Santander renova contrato em projeto de óleo de cozinha
O Projeto Biodiesel, desenvolvido na praia da Pinheira, em Palhoça, por alunos e professores dos cursos de Engenharia Ambiental e Engenharia de Produção, vai ser financiado mais um ano pelo Banco Santander.
O projeto, coordenado pela professora Elisa Moecke, recebeu em 2010 o Prêmio Santander Universidade Solidária e construiu e instalou na Pinheira uma usina de transformação do óleo utilizado nas cozinhas das casas e restaurantes da região em biodiesel para combustível de barcos de pesca artesanal.
A partir de agora, o projeto pretende começar a gerar renda com a venda do biocombustível e também do sabão fabricado com as sobras do processo – gordura sólida e glicerina. Esta última poderia também ser transformada em biodiesel, mas os pesquisadores preferiram colocar na fabricação do sabão, para torná-lo mais umectante.
Até agora, o biodiesel estava sendo dado gratuitamente para os pescadores testarem. “Fui o primeiro a usar”, congratula-se Adélcio João dos Santos, pescador desde os 13, ofício herdado do pai. “É mais econômico, pois é mais barato do que o diesel, e mais saudável”, diz ele.
“Nesses testes, os pescadores relataram que não perceberam mudança em termos de potência do motor, ao mesmo tempo que observaram uma melhor combustão, ou seja, queima do óleo, e isso significa menos fumaça e cheiro na atmosfera”, ressalta a professora Elisa.
O uso do óleo de cozinha como biodiesel é apenas um dos aspectos de um amplo projeto que começou ainda em 1980, no município de Palhoça, com a professora Hélia Alice dos Santos, ao iniciar com seus alunos uma campanha de coleta seletiva de lixo para vender o material e assim conseguir recursos para equipar e promover melhoramentos na escola. Hoje, essa idéia está abrigada no Projeto Pro-Crep (sigla para criar, reciclar, educar e preservar), ganhou um galpão da Prefeitura de Palhoça para se instalar, onde também foi criado um brechó, que recicla material para a produção de roupas e artesanato. Tanto a coleta de lixo como o brechó já empregam pessoas e geram renda.
A Unisul se integrou à idéia alguns anos mais tarde. Em 2003, a professora Elisa enfrentava o desafio de dar uma solução ambiental para os resíduos de uma empresa, ricos em gordura. Com alunos, começou a pesquisar a possibilidade de transformar esses resíduos altamente poluentes em combustível. Ao mesmo tempo, foi feito um levantamento sobre a quantidade de óleo de fritura produzido na Ponte do Imaruim, o bairro de Palhoça em que se localiza o laboratório de Engenharia Ambiental da Unisul.
Unindo as idéias e a vontade de trabalhar para solucionar problemas enfrentados pela comunidade na qual estão inseridos, a professora e os alunos começaram a desenvolver reatores que possibilitariam retirar produtos nocivos da natureza e, além disso, transformá-los em algo benéfico.
“Em 2008 encaminhamos ao CNPq um projeto de pesquisa de dois anos. No primeiro ano foi desenvolvida a parte experimental em laboratório. No segundo ano, a fabricação dos reatores. Esses reatores foram instalados na associação e em 2010 terminou o projeto, mas vimos que a Associação ainda não estava preparada para conduzir o processo todo. O projeto do CNPq visava a produção de biodiesel a partir de óleo de fritura destinado a pescadores artesanais da Praia da Pinheira. Para dar continuidade, a Unisul viu a necessidade de transformar esse projeto em um projeto de extensão, com recursos próprios. Aí abriu a chamada para o Prêmio Santander e fomos contemplados, e passamos à fase de empoderamento da comunidade para a produção do biodiesel”, diz a professora.
O biocombustível pode ser utilizado em motores a diesel sem qualquer alterações. E nunca é utilizado numa proporção de 100%. Mistura sempre acontece. Lei federal exige que, para ser considerado biocombustível, é preciso um mínimo de 10%. A partir disso, pesquisadores fazem uma mistura de acordo com o uso e o motor. No caso dos barcos de pesca artesanal na Praia da Pinheira, a porcentagem ideal está sendo a de 40 por 60 (40 de biodiesel e 60 de diesel) - mas esses números ainda estão em estudo para ver qual a melhor forma.
A pesquisadora lembra que os pescadores da Praia da Pinheira vivem da pesca artesanal há anos, alguns já herdaram a atividade dos pais ou dos avós. Assim, o barco é o bem maior deles e o maior custo é o combustível. Qualquer economia, portanto, é significativa.
- E eles já estão até vislumbrando ganhos futuros, como na época da temporada, quando colocam seus barcos para passeios turísticos, ter um atrativo a mais: uma placa com os dizeres “este barco é movido a biocombustível”. Unindo, assim, as duas principais fontes de geração de renda da região: a pesca e o turismo.
A transformação do óleo em biocombustível
A “usina” de transformação do óleo saturado, resultado de frituras nos restaurantes ou casas, em combustível, é composta por três equipamentos, cada um para uma etapa do processo. Ao chegar, o óleo colocado no primeiro recipiente para fazer a decantação em busca de um maior pureza.
A etapa seguinte é o aquecimento do produto, no primeiro dos três reatores necessários, para que o óleo fique mais puro, com a evaporação da água. Num segundo reator, o óleo é misturado a metanol e a uma substância catalizadora (que apressa o processo). O processo final, no terceiro reator, é a transesterificação, ou seja, o óleo deixa de ser óleo e passa a ser biodiesel.
Depois de passar por essas três fases, o óleo vai para decantadores, onde o biocombustível é separado da glicerina utilizada no processo de catalização.
A capacidade do equipamento é de processar 6 mil litros de óleo/mês, sendo que um litro de óleo rende 900 ml de biodiesel. As sobras do processo (gordura sólida e glicerina) são utilizadas na produção de sabão.