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Dendê / Palma

Depois do petróleo, inflação global terá um novo vilão: óleo vegetal


Bloomberg - 27 abr 2022 - 10:04

A disparada da inflação já tem um novo vilão global: o óleo de cozinha. A Indonésia, maior exportador do mundo de óleos vegetais, vai suspender parte de suas vendas a partir de 28 de abril, em meio a protestos de rua contra a alta dos preços de alimentos e a à falta do produto em supermercados no país.

O país exporta todos os anos 30,5 milhões de toneladas de óleo vegetal, ou mais de um terço das vendas globais. Seu principal produto é o azeite de dendê - ou óleo de palma -, geralmente usado como tempero no Brasil, mas muito usado na preparação de alimentos em países de menor renda, tanto na Ásia como na África.

Nesta quarta-feira, o azeite de dendê saltou 10%. No mês, já acumula alta de 23%. O rival mais próximo do dendê é o óleo de soja, que também subiu na Bolsa de Chicago ontem, embora em ritmo menor (2,3%).

O abastecimento mundial de óleos vegetais já estava comprometido pela guerra da Ucrânia. Antes da invasão do país pela Rússia, 5,4 milhões de toneladas de óleo de girassol ucraniano eram exportados anualmente.

Assim, depois do petróleo, cuja disparada nas cotações pós-guerra da Ucrânia levou a uma forte alta de combustíveis e alimentos, o óleo de cozinha ameaça ser uma nova fonte de pressão para a inflação em todo o mundo.

No Brasil, o preço do óleo de soja já subiu 11,21% este ano, segundo dados do IBGE.

Os óleos vegetais são base da alimentação em quase todo o mundo, usados em doces, frituras e também como matéria-prima para alimentos processados. São também necessários para a fabricação de sabonetes e produtos de higiene e limpeza. E, em alguns países, usados ainda como combustível.

Além do bloqueio indonésio às vendas de azeite de dendê, uma safra menor de canola no Canadá pode pressionar ainda mais os preços de óleos vegetais no mundo. A agência de estatísticas canadense divulgou esta semana uma previsão de queda de 7% na área plantada de canola no país este ano.

O governo da Indonésia não detalhou se todas as exportações seriam banidas, mas sinalizou que talvez a restrição seja aplicada apenas a um tipo de óleo mais processado, chamado de RDB, que responde por 40% das vendas do país.

“Se a proibição de exportações for implementada de forma rigorosa, o impacto inflacionário será gigantesco”, alerta Atul Chaturvedi, presidente da Associação de Extratores de Solventes da Índia.
O governo indonésio alega que a suspensão das exportações não viola os princípios da Organização Mundial de Comércio (OMC). Com o veto às vendas externas, a demanda deve se voltar para a Malásia, segundo maior produtor do azeite de dendê.

Maior importador mundial de óleos de palma, soja e girassol, a Índia viu os preços desses produtos subirem entre 12% e 17% em Nova Déli desde o fim de fevereiro, quando eclodiu a guerra na Ucrânia.

E isso mesmo depois de o governo ter abolido taxas de importação que encareciam o produto. O país consome principalmente o óleo de palma, mais barato e mais facilmente usado em combinação com outros tipos de óleo ou gordura vegetal.

A China é outro grande importador global e tem na Indonésia o fornecedor de 70% de suas compras de óleo de palma.

A decisão do governo da Indonésia de banir exportações de óleo de palma foi anunciada dias antes do fim do jejum religioso do Ramadã - o país tem a maior população muçulmana do mundo. Os protestos populares contra a alta de preços e a falta do produto se tornaram um problema político para o presidente Joko Widodo.