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Cofco investe em silos e logística e vê avanço na área de grãos no Brasil


Valor Econômico - 07 jun 2019 - 09:50

"O domínio da fonte do alimento é o domínio do comércio. Logo, o controle da precificação". Escrita em português e mandarim na parede da principal sala de reuniões da sede da Cofco International na capital paulista, a frase define com precisão o papel do Brasil na estratégia da maior trading chinesa de produtos agrícolas. Embora tenha liberdade para atuar como qualquer outra trading, a companhia é responsável por abastecer com grãos e outras commodities boa parte da demanda de sua controladora Cofco, um grupo de alimentos sob domínio estatal e faturamento de cerca de US$ 70 bilhões por ano. Nessa estratégia, o Brasil é sua principal fonte de soja.

Ainda que cumprir essa missão não tenha sido fácil nas últimas safras, a subsidiária brasileira da trading está renovando suas metas de ampliar os volumes embarcados de 7% a 10% ao ano nos próximos cinco anos. Para isso, pretende investir pelo menos US$ 200 milhões nos próximos dois anos, sobretudo em logística e armazenagem. É a continuidade de uma estratégia que, nos últimos dois anos e meio, contemplou, por exemplo, aportes de US$ 30 milhões em quatro silos em Mato Grosso. Quando os dois últimos ficarem prontos, a empresa terá agregado 300 mil toneladas à sua capacidade de armazenagem.

"O menor crescimento econômico chinês não afetou matérias-primas e rações. Pelo contrário, o consumo de carne de frango, entre outros itens, aumentou. Mesmo o surto de peste suína, que reduz a demanda de grãos para a produção de rações para esses animais, até agora teve reflexos limitados, já que está havendo uma migração de compras para frango e peixes. Apesar disso, é um momento de redução das exportações de soja do Brasil para a China, que aumentou as compras nos EUA nos últimos meses apesar das disputas comerciais entre os dois países. Mas esse momento vai passar e temos que nos preparar para crescer", diz Valmor Schaffer, presidente da Cofco International no Brasil e principal gestor dos ativos globais da trading, exceto no segmento de "soft commodities" como açúcar e café.

Na safra 2016/17, quando a demanda total da Cofco na China foi de cerca de 22 milhões de toneladas de soja, a subsidiária brasileira da trading Cofco International exportou 8,5 milhões de toneladas de soja (a maior parte do volume) e milho. Com a greve dos caminhoneiros e o aumento de custos provocado pelo tabelamento dos fretes rodoviários no Brasil, o fluxo permaneceu estável em 2017/18, e para este ciclo 2018/19 a expectativa é de avanço para até 9,2 milhões de toneladas. A soja deverá representar 60% desse volume, e 85% dos embarques da oleaginosa serão destinados à gigante chinesa de alimentos - o restante será vendido para outros clientes, inclusive em outros mercados.

"Mas ainda estamos cautelosos, já que a tabela dos fretes não está resolvida. É um problema para o nosso segmento. Tirou a previsibilidade e prejudicou muito as negociações de compra e venda antecipadas, que estão praticamente paradas", diz Schaffer. "Também ainda enfrentamos problemas nas estradas para exportar pelo Norte do país, onde temos contrato de escoamento de longo prazo com a Hidrovias do Brasil em Barcarena, no Pará, e movimentamos grandes volumes. O alento, nesse caso, é que a ferrovia [administrada pela Rumo] ganhou eficiência", afirma ele.

O executivo não revela detalhes, mas diz que a trading deverá fazer um investimento expressivo na área portuária no Brasil. Mas nessa frente a preocupação diminuiu nos últimos dias, já que os aportes realizados por diferentes empresas melhoraram a estrutura disponível e geraram até ociosidades. "Houve muito ganho de eficiência, e atualmente há capacidades ociosa em portos como Santos (SP), Paranaguá (SP), São Francisco do Sul (SC) e Tubarão (SC), entre outros. Rio Grande (RS) é uma exceção, mas a situação está bem melhor".

No Brasil, a Cofco já conta com dois terminais portuários em Santos. Um é usado para exportar grãos e o outro, na importação de trigo, sobretudo argentino. "No país vizinho, disputamos a liderança nas exportações do cereal, e no Brasil, somos o segundo principal fornecedor de trigo importado para os moinhos". No Brasil, a trading também tem um complexo de processamento de soja, que conta com uma fábrica de biodiesel que foi recentemente ampliada tendo em vista a tendência de crescimento da demanda, em linha com o aumento da mistura obrigatória do biocombustível no diesel fóssil.

"Somadas as usinas de açúcar e etanol [quatro unidades com cerca de 6 mil funcionários, que não estão sob o guarda-chuva de Schaffer], o Brasil é o país onde temos mais ativos", afirma. Segundo o executivo, a estrutura física da trading se espalha atualmente por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, EUA, Romênia, Espanha, Inglaterra, Ucrânia, Cazaquistão, África do Sul, Austrália e Índia. "Portos, armazéns e silos temos em praticamente todos esses países. Além do Brasil, temos fábricas em Argentina - de onde exportamos muito farelo e óleo -, África do Sul e Ucrânia", diz.

"Além dos aportes no Brasil, estamos investindo na Ucrânia e na Romênia, basicamente em portos e armazenagem. Na Ucrânia, a operação é parecida com a do Brasil, mas com foco em trigo, milho, canola e girassol", afirma. Também há um esforço de aproximação com a Rússia, mas nesse caso a estratégia tem sido conduzida pela China. Nessa expansão global, conta Schaffer, a Cofco também vem mudando sua governança e adotando regras cada vez mais rígidas para garantir a sustentabilidade da matérias-primas que origina e exporta, atendendo exigências de Pequim. No Brasil, destaca, a cadeia de suprimento tem sido monitorada via satélite com soluções da agtech Agrotools. Não são tão raros os descredenciamentos de fornecedores, mas em geral, afirma, os agricultores têm cumprido as exigências à risca.

Fernando Lopes – Valor Econômico