Convênio incentiva a produção de biodiesel a partir de óleo de cozinha
Um convênio firmado entre a Cooperativa Acácia de Araraquara (SP), a empresa Triângulo Alimentos, de Itápolis (SP), e o Centro Universitário de Araraquara (Uniara) pretende incentivar a produção de biodiesel a partir do óleo de cozinha. O projeto tem fins acadêmicos e trará benefícios para o meio ambiente, uma vez que pede a participação da população na destinação correta do material, sem que ele seja descartado em ralos, pias e terrenos baldios.
Em Araraquara, desde o ano passado, uma lei instituiu um programa municipal de coleta, tratamento e reciclagem de óleos de origem vegetal. Por mês, 2 mil litros são coletados pela cooperativa nas residências da cidade. Eles são convertidos, em média, em 100 litros de combustível, que, em parte, são usados nos caminhões da própria cooperativa.
Estrutura
De acordo com o gestor de projetos da Acácia, David Teixeira Pinto, as catadoras que trabalham na reciclagem têm o papel de estimular as donas de casa a entregar o óleo de cozinha, que não tem mais utilidade. “Esse trabalho já existe há dois anos na cooperativa, que fazia o recolhimento e vendia os litros de óleo para empresas do ramo. Hoje, com o convênio, busca-se ampliar essa campanha de arrecadação”, explica Teixeira Pinto.O passo seguinte ficará sob a responsabilidade da empresa de Itápolis, que refina o óleo bruto. O diretor geral, Eduardo Odoni Bonini, disse que o material vindo da Acácia passará por um processo de extração de impurezas para que, depois, chegue purificado ao Instituto de Tecnologia (Ibiotec) do curso de Engenharia Bioenergética, da Uniara, para a produção do biodiesel.
Para o coordenador do curso, Marcelo Wilson Anhesini, o projeto tem como objetivo principal tornar autossustentável a unidade da instituição de ensino, que fica na vicinal Graciano Ressurreição Affonso. “Como ainda produzimos em pequena escala, pretendemos utilizar o material aqui produzido em veículos internos. Hoje, já existe um trator que é abastecido com 50% do biodiesel e 50% de diesel mineral”, ressalta o professor.
Anhesini lembra ainda que uma defasagem no processo é a não existência de recursos que possibilitem a análise da qualidade do biodiesel. “Buscamos firmar novos convênios, por exemplo, com o Instituto de Química da Unesp de Araraquara, que não tem os equipamentos para a produção, mas apresenta as técnicas de análise laboratorial do produto”, esclarece.
Segundo Anhensini, o convênio firmado nesta semana trará muitos benefícios. “Vamos priorizar a busca por energias alternativas que respeitem o meio ambiente, o que será bom tanto para o desenvolvimento científico quanto para a comunidade”, completa.
Produção de biodiesel
O aparelho que transforma o óleo de cozinha já refinado em biodiesel é chamado pelos técnicos do instituto de planta didática.Eduardo Pini Gonçalves, monitor e aluno do curso de Engenharia Bioenergética, conta que o processo começa com o descarregamento manual do óleo em um primeiro reator. Lá, o produto chega a temperatura de 65 graus e, em seguida, é misturado com 20% de metanol. Em um catalisador entra a soda caústica. Todas essas substâncias são inseridas na planta didática para transformar os glicerídeos em biodiesel e não deixar que o processo se reverta.
“Depois de uma hora, o produto dessa mistura é composto por biodiesel e glicerina, que é removida. Em um tanque de decantação, a sobra de metanol também é eliminada”, detalha Gonçalves. Para finalizar, o produto passa por uma coluna de lavagem, onde há uma espécie de resina que filtra tudo o que pode ter passado despercebido. Por fim, para comprovar que o processo está completo, o biodiesel vai para uma coluna de polimento e, então, é descarregado também manualmente.
Coleta
O óleo usado deve ser armazenado em garrafas pet, que facilitam o transporte, segundo o gestor da cooperativa. “Não se deve guardar o óleo em garrafas de vidro, pois elas podem quebrar durante o transporte no caminhão”, diz Teixeira Pinto.A coleta em Araraquara é feita diariamente em bairros pré-determinados. As indústrias do ramo alimentício que também quiserem colaborar com a doação de óleo usado devem entrar em contato com a Acácia pelo telefone (16) 3337-4564.
Laís Françoso - G1.com