplar quanto a Brasil Ecodiesel. Dona de seis unidades produtivas e uma capacidade autorizada total de 621 milhões de litros, a empresa é a que mais produziu biodiesel no Brasil. A Ecodiesel entrou nos fatídicos 6º e 7º leilões da ANP resolvida a fazer a concorrência sentir o peso de seu tamanho e atuou de forma agressiva para abocanhar um naco de 43% do volume negociado (coisa da ordem de 161 milhões de litros). A celebração durou pouco. "A gente perdeu quase R$ 100 milhões durante o primeiro semestre. É uma paulada e tanto para uma empresa que tem capital de R$ 300 milhões", lamenta o presidente da companhia, José Carlos Aguilera, aliviado por essa onda estar passando (recentemente a empresa anunciou a reestruturação de sua dívida) "no momento estamos empenhados em reconstruir os laços de confiança com o mercado e com nossos investidores".

A narrativa de Aguilera sobre como se formou a “tempestade perfeita” que atingiu em cheio a Brasil Ecodiesel não difere muito dos pontos já levantados por esta reportagem: um leilão demasiadamente competitivo (sintoma claro do excesso de oferta); prazos de entrega muito além do que seria prudente e a alta repentina da principal matérias-prima do setor. “Eu não estou tentando me esquivar da culpa, afinal foi a gente que decidiu competir intensamente naqueles dois leilões”, confessa o executivo ressaltando que sua empresa não foi a única a ver os balanços do primeiro semestre pintados de vermelho – segundo seus cálculos o setor como um todo perdeu cerca de R$ 400 milhões.
Tags: Leilões