Com nova usina, Delta Energia cresce no mercado de biodiesel
Nascida com a liberalização do mercado de energia elétrica no país no início deste século, a Delta Energia dará um passo importante para ampliar sua presença no mercado de biocombustíveis. A empresa vai inaugurar na semana que vem sua segunda usina de biodiesel, em Cuiabá (MT). O aporte, cujo valor não foi revelado, catapulta a companhia dos sócios Ricardo Lisboa e Rubens Parreira à posição de quinta maior fabricante de biodiesel do país, atrás de companhias já tradicionais como BSBios, ADM e Granol, num momento em que perspectivas positivas animam o segmento.
A unidade mato-grossense foi adquirida neste ano do Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMA), e estava parada há seis anos. De acordo com a Delta, a usina recebeu investimentos para a ampliação de sua capacidade e em modernização, e agora está preparada para produzir até 360 milhões de litros de biodiesel ao ano - sétima maior capacidade do segmento, afirmou Silvio Roman, superintendente de biodiesel da empresa, ao Valor.
A primeira unidade da Delta, em Rio Brilhante (MS), também recebeu investimentos em 2018 e teve sua capacidade duplicada, para cerca de 220 milhões de litros por ano. Quando as duas unidades da companhia estiverem funcionando a plena capacidade, o volume de produção poderá atingir até 580 milhões de litros de biodiesel por ano - o que, dado o preço do último leilão (R$ 2,857 o litro) promovido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), garantiria uma receita anual de quase R$ 1,5 bilhão.
A aposta da companhia no segmento foi impulsionada pela implantação, por parte do Ministério de Minas e Energia (MME), do cronograma de aumento da mistura obrigatória de biodiesel no diesel no país, cujo primeiro passo, neste ano, foi o aumento do percentual de 10% para 11% - o B11 que começou a ser praticado no último leilão da ANP.
“Estamos no momento certo. Vimos que tínhamos que aumentar nossa produção, procurar novas usinas”, disse. Apenas no último leilão, a demanda foi 100 milhões de litros maior, ressaltou o executivo. Como o cronograma do governo prevê aumentos da mistura de 1 ponto percentual por ano até 2023, quando todo o diesel vendido no país terá que ter 15% de seu correspondente renovável, a expectativa é de forte avanço da demanda pelo produto.
Nos leilões deste ano, a Delta comercializou R$ 198,7 milhões em biodiesel produzido em Rio Brilhante (MS), segundo dados da ANP. A companhia não informa sua receita total, que inclui os negócios de comercialização de energia elétrica e etanol, mas diz que o segmento de biodiesel representa 10% da receita. Se levadas em consideração as vendas de biodiesel de 2018 por leilões registradas pela ANP, o faturamento total da Delta no ano ficou em torno de R$ 2,7 bilhões.
Segundo Roman, a intenção da Delta Energia é participar com sua nova usina no último leilão do ano, em novembro e dezembro.
A decisão por crescer em biodiesel em Mato Grosso está relacionada não só à abundância de matéria-prima na região - como óleos vegetais e gordura animal -, mas também ao benefício fiscal previsto na legislação estadual, que reduz a incidência de ICMS nas vendas do biodiesel. A usina em Mato Grosso do Sul também conta com o benefício.
A Delta vê pela frente espaço para incorporar mais usinas de biodiesel, especialmente se o governo determinar um novo marco regulatório para o biodiesel para o período posterior a 2023, disse Roman. “O mais importante para o crescimento do setor é o aumento da mistura. Depois vem a retomada econômica”, ressaltou. “Mas, daqui para frente, podemos ter mais usinas”.
Embora exista capacidade ociosa, ele estima que estão menores as possibilidades de aumento da produção apenas dentro da capacidade instalada no país atualmente. Segundo dados da ANP de julho - antes da entrada em vigência do B11 -, a capacidade ociosa dentro do total autorizado a operar estava em 30%. Mas, conforme Roman, o aumento da demanda com a nova mistura já reduziu “bem” essa diferença.
Em agosto, quando as usinas já estavam trabalhando com a expectativa de vigência do B11, a produção bateu recorde mensal de 503 milhões de litros, segundo a ANP.
Além do mercado de biodiesel, a Delta Energia também atua na comercialização de etanol e, neste ano, está estudando a entrada no mercado de distribuição do combustível.
Camila Souza Ramos – Valor Econômico