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Resposta ao artigo "Lobby contra lobby"


Paulo Miranda Soares - Fecombustíveis - 13 mar 2012 - 13:52 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
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Prezado Miguel Angelo Vedana,

Respeito muito o trabalho realizado pela Revista BiodieselBR e tenho conhecimento das críticas feitas pelo senhor aos produtores. Por isso mesmo não posso deixar de tecer alguns comentários em relação ao seu artigo “Lobby contra Lobby

Reafirmo todas as críticas que fiz no artigo “Será que todos estão surdos?”. Sim, de fato são duras, mas em hipótese alguma estão ultrapassadas. Por um único motivo: apesar de terem sido repetidas exaustivamente, inclusive na sua revista, até agora nada de concreto foi implementado. Nossas críticas não são ultrapassadas, são coerentes e consistentes.

O artigo reflete a indignação de um setor que passou meses discutindo, participando de debates, ouvindo dos produtores que estavam de acordo com as mudanças. No entanto, na hora da Audiência, o que vimos foi uma tentativa de se manter tudo como está. A própria superintendente de Qualidade da ANP expressou surpresa com essa questão, quando declarou: “Tudo foi discutido nas reuniões prévias e, até então, parecia que estávamos caminhando para uma mesma direção”.

Por que “falar sobre o teor de água ou ponto de entupimento nesse momento não contribui”? Contribui sim, e muito, porque a regra só mudará de fato quando a Resolução estiver publicada. Não estamos requentando assunto. Estamos apenas cobrando que seja colocado no papel o que já havia sido acordado, ou o que os produtores nos fizeram pensar que já era consenso. Sim, vamos bater na mesma tecla quantas vezes for necessário, até que a situação esteja devidamente resolvida. O problema não sumiu, nem está simplesmente atrelado à chegada do S10, o qual, na verdade, já é uma realidade em algumas partes do país, devido à presença do diesel importado.

Como revendedor varejista e presidente da Fecombustíveis, é minha obrigação tornar público o que aconteceu durante a Audiência Pública e elevar o tom das críticas, como de fato fiz e farei sempre que for necessário. Porque nós, revenda varejista, estamos desde o início assumindo o ônus dos problemas que existem ao longo da cadeia e começam nas usinas. Os postos já tiveram suas rotinas alteradas pela chegada do biodiesel, aumentando a frequência da troca de filtros, a limpeza de tanques, redobrando os cuidados com manutenção e até mesmo trocando equipamentos para evitar determinados materiais, como o cobre. Nós já corremos atrás das adaptações, pois, ao contrário dos produtores de biodiesel, não temos reserva de mercado: se o consumidor acredita que nosso produto não tem qualidade, simplesmente para de comprar. Além disso, estamos sujeitos a autuações da ANP. Falta de qualidade para nós é sinônimo de ônus imediato, de fim das vendas, de fechamento do negócio.

Quando primeiramente trouxemos à tona nossas queixas, tanto produtores quanto a própria ANP chegaram a atribuir os problemas exclusivamente ao manuseio e armazenamento inadequados. Entretanto, à medida que os estudos foram avançando, ficou bem claro que o problema não se restringia à questão das boas práticas. E a maior prova disso foi a decisão da ANP de revisar a especificação do produto.

O setor produtor de biodiesel tem todo o direito de fazer o seu lobby, bem como de buscar o lucro, pois somos todos empresários. A minha crítica não diz respeito a isso, mas sim ao fato de se querer elevar a mistura compulsória a qualquer custo, ignorando todos os problemas que se encontram no mercado. Querem resolver o problema do excesso de capacidade ociosa com uma elevação da obrigatoriedade da mistura, ter lucro em cima do ônus de toda a sociedade. E o preço do produto? E a qualidade? E a concentração? E a agricultura familiar? O próprio IPEA alterou em análise recente sobre o biodiesel: “Uma observação que a análise da atual situação do biodiesel permite fazer, com relação às distintas etapas da cadeia produtiva, é que a cada aumento do percentual de biodiesel na mistura com o diesel, nas condições atuais, mais longe o país fica das diretrizes sociais e regionais que previu no PNA e PNPB.”

