Conab revisará números da soja da última década
Está em curso uma revisão histórica dos números da safra brasileira de soja nos últimos 10 anos por parte da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Com números criticados há anos por consultores, analista de mercado, economistas e entidades rurais por incongruência coEm a realidade, a Conab está revisando uma década de informações para descobrir onde os erros tiveram origem e como corrigi-los.
Para solucionar o problema, porém, a Conab estaria gerando outro problema momentâneo. Desde o início deste ano a companhia deixou de divulgar os dados de oferta e estoque da oleaginosa no Brasil, assunto que veio à tona durante o Fórum Nacional da Soja, na Expodireto, em Não-Me-Toque. A queixa foi feita pelo professor da Fundação Dom Cabral e sócio da MB Agro Consultoria, Alexandre Mendonça de Barros.
De acordo com Mendonça de Barros, que também é integrante do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), os números oficiais brasileiros tiveram inconsistência pelo segundo ano consecutivo, pelo menos, na ordem de 7 milhões a 7,5 milhões de toneladas nos dados de publicados em dezembro de 2019. Um ano antes, disse o consultor, já teria sido registrada uma diferença, para menos, de 6 milhões de toneladas.
Mendonça de Barros explica que em 2019, prevendo exportação de 70 milhões de toneladas e subtraindo o consumo interno, o Brasil teria, de acordo com a Conab, um estoque de passagem de 1,5 milhão de toneladas. As exportações reais, no entanto, foram de 79 milhões de toneladas. Ou seja, faltariam cerca de 7,5 milhões, o que não seria possível, critica o consultor. "Todo o mundo olha os números do Brasil pois definimos um balanço importante dos estoque mundiais, e isso gera uma insegurança sobre os dados de oferta global, afeta as análises de estoques e cria dificuldade para fazer a leitura correta de precificações", alertou Mendonça de Barros. Segundo ele, as safras brasileiras vêm sendo constantemente superiores aos números oficiais divulgados pela Conab. O desvio mais provável, avalia, seria na produção, já que o volume de exportações tem registros nos portos, e no consumo interno não apresenta grandes variações para se refletir em "uma magnitude do erro" tão expressiva, opina o consultor.
Superintendente regional em exercício da Conab, Carlos Roberto Bestei explica que a companhia está revendo os dados já divulgados para identificar onde e quando os erros começaram. A reavaliação está sendo feita em todos os estados e não tem data para terminar. Apesar de as críticas aos números da Conab serem de longa data, Bestetti diz que no final do ano passado se avolumaram as contestações de que os números não estavam "batendo". Com isso, diz, a sede da companhia ficou preocupada e acionou os técnicos da área de soja para revisar os últimos dez anos de números divulgados sobre a safra brasileira de soja. "Foi feita uma reavaliação em Brasília dos dados de oferta e demanda, porque nas análises de exportações da soja não estavam batendo com a realidade, porque os estoques estavam negativos e isso não pode ocorre. Brasília está checando isso e enquanto não houver um consenso de um número que seja sustentável vamos ficar aguardando", explica Bestei.
Analistas desconsideram informações
As críticas públicas feitas aos números da Conab pelo sócio da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros já era uma constante entre especialistas do agronegócio no Estado. Economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz não usa meias palavras para falar do assunto. "Eu não leio nenhum relatório emitido pela Conab. Tenho uma infinidade de dados com os quais trabalho diariamente e não posso perder tempo olhando dados que não têm credibilidade, não fazem sentido e são mal feitas", diz Luz.
O economista, critica, ainda, a "duplicidade" de trabalho dados gerados pela governo federal sobre o assunto. "Dados oficiais para mim são os do IBGE. Não há porque uma companhia de abastecimento gerar dados, e errados, sobre o assunto enquanto temos um excelente trabalho do IBGE, que como diz o nome, é um instituto de estatística", alerta Luz.
Luiz Fernando Roque, analista da Safras & Mercados, também afirma que os dados divulgados pela Conab não são levados em consideração pela consultoria, especializada em agronegócio. "A Conab subestimou várias safras brasileiras, e não apena uma ou duas. Os dados da Conab, para nós, não servem para praticamente nada, e não apenas na soja, mas também no milho", ressalta Roque.
Thiago Copetti – Jornal do Comércio