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Produtores defendem aumento da mistura de biodiesel no diesel fóssil


Valor Econômico - 31 mai 2022 - 08:35

Os produtores de biodiesel pretendem intensificar a articulação junto ao governo federal para que a mistura do produto no diesel fóssil volte a ser elevado. O percentual está em 10%, mas o segmento acredita que o espaço para um eventual incremento cresceu diante das discussões sobre a possibilidade de falta do combustível no país.

“Pela lógica, a atitude mais racional seria uma elevação para 12% ou 13%, aproveitando o emprego ‘verde’ sem importar mais diesel fóssil”, disse o ex-ministro da Agricultura Francisco Turra, presidente do Conselho de Administração da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), ao Valor.

A adição de 14% de biodiesel no diesel, ao invés de 10%, pouparia a compra de 2,5 bilhões de litros de combustível estrangeiro em um ano, calcula Turra. “Já passamos todas as informações ao governo e esperamos que aconteça algo corrigindo decisões equivocadas”.

O segmento ainda não digeriu os seguidos cortes na mistura. Pelo cronograma original, o teor de adição era para estar em 14% e ser elevado a 15% em março de 2023. O governo alegou que a alta dos preços da soja, principal insumo do biocombustível, afetaria o preço final aos consumidores, e decidiu reduzir o índice.

Em janeiro, o Ministério de Minas e Energia (MME) disse que o aumento do teor do biodiesel de 10% para 13% até fevereiro, e para 14% entre março e dezembro, significaria um gasto adicional de R$ 9,15 bilhões ao longo do ano para a população, considerando o consumo projetado e o preço do biocombustível à época.

A chegada de Adolfo Sachsida ao comando do MME neste mês aumentou a tensão no segmento de biocombustíveis, que passou a temer novos cortes, já que o ex-assessor de Paulo Guedes foi um dos principais defensores de uma a redução ainda mais forte na mistura em recentes discussões. Com o alerta da Petrobras e de distribuidoras sobre os baixos estoques de diesel, o caminho pode ficar menos tortuoso.

“Se o governo efetivamente avaliar que existe a possibilidade de haver falta de diesel, ou mesmo que sejam problemas de desabastecimento pontuais que não deveriam ocorrer, o biodiesel é a melhor solução. O segmento está preparado”, afirmou André Nassar, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Com a oferta de óleo de soja garantida no país, as indústrias atingiram volumes expressivos de exportação em abril. Foram mais de 260 mil toneladas, alta de 25% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Assim, haveria disponibilidade de biodiesel extra em caso de elevação da mistura. “Já havíamos apresentado a proposta para aumentar para B12, pois há disponibilidade de óleo para isso de julho a dezembro”, disse Nassar. O aumento de B10 para B12 significaria incremento de 600 milhões de litros do biocombustível das usinas para os tanques dos veículos.

“A indústria de biodiesel pode contribuir rapidamente com o suprimento de pelo menos 2 pontos a mais da mistura a partir do próximo mês, e evoluir a cada bimestre com pelo menos um ponto percentual”, afirmou Donizete Tokarski, diretor-executivo da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).

O “x” da questão ainda é o preço. O biodiesel está mais caro que o diesel. Na apuração da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre 16 e 22 de maio o litro de biodiesel custava, em média, R$ 7,37 no país, enquanto o litro do diesel S-10 era vendido a R$ 4,93.

Enquanto o governo se desdobra para tentar baixar o preço ao consumidor, a mistura mais alta de biodiesel poderia gerar efeito inverso. "Como se eleger com preços ainda mais elevados na bomba?", questionou uma fonte de Brasília, em referência às eleições presidenciais. “O combustível mais caro é aquele que não está disponível”, rebate Tokarski.

Rafael Walendorff – Valor Econômico