Banco da China pode financiar ônibus elétrico em SP
O Banco da China demonstrou interesse em financiar a compra de ônibus elétricos em São Paulo. Segundo o secretário da Fazenda do município, Luis Felipe Arellano, a instituição acenou com intenção de entrar com US$ 500 milhões no plano que prevê eletrificar toda a frota paulistana até 2038.
Arellano aproveitou viagem até a China, onde participou do fórum Brazil China Meeting, para reunir-se com representantes do banco. A operação de financiamento inclui a seguradora chinesa SinoSure. Segundo o secretário, foi uma conversa preliminar. Mas ele pareceu entusiasmado depois do encontro.
São Paulo conta com 13 mil ônibus e a eletrificação dessa frota está prevista em lei municipal, que já proíbe a troca de veículos por modelos a diesel.
Mas a aquisição de ônibus elétricos é cara. Segundo fabricantes, esse tipo de veículo custa hoje em torno de 3,5 vezes mais do que um a diesel. Por isso, a Prefeitura vai arcar com a diferença de valores entre os dois tipos de veículos.
Para cumprir esse ousado plano, a administração paulistana tem recorrido a financiamentos, que já somam R$ 5,75 bilhões.
Os maiores montantes vêm do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial. O BNDES vai entrar com R$ 2,5 bilhões. Os recursos liberados por BID e Banco Mundial também somam outros R$ 2,5 bilhões. A Caixa Econômica Federal liberou R$ 500 milhões, e o Banco do Brasil mais R$ 250 milhões.
Cálculos do BNDES indicam que o valor liberado pela instituição será suficiente para a compra entre 1 mil e 1,3 mil ônibus movidos exclusivamente a bateria, o equivalente a cerca de 10% da frota atual.
O apoio ocorre por meio do BNDES Finame Direto e quatro fabricantes já se credenciaram no sistema. A capital paulistana é o primeiro cliente do setor público a receber crédito por meio do BNDES Finame Direto. Os recursos serão liberados na modalidade baixo carbono, que passou a admitir financiamento para compra de ônibus elétricos por municípios.
Segundo a Mercedes-Benz, que se credenciou no Finame, a modalidade impõe algumas exigências, como que os kits de células de baterias, que são importados, sejam montados por empresa nacional. Além da Mercedes, participam do fornecimento dos novos ônibus Scania, as brasileiras Eletra e Marcopolo e a chinesa BYD, que, de certa forma, facilitou as conversas entre a Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo e o Banco da China.
Segundo Arellano, o plano é colocar 2 mil novos ônibus elétricos na frota paulistana ainda este ano. A expectativa do poder público é que o custo inicial mais elevado seja compensado pelo menor custo de manutenção e maior durabilidade dos modelos elétricos, conforme anunciam seus fabricantes.
São Paulo tem um dos maiores sistemas de transporte público em ônibus do mundo. Nas 1,3 mil linhas paulistanas circulam, em média, 7,3 milhões de passageiros por dia útil.
Dos cerca de 13 mil ônibus em circulação na metrópole, cerca de 200 são do tipo trólebus - utilizam linhas aéreas para se movimentar com energia elétrica. A ideia, agora, é colocar nas ruas modelos mais modernos, com baterias recarregáveis. O financiamento inclui estações de recarga que serão instaladas nas garagens das operadoras.
Recentemente, durante uma feira mundial de ônibus, em Bruxelas, o presidente mundial da Daimler Buses, Till Oberwörder, previu que, até 2030, 100% dos ônibus urbanos vendidos na Europa serão livres de carbono. Até lá, estimou, o preço de um elétrico estará equiparado ao do tradicional a combustão. “Subsídios agora são importantes porque uma cidade precisa do transporte público para trabalhar”, disse.
Segundo ele, na Europa, a troca por elétricos recebe subsídios de municípios, Estados e até do país, dependendo da região. “As populações das cidades estão crescendo; muita gente se muda para os centros urbanos. Os municípios precisam organizar o sistema de transporte à medida que a demanda cresce”, disse Oberwörder.
Inicialmente polêmica, a decisão da administração paulistana de proibir a compra de ônibus a diesel para o transporte público provocou uma paralisação nas vendas de veículos. Logo depois, no entanto, a medida movimentou a indústria, passou a estimular a busca por financiamento e tende a se tornar uma das principais bandeiras nas eleições municipais, em outubro.
Marli Olmos – Valor Econômico