A troca de 100 mil empregos por R$ 0,02
O Governo Federal decidiu, com uma canetada, colocar em risco uma cadeia produtiva de mais de 100 mil postos de trabalho. A medida em questão é a redução da mistura de biodiesel ao diesel de 13% para 10%. A justificativa para o ato, inaceitável, por sinal, é a busca por uma redução no custo do combustível para o consumidor final. No entanto, há a segurança de que isso não ocorrerá.
A redução na mistura do biodiesel deve representar, conforme cálculos de especialistas, um corte de R$ 0,02 por litro do combustível. Além de ser, por si só, imperceptível para os motoristas, a queda deverá ser absorvida nas etapas da cadeia de distribuição e sequer chegar ao bolso dos motoristas.
Se não bastasse a ineficácia da medida, a canetada atinge frontalmente nada menos do que 100 mil postos de trabalho, isso se falarmos apenas nas vagas diretas. Se contarmos também os demais aspectos da cadeia produtiva, estamos tratando do sustento de 1,5 milhão de famílias, em um momento de alta do desemprego, que atinge atualmente níveis assustadores.
Ainda tratando dos aspectos econômicos, esta mudança tira, imediatamente, do nosso Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas do país, algo em torno de R$ 14 bilhões. São empregos e recursos que farão falta para o Brasil, que padece de uma série de problemas nos dias de hoje e vê um número assustador de pessoas caminhando para a miséria.
A justificativa usada para o que considero ser o maior retrocesso imposto à Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) não se sustenta em nenhum momento.
Para compensar os 2% a menos de biodiesel que teremos na mistura, a Petrobras precisará importar mais diesel, este sim com preço em alta, o que vai encarecer ainda mais o produto ao consumidor. Ou seja, se sacrifica uma cadeia com 100 mil empregos, sem garantia de redução no preço das bombas e com uma grande possibilidade do resultado esperado, a queda no preço do combustível, ter resultado oposto.
O aumento na proporção de biodiesel no nosso combustível é sinônimo de energia limpa, de desenvolvimento nacional, manutenção e geração de empregos para os brasileiros e segurança energética. Que o Poder Público entenda esta situação, ouça o setor e assegure o que é, de fato, melhor para todos os brasileiros. É isso o que queremos.
Carlos Fávaro é senador pelo do Mato Grosso e, entre 2015 e 2018, foi vice-governador pelo mesmo Estado