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Política

Reajuste do diesel vai depender da inflação


Valor Econômico - 14 ago 2013 - 09:47 - Última atualização em: 14 ago 2013 - 11:58

Há no governo um sentimento consolidado de que a política de contenção dos reajustes de combustíveis às custas da Petrobras não foi bem-sucedida. Há também o reconhecimento de que é preciso corrigir os preços da gasolina e do diesel no horizonte mais curto possível. Assessores próximos da presidente Dilma Rousseff afirmam que a velocidade do ajuste dependerá da inflação. O governo não arriscará um IPCA este ano acima dos 5,8% registrados em 2012.

O reajuste dos combustíveis, portanto, apesar de estar na pauta do governo, dependerá do comportamento da inflação até o fim do ano. De acordo com autoridade ouvida pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, apesar de pouco provável hoje, pode se consolidar um cenário em que a desaceleração no crescimento da economia e o repasse da desvalorização cambial para os preços internos sejam menos intensos que o esperado e a inflação fique um pouco abaixo dos 5,84% que servem de teto para o governo.

Se isso ocorrer, as chances de a Petrobras conseguir autorização para elevar os preços do diesel e gasolina aumentam significativamente. No governo, não se espera que um eventual reajuste este ano seja suficiente para compensar a defasagem dos derivados em relação ao mercado internacional.

Com a inflação pressionada, o governo dificilmente levará a discussão adiante este ano. Mas admite que em 2014 será inevitável fazer um ajuste. O melhor cenário seria fazer parte do aumento em 2013 e parte dele no ano que vem.

Não há expectativa no governo de realinhamento rápido dos preços de combustíveis e derivados ao mercado mundial. Além da inflação, o calendário eleitoral também deve influenciar na decisão. De acordo com o interlocutor da presidente, porém, houve o reconhecimento de que será preciso fazer "correções e ajustes". Essa seria a principal mudança no cenário.

De acordo com cálculos do mercado, a defasagem entre preços internos e externos da gasolina varia entre 22% e 23,5%. No caso do diesel, de 18% a 24%. A situação piora com a volatilidade do dólar, já que a desvalorização eleva em reais o custo dos produtos importados.

Na segunda-feira, o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, disse que a empresa busca "intensamente" uma correção nos preços ainda este ano e que, caso isso não aconteça, pode haver aumento no nível de alavancagem da companhia. A notícia foi mal recebida pelo mercado, que derrubou a cotação das ações da estatal.

A decisão de segurar os preços dos combustíveis vem desde 2010 e o objetivo tem sido segurar a inflação. Agora, se encontra numa armadilha: os preços continuam altos e a estatal já não tem caixa suficiente para queimar, sem comprometer seus indicadores. No segundo trimestre, a Petrobras investiu R$ 23,1 bilhões. Para isso, usou R$ 7 bilhões do caixa, já que as receitas operacionais, R$ 16,1 bilhões, não foram suficientes.

Para reajustar o preço da gasolina e demais derivados, a Petrobras precisa de autorização do Conselho de Administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. O último aumento foi autorizado em janeiro, quando a gasolina subiu 6,6% e o diesel 10,5%. A Petrobras usa hoje 99% de sua capacidade de refino. Ao mesmo tempo, de 2008 a 2012, o consumo de gasolina cresceu 58% e o Brasil saiu da situação de exportador, com receita de US$ 1,8 bilhão em 2007, para a de importador, com gasto de US$ 3 bilhões em 2012.

Na avaliação do governo, as ameaças de CPI para investigar denúncias de corrupção na área internacional da Petrobras não devem ter fôlego longo. A expectativa é que nem se chegue a instalar a comissão e de que a necessidade de interferência direta para conter eventual comissão de inquérito não será necessária.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem, que o governo reconhece que há defasagem em relação ao preço internacional, porém isso não quer dizer que o pedido da Petrobras será atendido. Lobão ressaltou que a decisão passa pelo Ministério da Fazenda. Ele disse que, além das avaliações de impacto econômico da medida, o ministro Guido Mantega é o presidente do conselho de administração da estatal.

Leandra Peres - Valor Econômico