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Dendê / Palma

Quilombolas são vítimas de violência de seguranças armados dentro de fazenda em Acará


O Liberal - 17 abr 2023 - 13:37

Os quilombolas da comunidade Amarqualta estão denunciando que foram agredidos por seguranças da empresa produtora de óleo de palma Brasil BioFuels (BBF), no município de Acará, no nordeste paraense. A Polícia Civil registrou o caso na última quarta-feira (12), dentro da fazenda Vera Cruz, controlada pela companhia, que explora dendê na região. Desde então, a situação tem ficado tensa na região. Os quilombolas realizaram o bloqueio da via que dá acesso à fazenda como forma de impedir a circulação de armas na área e vêm sendo acusados, pela empresa, de cárcere privado.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), foi emitida na tarde deste domingo (16) uma ordem judicial determinando a desocupação e o desbloqueio da fazenda Vera Cruz, localizada no município de Acará, nordeste paraense, e que pertence à produtora de óleo de palma Brasil BioFuels (BBF), que explora dendê na região. Por nota, a secretaria informou que “equipes especializadas das Polícias Civil e Militar, por meio de uma ação integrada, já foram deslocadas para dar cumprimento ao mandado judicial”.

No dia do conflito, testemunhas afirmaram que tiros foram disparados pelos seguranças da empresa contra quilombolas que ficaram feridos. Pelo menos, três membros da comunidade foram atingidos.

Foram encontrados cartuchos de espingarda espalhadas pelo local. Em vídeos que estão circulando nas redes sociais, seguranças da empresa aparecem armados e encapuzados.

A BBF alega que teve a fazenda invadida pelos quilombolas e que frutos teriam sido roubados. Por isso, teriam reagido atirando. Segundo a empresa, a intenção da comunidade seria ainda quebrar o maquinário do local.
Ainda de acordo com a BBF, “desde a manhã de sexta-feira (14), dezenas de quilombolas armados bloquearam a via de acesso à sede da fazenda Vera Cruz, proibindo a entrada e saída de funcionários no local”. Com o bloqueio, a entrada de alimentos para os funcionários e o transporte de óleo para geração de energia ficou inviável. “Os funcionários da empresa são mantidos em cárcere privado pelos invasores, sob constante ameaças e disparos de arma de fogo no período da madruga”, informou a BBF.

Em conversa com a reportagem de O Liberal, o coordenador de Relações Públicas da comunidade quilombola, Josias Santos, mais conhecido como “Jota”, disse que o bloqueio é uma forma de impedir a circulação de armas, com as quais as comunidades são atacadas em seu próprio território. Também é uma maneira de chamar atenção da empresa e da justiça, explicou o coordenador. “Estamos perdendo tudo o que temos: liberdade, paz, território e água potável”, falou.

Sobre o suposto roubo de frutos, “Jota” esclareceu que “as áreas tanto da fazenda quanto das reservas estão sob posse das populações tradicionais, desde novembro de 2021”.

“Portanto, a alegação de roubo dos frutos é mentira. As comunidades estão coletando os frutos das áreas e a justiça têm ciência, estão plantados dentro das áreas indígenas, quilombolas e ribeirinhas. As demais fazendas, fora desse polígono desses povos, não são incomodadas, nem ocupadas e nem vamos lá”, declarou.