BBF prevê R$ 5 bilhões para combustíveis renováveis, química de palma e etanol de milho
A Brasil BioFuels (BBF), maior produtora de óleo de palma na América Latina, com atuação também em geração termelétrica e biodiesel na região Amazônica, investirá mais de R$ 5 bilhões nos próximos três anos para avançar em combustíveis renováveis de segunda geração e, também, na química verde, além de etanol de milho, disse o CEO da companhia à Reuters.
Em abril, a BBF detalhou um investimento de cerca de R$ 2 bilhões em um projeto de biocombustíveis avançados a partir do óleo de palma com capacidade para 500 milhões de litros ao ano, visando atender um contrato com a Vibra Energia.
Agora o valor do empreendimento, que inclui uma biorrefinaria em Manaus, subiu R$ 200 milhões para alcançar R$ 2,2 bilhões, disse o presidente da BBF, Milton Steagall, explicando que o aporte adicional é para acomodar uma indústria de química verde que terá como matéria-prima o palmiste (a noz do fruto da palma).
“Com o volume que vamos fazer para a Vibra na biorrefinaria, vamos produzir SAF (combustível de aviação renovável) e diesel verde, e vai sobrar o hidrogênio para hidrogenar a produção do palmiste, aí faço vários produtos químicos renováveis que podem substituir os petroquímicos”, explicou o CEO.
“Isso vai ser uma revolução quando o mundo conhecer”, acrescentou o executivo, cuja família é sócia majoritária na BBF, que tem também outros acionistas com participações inferiores a dois dígitos percentuais.
O executivo não detalhou o total previsto de investimentos de cerca de R$ 5 bilhões nos próximos três anos. Mas, questionado sobre o assunto, afirmou que deverão ser destinados à biorrefinaria em grande parte, assim como em expansões em etanol de milho, termelétricas, entre outros projetos.
A BBF adotará tecnologia da Topsoe, com sede na Dinamarca, para reciclar os gases e líquidos provenientes do processo produtivo na biorrefinaria e reutilizá-los para a produção de hidrogênio.
“Registramos dez patentes (de produtos relacionados) à química verde”, disse Steagall, frisando que esse projeto só não foi divulgado antes porque a companhia ainda buscava o domínio da tecnologia de produção e não tinha segurança se o volume de palmiste seria suficiente para dar escala ao empreendimento.
O volume do palmiste representa menos de 10% do fruto da palma.
Para atender a contrato com a Vibra, a BBF plantará 120 mil hectares de palma em terras degradadas de Roraima, uma forma de recuperar áreas desmatadas.
A companhia já tem 5,8 mil hectares plantados em Roraima, mas a maior parte de sua operação agrícola fica no Pará atualmente, com cerca de 63 mil hectares, pois a empresa adquiriu a Biopalma, da mineradora Vale, há cerca de dois anos.
Abertura de capital
Uma das pioneiras na geração de energia nos sistemas isolados com usinas movidas a biodiesel, a BBF tem um modelo de negócios integrado, comercializando também óleo de palma para a indústria de alimentos.
Com operações em Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima e Pará, compreendendo 38 usinas termelétricas (25 em operação e 13 em implementação), três unidades de esmagamento de palma, uma unidade de esmagamento de soja e uma indústria de biodiesel, a companhia projeta elevar o faturamento para cerca de R$ 1,4 bilhão em 2022, versus R$ 1,1 bilhão em 2021.
A receita deve saltar para R$ 2,3 bilhões em 2023, com várias térmicas entrando em operação, revelou o CEO. Para 2025, quando começa o projeto com a Vibra, o faturamento esperado é de US$ 1 bilhão.
Aos ativos atuais, a companhia projeta agregar um novo negócio, de etanol de milho em Boa Vista, com investimentos iniciais de R$ 220 milhões e capacidade de 100 milhões de litros ao ano. Esse investimento não inclui o custo das áreas agrícolas, já que a BBF também quer produzir a própria matéria-prima, pois vê o valor da terra em savanas de Roraima como competitivo.
“Imagino antecipar a construção da planta de etanol. Constrói em 16 meses, já entrei com licenciamento há três meses, estamos preparando licenciamento”, afirmou.
Questionado se considera abrir o capital da empresa, ele admitiu que essa é uma possibilidade, mas teria de aguardar o melhor momento. “Hoje o mundo está muito conturbado, o que queremos é mostrar mais coisas funcionando”, afirma.
Roberto Samora – Reuters