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Política

Governo quer trocar diretores da Petrobras para segurar preço dos combustíveis


O Globo - 06 out 2022 - 09:16 - Última atualização em: 12 abr 2024 - 08:41

Na tentativa de segurar e até reduzir os preços dos combustíveis em meio à corrida eleitoral do segundo turno das eleições neste mês, o governo federal está tentando trocar três diretores da Petrobras. O movimento ocorre em um momento em que os combustíveis vendidos no Brasil estão mais baratos que os comercializados no exterior, aumentando a pressão do mercado por um aumento nos preços.

A defasagem em relação ao mercado internacional está em 8%, no caso da gasolina, e em 3%, no do diesel.

De acordo com fontes ligadas ao alto escalão da companhia, a intenção do governo é mudar os diretores que fazem parte do comitê responsável por decidir os movimentos de alta e queda nos preços dos combustíveis.

Esse comitê é formado pelo presidente da Petrobras, Caio Paes de Andrade; e pelos diretores de finanças e relacionamento com investidores, Rodrigo Araujo Alves; e de comercialização e logística, Cláudio Mastella.

Na lista está ainda a mudança da diretoria de governança e conformidade, que tem o poder de vetar as decisões do comitê. Essa fonte explicou que a estratégia do governo é acabar com as barreiras para o momento em que se desejar reduzir os preços dos combustíveis.

Nos corredores da Petrobras, o nome mais cotado para assumir a diretoria de finanças é o de Esteves Colnago, atual secretário especial do tesouro e orçamento.

Na área de governança, dois nomes são cotados, segundo fontes: Fernando Antônio Ribeiro Soares, atual assessor da presidência da Petrobras e ex-secretário de coordenação e governança das empresas estatais, e Wagner Rosário, atual ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU).

“Invasão de governança”

Mas o próprio governo sabe que trocar o diretor de governança pode ser mais complexo, já que o nome precisa ser escolhido por meio de uma lista tríplice. Fontes afirmam que a estratégia do governo é tentar as diversas alternativas para ter em mãos o poder de reduzir os preços com mais facilidade.

Um dos argumentos que devem ser usados é a chegada do diesel russo ao Brasil. Especialistas dizem, porém, que o volume é pequeno se comparado ao total da demanda.

As fontes destacam que a Petrobras vem sofrendo com uma “invasão de governança”. Uma das pessoas a par do assunto afirmou que o movimento de troca de diretores “já está em andamento”.

Desde a chegada de Caio Paes de Andrade à estatal, apenas um novo diretor foi nomeado: Paulo Palaia, na área de transformação digital e inovação. A indicação gerou críticas dos membros independentes do conselho de administração da estatal, de acordo com ata divulgada pela empresa.

Há uma resistência do corpo técnico da Petrobras em reduzir os preços sem ter como parâmetro indicadores econômicos, como a cotação do dólar e do petróleo. Isso porque os diretores temem ser responsabilizados juridicamente pelos acionistas. Procurada, a Petrobras não quis comentar a possível mudança na diretoria.

Apesar do movimento de “força total” para reduzir os preços, a diretoria da estatal vem pedindo cautela ao governo. Foi solicitado um prazo de duas semanas para saber como os preços do mercado internacional vão se comportar.

Ontem, 5, na primeira reunião presencial da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) desde a pandemia, os membros, liderado pela Arábia Saudita, decidiram cortar a produção em dois milhões de barris diários para manter os preços.

O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sergio Araujo, diz que há uma expectativa de que o preço do petróleo se mantenha em patamar elevado por conta da decisão da Opep+.

Segundo dados da Abicom, o preço da gasolina no Brasil está 8% menor que no exterior, e o do diesel, 3%. Com isso, diz Araujo, a Petrobras deveria elevar os preços dos combustíveis para manter a paridade internacional.

“Há uma expectativa técnica de que a Petrobras aumente os preços para manter a coerência com sua política de preços. O volume de diesel oriundo da Rússia, por exemplo, é muito pequeno, de 30 a 35 mil metros cúbicos, e o consumo mensal é de cinco milhões de metros cúbicos. Então, isso não deve alterar o cenário”, afirma.

Barril sobe após Opep+

Pouco depois do anúncio da Opep+, o assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, e o principal conselheiro econômico de Joe Biden, Brian Deese, afirmaram, em comunicado, que o presidente americano “estava decepcionado com a decisão de curto prazo da Opep+”.

Depois do anúncio, o preço do barril do tipo Brent subiu 1,7%, para US$ 93,97. No Brasil, o Ibovespa fechou em alta de 0,83%, a 117.197 pontos, com a ajuda da Petrobras. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) da estatal subiram 3,54% (para R$ 36,55) e os preferenciais (PN, sem direito voto) ganharam 3,76% (R$ 32,55). Já o dólar terminou o dia a R$ 5,18.

O analista da Mirae Asset, Pedro Galdi, destaca que o setor como um todo acaba se beneficiando da alta do petróleo: “A defasagem, tanto da gasolina, quanto do diesel, é muito pequena. Mas não tem espaço para cortes. Com o petróleo subindo, fica difícil saber o poder de manobra”.

O chefe de pesquisa da Guide, Fernando Siqueira, concorda. Para ele, o mercado só vai refletir as pressões na redução dos combustíveis se elas realmente se efetivarem, ou seja, se novos cortes acontecerem este mês.

Bruno Rosa e Letycia Cardoso – O Globo