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Pinhão-manso

Estado da arte das ações com pinhão-manso na Embrapa


Embrapa Agroenergia - 24 jan 2012 - 14:15 - Última atualização em: 27 fev 2012 - 00:33

A busca de alternativas renováveis para a produção de energia ganhou reforço governamental em 2006, com a publicação do Plano Nacional de Agroenergia. Este incentivo aumentou consideravelmente a prospecção por novas fontes sustentáveis, muitas de origem vegetal. Uma dessas fontes é o pinhão-manso (Jatropha curcas L.), também conhecido como purgueira e pinha de purga.

As sementes desta planta, espécie perene, de porte baixo e membro da família botânica Euphorbiaceae, são ricas em óleo de boa qualidade para produção de biodiesel e sua torta tem alto teor proteico. Outras vantagens iniciais são seu crescimento rápido e espontâneo em diversas regiões do Brasil e, por não ser uma cultura alimentar, não concorrer diretamente com a produção de alimentos. Da mesma forma, já se conhece desvantagens como a toxicidade das suas sementes, que torna seu uso como ração animal arriscado. Além disso, pouco se conhece sobre as questões fitotécnicas e fitossanitárias do cultivo de pinhão-manso.

Os pontos positivos e negativos servem de norte para a elaboração e execução de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I), comunicação empresarial e transferência de tecnologia para melhor conhecer a espécie, delinear o correto manejo e os processos industriais do óleo e dos resíduos e os processos de propriedade intelectual e de transferência das tecnologias, produtos e serviços à sociedade.

Desde 2007 e até o presente momento, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) elabora, aprova e executa 22 projetos de P,D&I e Transferência de Tecnologia (TT) em pinhão-manso. Tais projetos representam um montante superior a R$21 milhões captados internamente (Sistema Embrapa de Gestão – SEG) e externamente (FP7, CNPq, FINEP, BNB, FAPERJ e FUNDECT), envolvem quase 500 profissionais de diversas áreas de 68 organizações brasileiras e internacionais, dentre elas unidades centrais e descentralizadas da Embrapa, universidades, empresas estatais de pesquisa agropecuária, órgãos estaduais de meio ambiente e agricultura, associações de produtores e instituições de P,D&I.

Os projetos sobre pinhão-manso da Embrapa são executados majoritariamente nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, com ações também em outros países da América Latina, Ásia, África e Europa. Assim, os projetos avaliados são desenvolvidos principalmente nos ecossistemas brasileiros Cerrados e Caatinga, com ações significativas também na Amazônia, Extremo Sul e Floresta Atlântica. Estes projetos atendem a grandes temas como Energia, Produção Vegetal, Desenvolvimento Rural e Biotecnologia, com crescente demanda de Produção Animal, Sanidade Vegetal, Indústria Química e Sustentabilidade Ambiental, Econômica e Social. Estes temas são desenvolvidos, em sua maioria, nas áreas de Agronomia e Ciência e Tecnologia de Alimentos, com crescente foco também em Zootecnia, Genética e Química.

Dentre os projetos deste portfólio, há o projeto financiado pelo programa da União Europeia “The Seventh Framework Programme” (FP7) intitulado “Jatropha curcas: applied and technological research on plant” (JATROPT), liderado pela Plant Research International B.V. (Holanda) e com forte participação da Embrapa na execução das atividades no Brasil e em intercâmbio com países como Guatemala, Holanda, Madagascar e Índia. Seus objetivos são descrever as coleções de germoplasma de J. curcas, desenvolver agrossistemas de produção sustentável de pinhão-manso e disseminar os conhecimentos desenvolvidos.

Complementar a este projeto há outro com aporte de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) intitulado “Pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em pinhão-manso (Jatropha curcas L.) para a produção de biodiesel” (BRJATROPHA), liderado pela Embrapa Agroenergia. Os objetivos deste projeto, além da estruturação e caracterização de um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) e definição de sistemas de produção e manejo, são: promover ajustes no processo de produção de biodiesel (tecnologia industrial) e ampliar as possibilidades de uso econômico de seus resíduos e coprodutos; e desenvolver estudos de viabilidade e sustentabilidade na cadeia produtiva do pinhão-manso, incluindo estudos de impacto sócio-econômico-ambiental, balanço energético e ciclo de vida.

Também liderados pela Embrapa Agroenergia, há projetos com aporte de recursos do SEG e do CNPq que visam desenvolver processos para destoxificação da torta de pinhão-manso, resíduo da extração de óleo, para sua utilização em nutrição animal. Estes projetos têm relevância econômica considerando a quantidade de óleo necessária para abastecer o mercado de biodiesel (quase 750 mil toneladas), gerando um alto volume de resíduos, e também relevância para a produção animal, pela alta composição proteica da torta (53-63%). O aproveitamento da torta agrega valor à produção de pinhão-manso, mas o fator limitante desta vantagem comercial é a presença de toxinas e fatores antinutricionais como curcina, ésteres de forbol, antitripsínicos e o fitato, que impedem seu uso in natura como fonte de nutrição animal.

O grande potencial energético e econômico do pinhão-manso e seus derivados são relevantes e claros, mas ainda há desafios a serem enfrentados para subsidiar o desenvolvimento e aprimoramento de processos industriais e de transferência de tecnologias, particularmente de cunho agronômico para subsidiar ações de cunho industrial. As ações de P,D&I desenvolvidas pela Embrapa já apresentam resultados relevantes tanto em aspectos agronômicos quanto industriais, que são mote para a ampliação da carteira de projetos e para o desenvolvimento de cultivares e transferência da tecnologia para atender à crescente demanda mundial de fontes renováveis de energia.

Sérgio Saraiva Nazareno dos Anjos é analista da Embrapa Agroenergia