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Os frigoríficos e o biodiesel


BiodieselBR - 14 nov 2008 - 13:56 - Última atualização em: 15 mar 2012 - 12:06
Alguns dos principais frigoríficos do país correram para iniciar a produção comercial de biodiesel a partir do sebo animal. Mas com a disparada no preço do sebo os projetos foram engavetados

Por Alice Duarte, de Curitiba

No início do Programa Nacional de Produção de Biodiesel (PNPB) muitos frigoríficos se animaram com a possibilidade de entrar para o mercado de biocombustíveis. O entusiasmo – estimulado pela quantidade disponível de sebo animal, um subproduto da pecuária – levou vários frigoríficos a estudar projetos de implantação de usinas. Uma pesquisa realizada pela BiodieselBR no início de 2008 mostrou que das 119 usinas comerciais instaladas ou em implementação no Brasil, 42 declararam interesse em utilizar sebo entre suas matérias-primas. Mas diante de um mercado ainda muito volátil, da falta de incentivos fiscais e da alta no preço do sebo, muitos frigoríficos - que já tinham o “queijo” na mão - recuaram, esperando o setor dar sinais de consolidação.

A Dedini S/A Indústrias de Base, que fornece usinas completas para o setor de biodiesel e sucroalcooleiro, chegou a elaborar em 2005 seis orçamentos de plantas de biodiesel a partir de sebo animal, com capacidades produtivas de doze a 110 milhões de litros/ano. “Houve uma procura por vários frigoríficos no início do PNPB, mas atualmente nós não temos recebido novas solicitações”, disse Ernesto Del Vecchio, do departamento de vendas de plantas de biodiesel da Dedini. A indústria, com sede em Piracicaba (SP) e unidades em Sertãozinho (SP), Maceió (AL) e Recife (PE), tem participação forte no fornecimento de plantas de biodiesel, apresentando atualmente 60% do market-share das usinas com capacidade superior a 50 mil toneladas/ ano. Por estratégia comercial, Vecchio não quis divulgar quais frigoríficos consultaram a Dedini sobre o assunto. Segundo ele, até o momento somente o Grupo de Frigoríficos Bertin S/A adquiriu uma planta para utilização desta matéria-prima.

Alguns frigoríficos chegaram a instalar usinas, mas a Bertin é o único com produção comercial no Brasil. O grupo inaugurou em Lins (SP), em agosto de 2007, a primeira usina de biodiesel produzido a partir de sebo bovino no país, anunciada como a maior usina desse tipo no mundo, com capacidade instalada para produzir 121,5 milhões de litros ao ano, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP). A maior parte da produção de biodiesel da Bertin está sendo comercializada no mercado interno. O restante fica na própria empresa, que abastece máquinas agrícolas, caminhões e ônibus.

No ano passado, o diretor comercial do frigorífico, Rogério Barros, anunciou a intenção de instalar outras duas plantas de biodiesel, uma anexa ao frigorífico de Campo Grande (MS) e outra em Diamantino (MT). Todas a partir do sebo bovino. Desde então ambos os projetos ficaram em estudo e somente agora o grupo intensificou a busca por fabricantes para sua usina em Campo Grande.

O frigorífico Independência, de Cajamar (SP), está produzindo biodiesel, mas por enquanto em fase experimental. Segundo Elisabetta Maria Giulia Taddeucci, gerente corporativa de bioenergia do frigorífico, eles já têm cinco usinas instaladas e a idéia é atender a frota da empresa, estimada em mais de 800 veículos. Para se ter uma idéia da sustentabilidade do negócio: o Independência consome aproximadamente doze litros de diesel de petróleo para transporte de cada animal abatido (do pasto ao prato). Mas cada animal abatido rende muito mais do que isso de sebo. “O rendimento da matériaprima, mais insumos necessários para a produção de biodiesel, é de quase 1 litro de sebo para 1 litro de biodiesel”, compara. “Acreditamos que é possível produzir, ao mesmo tempo, carne, couro, fertilizante e energia em cada hectare de terra.”

Mesmo que a produção seja destinada para consumo próprio, a legislação obriga o produtor a ter autorização da ANP, o que o Independência ainda não possui. “Estamos providenciando os registros e licenças necessárias para iniciar a atividade propriamente dita”, diz Elisabetta. A expectativa, de acordo com a gerente, é produzir 30 mil litros por dia em cada usina. “Já adquirimos cinco processadores de biodiesel. Por isso a capacidade instalada será de 45 milhões de litros, considerando 300 dias de produção no ano”, diz. A empresa optou por processadores de biodiesel modulares e totalmente automatizados. Segundo a gerente, são usinas pequenas, que podem ser instaladas e, se necessário, transferidas para perto das unidades abatedoras. “Não é um investimento tão alto quanto os que têm sido feitos por outros produtores de biodiesel”, diz. A gerente não descarta a possibilidade do Independência começar a produzir comercialmente. “Desde que a produção, comercialização e consumo estejam dentro dos parâmetros legais, sejam economicamente viáveis e reforcem a sustentabilidade da empresa, a comercialização e participação nos leilões da ANP não pode ser descartada”, afirma. Além da produção de biodiesel para consumo próprio, que começará em breve, o frigorífico destina a produção de sebo para a indústria de higiene e limpeza.