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Soja

Preço da soja nos portos chegou aos maiores patamares do ano


Globo Rural - 29 mai 2024 - 11:24

O preço da soja chegou aos maiores níveis do ano nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR). Valorização da commodity no mercado externo, alta dos prêmios de exportação e câmbio favorável são os fatores de suporte às cotações, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

A referência do Cepea com base no porto de Paranaguá (PR) acumula alta de 8,45% na parcial do mês até a sexta-feira (24/5), quando ficou em R$ 139,95 a saca de 60 quilos. Em Santos (SP), a Scot Consultoria aponta a saca valendo R$ 141, e em Rio Grande (RS), R$ 139,50.

“Os preços da soja subiram no mercado brasileiro ao longo da última semana, impulsionados pela valorização externa, pela alta nos prêmios de exportação e pela taxa cambial (R$/US$). Os valores de negociação da soja em grão nos portos de Santos (SP) e de Paranaguá (PR) voltaram a operar nos maiores patamares do ano”, disseram os pesquisadores do Cepea, em nota, na segunda-feira (27/5).

Mais do que os preços na bolsa de Chicago, os prêmios têm sido determinantes da variação das cotações internas, avalia a consultoria Pátria AgroNegócios. Comparando com os diferenciais de outros países, o do Brasil foi o que mais subiu e está positivo em todas as posições de entrega.

Os prêmios atuais, entre US$ 0,20 e US$ 0,40 por bushel de ágio sobre os valores em bolsa, são os mais elevados desde o início das negociações do grão da safra 2023/24. Em comparação com seus principais concorrentes no mercado global, Argentina, e Estados Unidos, a soja brasileira, atualmente, é a mais atrativa para os compradores.

Para Cristiano Palavro, diretor da Pátria AgroNegócios, a demanda está ajudando a impulsionar os prêmios nos portos. Segundo ele, a percepção do mercado é de uma procura mais direcionada pela soja do Brasil, em meio a uma safra que não deve ser tão grande quanto o esperado nos primeiros meses do calendário-safra 2023/24.

“Por que o preço (da soja no Brasil) melhorou de fevereiro para cá? Por causa dos prêmios, porque Chicago, depois que caiu em janeiro, não se recuperou muito”, ressalta o consultor, pontuando que, em novembro do ano passado, a cotação do grão na bolsa americana estava em torno dos US$ 14 por bushel. Hoje, está em US$ 12,30.

Palavro avalia que ainda há espaço para uma subida dos prêmios para a soja brasileira. Mas esse movimento não deve ocorrer de forma mais “agressiva” daqui para frente. Ele explica que, em fevereiro, o preço do grão no Brasil estava quase 15% inferiores ao dos Estados Unidos. Hoje, essa diferença está entre 2% e 3%.

“Eu vejo mais um prêmio estável do que em alta. Pode subir um pouco, mas não com tanta agressividade, porque nossa soja passa a ser mais cara em relação a ouras origens. As outras origens não têm uma oferta tão grande neste momento, mas sempre tem a questão da competitividade entre os países”, analisa.

Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócios, lembra, em postagem no seu perfil na rede social LinkedIn, que, sem os prêmios de exportação, haveria uma disparidade nos preços dos principais países exportadores, o que traria um desequilíbrio à competição internacional.

“O prêmio sofre influência de vários fatores ao longo do ano, mas os dois principais são a oferta e a logística para escoamento dessa oferta. Quando a colheita da safra de soja se intensifica no país, de fevereiro a maio, o prêmio de exportação tende a ser negociado em valores menores”, explica.

Preços internos

Com o suporte, principalmente, dos prêmios e da taxa de câmbio, Palavro avalia que, pelo menos no curto prazo, os preços da soja nas principais regiões produtoras do Brasil devem se manter sustentados.

“O médio prazo é que preocupa, porque tem a evolução da safra americana e o Brasil não deve ter um recuo de área no próximo ano (2024/25). Tudo depende do clima, mas a chance de a safra dar certo é maior do que a de dar errado” diz ele.

No Paraná, o indicador do Cepea acumula alta de 7,89% até a segunda-feira (27/5), quando chegou a R$ 134,34. Em Mato Grosso, a média foi de R$ 116,87 a saca na semana passada, 3,07% a mais que na anterior, de acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Na segunda-feira (27/5), chegou a R$ 118,52 a saca de 60 quilos.

Em outras regiões, levantamento da Scot Consultoria indica soja valendo R$ 122 a saca em Luís Eduardo Magalhães (BA); R$ 124 em Rio Verde (GO); R$ 118 em Balsas (MA); R$ 124 no Triângulo Mineiro; R$ 125 em Dourados (MS).

Clima e mercado

Para o diretor da Pátria AgroNegócios, as perdas ocorridas no Rio Grande do Sul não devem ser tão significativas para o mercado de soja. E os relatos de tempestades e furacões no meio-este dos Estados Unidos só devem ter algum impacto nos preços internacionais no curto prazo, caso afetem o ritmo do plantio da safra nova no país.

“O clima é decisivo para o potencial produtivo (para a safra americana), principalmente, na janela de julho e agosto (formação e enchimento de grãos). Agora é ritmo de plantio. Não tendo um atraso significativo, não vejo impacto”, avalia.

Nesta terça-feira (28/5), o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) informou que a semeadura da safra de soja do país avançou 16 pontos percentuais na última semana, em relação à anterior. As máquinas passaram por 68% da área reservada para a cultura, proporção inferior à da mesma época no ano passado (78%), mas superior à média dos últimos cinco anos (63%).

Vlamir Brandalizze pontua que, pelo menos até o momento, as chuvas fortes e tornados no Meio-Oeste americano não interferiram no andamento da safa. “Já era esperado que esse cenário traria pressão sobre para as cotações em Chicago, pois o clima, no momento, está bom”, afirma.

Em meio a uma perspectiva favorável para a produção americana até o momento, os preços da soja caíram na bolsa de Chicago na terça-feira. Os lotes para julho, os mais negociados, cederam 1,48%, a US$ 12,2950 o bushel. O papel para agosto recuou 1,29%, para US$ 12,29 o bushel.

João Birkhan, do Sim Consult, avalia que os problemas climáticos no meio-oeste americano tendem a ser uma influência altista para a soja em Chicago. Sobre a movimentação dos preços no mercado interno, Birkhan diz esperar uma influência maior dos custos de logística, agravados pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

Em vídeo divulgado pela internet, o consultor lembra ainda que, por causa das inundações, a autoridade portuária local reduziu o calado para navios graneleiros. Há possibilidade de deslocamento de cargas para outros terminais portuários no Brasil.

“Grande parte da soja do Rio Grande vai ter que ser desviada para os portos de Santa Catarina, isso vai aumentar o custo da logística interna. E poderá melhorar um pouco o prêmio nos portos para onde os produtos serão destinados”, explica.

Raphael Salomão e Paulo Santos – Globo Rural