Países querem dobrar uso de bioenergia até 2030
O lançamento Plataforma para o Biofuturo, na semana passada, ratificou o empenho de países para dobrar a participação da bioenergia na matriz até 2030 e acelerar a transição energética.
A estratégia da Biofuturo é promover estudos envolvendo os 20 países que integram a plataforma, analisar os projetos para transição energética que estão sendo implementados e replicar essas experiências, por meio de recomendações para políticas públicas.
Renato Godinho, chefe da Divisão de Recursos Energéticos Novos e Renováveis do Ministério das Relações Exteriores, destaca que a cooperação envolve políticas como o RenovaBio no Brasil, o Green Fuel Standard no Canadá, a ambiciosa política de biocombustíveis na Índia, o mandato de etanol na China e a inclusão de metas para descarbonização do setor aéreo no France Relance.
Os cinco princípios para que os pacotes econômicos de curto e longo prazos no pós-pandemia avancem rumo à bioeconomia, divulgados em agosto, por exemplo, orientam os países a reavaliar os subsídios a combustíveis fósseis e recompensar a sustentabilidade.
“As agências internacionais falam que tem que duplicar a bioenergia até 2030, e triplicar nos transportes, e os países reconhecem isso e assumem compromissos que vão orientar as políticas nacionais”, explica Godinho.
A pandemia de covid-19, contudo, atrapalhou alguns projetos e trouxe revisões de metas, como no caso do RenovaBio no Brasil. Mas também abriu oportunidades.
“Os países estão aproveitando para colocar mecanismos de sustentabilidade nos programas de reconstrução econômica e contemplam a bioenergia”, conta Godinho.
O France Relance colocou, como uma das condições para as companhias aéreas que recebem o pacote de ajuda do governo, o compromisso com vários requisitos de emissões e sustentabilidade.
Entre eles, projetos de investimento no setor aéreo devem “desenvolver a produção verde (antecipando ou indo além das normas da UE), relativas a ferramentas de produção de eficiência energética ou promoção de energias renováveis, bem como permitindo promover a reciclagem ou reuso de materiais em sua produção” (veja o PDF).
“A Biofuturo mudou o discurso internacional sobre transição energética. Antes as iniciativas ignoravam o papel da bioenergia. Agora, a AIE reconhece que o potencial é alto com as novas tecnologias”, finaliza Godinho.
Um caminho é a facilitação de cooperações bilaterais e multilaterais
O acordo de cooperação assinado em janeiro deste ano entre Brasil e Índia na área de biocombustíveis é um exemplo. Memorando que formaliza a cooperação foi publicado pelo Brasil em agosto.
De um lado, Índia pode contar com a experiência brasileira para tornar o etanol mais competitivo, enquanto estuda a mistura obrigatória do biocombustível de 15% a 17%.
De outro, o ambicioso plano indiano de instalar 12 usinas de etanol de 2ª geração já nos próximos anos tem interessado as empresas brasileiras.
Iniciativa liderada pelo Brasil, a Plataforma Biofuturo foi criada em 2016 para funcionar como uma ferramenta de colaboração internacional para intercâmbio de experiências e tecnologias, e geração de negócios.
Mas o desgaste internacional do governo brasileiro na agenda ambiental pode colocar as políticas na área de bioenergia em uma situação de fragilidade.
Há um entendimento que o setor de biocombustível não estará imune às crises ambientais – como a do Pantanal –, sob risco das pressões internacionais, que não distinguem o agro que cumpre a lei daquele que queima e desmata, justamente quando se tenta cooperar pelo desenvolvimento de um mercado global.
Em uma live na sexta (18) sobre a Amazônia, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, disse que o Brasil tem que usar a diplomacia e as ações que estão sendo feitas na Amazônia para responder à intenção da França de não ratificar o acordo Mercosul-União Europeia.
Nesta sexta (18), o primeiro-ministro francês recebeu um relatório apontando impactos ambientais que devem ser provocados caso a negociação seja ratificada, por exemplo – historicamente, a França é a principal voz contra o acordo, graças ao forte lobby do setor agropecuário do país.
Entre 2009 e 2012, o Brasil conseguiu aumentar a produção de combustíveis e alimentos e reduzir o desmatamento na Amazônia. Mas a mudança de quadro nos últimos anos reacende o debate, principalmente vindo da Europa, que relaciona a produção de biocombustíveis à supressão das florestas brasileiras.