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Dendê / Palma

Produção de biodiesel pode dobrar no Brasil com uso de óleo de palma


O Globo - 02 jul 2012 - 09:42 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
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A produção brasileira de biodiesel poderia dobrar se tivesse como base o óleo de palma (azeite de dendê) em vez do óleo de soja, afirma o presidente da Câmara Setorial da Palma de Óleo, Eduardo Ieda. Segundo ele, a palma possui produtividade (tonelada de óleo por hectare plantado) dez vezes maior do que a da soja, matéria-prima que respondeu por 80,79% dos 2,67 bilhões de litros de biodiesel produzidos em 2011, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Para isto, afirma Eduardo Ieda, o governo federal e os governos estaduais precisarão aumentar a capacidade de certificar agricultores familiares para receber financiamento para a produção de palma.

— O governo estava preparado para dar certificados a cerca de 150 agricultores familiares por ano, e estamos precisando ter esse volume por mês — diz ele, que também preside a Vale Biopalma, empreendimento da Vale (70%) com a MPS (30%) no Pará.

Apenas nos cinco primeiros meses deste ano, o número de contratos da linha do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar para a cadeia da palma (Pronaf-Dendê) foi 433% maior que no ano passado inteiro: 352 contratos de janeiro a maio, contra 66 em 2011. O valor médio dos contratos é de R$ 65,3 mil.

O GLOBO entrou em contato com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, responsável pela operação do Pronaf Dendê, mas não recebeu retorno dos pedidos de informações sobre o programa.

Eduardo Ieda afirma que é necessário mudar o quadro de predominância da soja.

— Estamos trabalhando muito para aumentar o plantio de palma, com empresas que têm vindo para o Pará, além da Vale.
Dados da ANP mostram que a participação da soja na produção de biodiesel caiu no ano passado, após ter atingido o pico de 83,3% em 2010, enquanto a participação da gordura bovina (sebo) subiu de 13,1% para 13,8% e os óleos de algodão e de girassol, de 3,6% para 5,4%.

Presidente da Câmara Setorial do Biodiesel e Oleaginosas, Odacir Klein diz que não vê “conflito” entre o uso do óleo de soja e a entrada do óleo de palma para a produção do biodiesel, que deverá ocorrer a partir de 2014. Segundo ele, a redução da participação da soja não é preocupante porque o produto tem diversos usos na indústria alimentícia.

— Não haveria programa de biodiesel no Brasil se não fosse a soja, uma oleaginosa da qual o país é autossuficiente e exportador — defende Klein. — No primeiro momento, a produção a partir da soja foi importante para que o mercado fosse atendido, mas a tendência é que outras matérias-primas ganhem espaço.

Produção nacional não atende à demanda interna
Como mostram dados da Câmara Setorial da Palma de Óleo, o Brasil deve consumir este ano 520 mil toneladas de óleo de palma, feito da polpa do fruto da palmeira e empregado na indústria alimentícia. Também deverão ser consumidas 200 mil toneladas de óleo de palmiste, feito a partir da amêndoa da palma e usado principalmente na indústria de cosméticos. Em valores, os volumes representam R$ 696 milhões (R$ 2,9 mil/tonelada) e R$ 89,7 milhões (R$ 3,9 mil/tonelada), respectivamente. A produção nacional, porém, só é capaz de atender a cerca de 45% da demanda por óleo de palma e 10% de óleo de palmiste.

A produção de biodiesesel de palma ainda é zero no país, mas o panorama deve mudar em 2015, quando entrar em operação a usina da Vale Biopalma no Pará, que produzirá 600 mil toneladas em 2019. A Petrobras também desenvolve uma produção de palma no estado, com a Galp Energia, mas voltada ao mercado europeu. A petrolífera instalará em Portugal, em 2015, uma usina com capacidade de 256 mil toneladas de biodiesel por ano.