O etanol é um exemplo a ser seguido pelos produtores de biodiesel. Seus quase 30 anos de experiência trazem inúmeras lições. Este biocombustível não apresenta mais qualquer problema de qualidade, nem de partida, nem de corrosão de peças. Fruto de anos de pesquisa e de enfrentar a rejeição dos consumidores na bomba, algo que os produtores de biodiesel sequer sabem o que é. Hoje os problemas relacionados ao etanol são de cunho tributário e de competitividade, em grande parte devido a fatores que estão além do controle dos usineiros. Trata-se de um produto com reconhecimento internacional. Tanto que uma das principais preocupações do mercado atualmente é se, com o fim dos subsídios norte-americanos, os produtores brasileiros vão preferir direcionar o etanol para os Estados Unidos, ao invés do mercado nacional. Situação completamente distinta do biodiesel nacional. O que é normal. Afinal, o nosso programa de biodiesel ainda é recente e nos parece natural que passe por ajustes. O que não conseguimos entender é como um produto tão jovem já tem propostas, inclusive, de se elevar o percentual de mistura para 30%, enquanto o etanol, com suas mais de três décadas de história, ainda tem teto estabelecido em lei de 25%.

Não sei qual tipo de suspeita se pretende lançar sobre a Fecombustíveis ao insinuar que não divulgamos o relatório final da ANP, divulgação esta, inclusive, que depende de consentimento da própria Agência. De qualquer forma, apresentamos em diversas palestras as conclusões do relatório, na íntegra. Além disso, a Fecombustíveis financiou um dos estudos realizados pelo INT, que mostrou problemas em todos os elos da cadeia e cujos resultados divulgamos em nossa Revista e enviamos a todos os Sindicatos Filiados à Fecombustíveis. Em todas as palestras que fazemos para nossos revendedores, sempre destacamos a necessidade de redobrar os cuidados com manuseio e armazenagem do produto. Fazemos questão de mostrar ao revendedor que ele precisa sim investir na troca de equipamentos, na limpeza dos tanques e eu, pessoalmente, tenho recomendado, inclusive, a troca de equipamentos, de forma a evitar problemas de oxidação. Essa não é uma necessidade trazida exclusivamente pelo biodiesel, mas uma exigência dos novos combustíveis que chegam ao mercado. Nós estamos fazendo nossa parte, assumindo o ônus, porque, se assim não fizermos, perdemos clientes. Assim como temos também orientado aos motoristas de caminhões que façam a correta manutenção e limpeza de seus motores e tanques para evitar problemas de entupimentos, pois, como o senhor bem deve saber, temos no país uma frota ainda bastante antiga e nem sempre submetida à manutenção apropriada.

Os próprios fabricantes de veículos e sistemistas repetiram em diversas ocasiões que havia no país uma frota a diesel funcionando bem, mas vários problemas de campo começaram a ser constados após a entrada do B5. Inclusive em veículos com primeiro abastecimento ou que estavam parados em estoques, ou seja, que não foram abastecidos em postos de combustíveis.

Isso nos preocupa. Porque o problema do nosso consumidor é também nosso problema. O setor de biodiesel saberia do que estamos falando, se não vivesse dependente apenas de um mercado compulsório.

Paulo Miranda Soares
Presidente da Fecombustíveis

Resposta Miguel Angelo Vedana: Considerei que a discussão em relação a nova especificação estava fechada e a ANP já teria definido o novo padrão. A resposta do presidente da Fecombustíveis indica que a ANP, apesar de já ter colhido todas as sugestões, ainda não tomou uma decisão sobre a nova qualidade do B100. Com os relatórios finalizados sobre os problemas ao longo da cadeia e o fim das discussões públicas em torno da nova especificação, a demora da ANP em estabelecer a nova especificação abre margem para essas discussões, que entendo não favorecer nem as usinas e nem o varejo.