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Soja

Mistura maior eleva demanda por soja em 4,5 mi toneladas


Gazeta do Povo - 11 jun 2014 - 11:03

A indústria do biodiesel deve abocanhar 18% da safra nacional de soja a partir de 2015. Cálculo elaborado pelo Agronegócio Gazeta do Povo, baseado nas proporções atuais praticadas no mercado, indicam que a oleaginosa terá uma demanda adicional de 4,5 milhões de toneladas ao ano. Com o aumento da mistura do combustível renovável ao combustível fóssil para 7% a partir de novembro, as usinas deverão consumir ao todo 15,7 milhões de toneladas da oleaginosa. Hoje, cerca de 11,2 milhões de toneladas são transformadas em óleo e, posteriormente, combustível limpo. A notícia vem no momento em que há uma pressão de baixa sobre as cotações internacionais da commodity, por conta de uma expectativa de mais uma oferta global recorde, liderada por Estados Unidos. O consumo extra pode dar sustentação aos preços, avaliam os especialistas. “Os impactos são amplos e benéficos para várias cadeias”, resume Leonardo Botelho Zilio, assessor econômico Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Quem mais comemora a medida é o setor do biodiesel. “Neste ano, no lugar de exportar, teremos que redirecionar para o mercado interno. A partir do próximo ano será necessário esmagar mais para atender o consumo do país e gerar excedente para exportação”, ressalta o gerente geral da usina BSBios, de Marialva (Norte), Antônio Borsolan Gaspar.

A ociosidade do parque industrial brasileiro de biodiesel deve ser reduzida com o aumento da mistura. No ano passado, as mais de 60 indústrias espalhadas pelo país produziram 2,9 bilhões de litros de biodiesel, 37% da capacidade instalada (7,8 bilhões de litros), de acordo com relatório da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Com a nova determinação, o governo federal “exige” que a produção passe para 4,3 bilhões de litros a partir de 2015. Es¬¬sa quantidade representa 55% do potencial do Brasil. “Diminui [a ociosidade], mas não resolve”, comenta Gaspar.

Outras culturas
Para a Abiove, os benefícios da nova medida vão além do uso da principal commodity agrícola produzida no Brasil. Os pequenos produtores também terão que elevar a produção de canola, mamona, óleo de palma e outros produtos agrícolas que servem de matéria prima para o biodiesel. Até mesmo o setor de carne, que fornece sebo para a fabricação do combustível limpo, terá retorno financeiro.

“Além disso, desafoga um pouco os portos brasileiros, pois o país não terá que importa tanto [diesel]”, aponta Leonardo Botelho, assessor econômico da associação. “Existe a chance de reduzir o preço do diesel”, acrescenta. Se isso ocorresse, haveria impacto sobre os custos do agronegócio, que usa boa parte da frota nacional de veículos movidos a diesel para plantar, colher e transportar a produção agropecuá¬ria do Brasil.

Ociosidade
Apesar do anúncio da maior proporção de biodiesel no diesel ser motivo de comemoração, as empresas apontam atraso no projeto brasileiro de incentivo a este combustível. Segundo o setor, o Brasil tem condições de misturar mais do que os 7% programados para começar em novembro. “Temos muitos problemas, principalmente nas indústrias do Rio Grande do Sul. Temos uma grande capacidade de produção no Brasil, mas o consumo é baixo”, lamenta Antônio Borsolan Gaspar, gerente da unidade da BSBios em Marialva. O estado gaúcho reúne nove usinas. Perde apenas para o Mato Grosso, com 20. O Paraná conta com quatro plantas. “O setor está penando hoje”, complementa Leonardo Botelho, da Abiove. O Brasil é atualmente o terceiro maior produtor mundial do combustível renovável, atrás de Estados Unidos e Alemanha.

O planejamento do governo federal é atingir 10% (B10) de biodiesel no diesel em 2020. “Precisamos antecipar esse cenário”, afirma Gaspar.

Porém, de acordo com a Abiove, o país precisa rever seu projeto de combustível limpo para não entrar em colapso. Além das 62 indústrias instaladas atualmente, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) autorizou a construção de duas novas plantas, além do incremento da capacidade de produção em outras quatro. “Hoje o parque industrial já tem potencial para atender B15”, ressalta o executivo da BSBios.

Histórico 
Em 2014, o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) completa dez anos de existência. No período, o governo determinou três alterações em relação à proporção do biocombustível ao diesel.

Início: a mistura de biodiesel puro (B100) ao óleo diesel passou a ser obrigatória no início de 2008. Entre janeiro e junho daquele ano, a mistura era de 2%.

Evolução: o porcentual de biodiesel puro aumentou para 3% em julho de 2008. No segundo semestre de 2009, passou para 4%, com exceção do óleo diesel para uso aquaviário.

Paralisação: a partir de 1º de janeiro de 2010, o biodiesel passou a ser adicionado ao óleo diesel na proporção de 5% em volume. Esse porcentual permaneceu o mesmo durante 4 anos e meio.

Retomada: após pressão do setor produtivo, o governo decidiu aumentar a mistura neste ano. A partir de 1º de julho, passa para 6% e em novembro para 7%.

Mistura: atualmente, a soja é matéria-prima para 75% da produção de biodiesel no Brasil. O restante vem de produtos como mamona, canola, óleo de palma e sebo.

2,9 bilhões de litros de biodiesel foram produzidos no Brasil no ano passado por mais de 60 usinas instaladas no país. Capacidade do setor é de 7,8 bilhões. Ociosidade tende a cair com produção de 4,3 bilhões de litros a partir de 2015.

5 milhões de litros de biodiesel foram transportados de trem no ano passado entre a unidade da BSBios em Passo Fundo (RS) e o Porto de Paranaguá (PR). Empresa, que também tem uma usina em Marialva (Norte), é pioneira na exportação do produto e espera ter excedente para vender maior volume a partir do ano que vem.