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Dendê / Palma

Azeite de dendê do acarajé vai virar biodiesel


Correio 24 horas - 27 jan 2012 - 09:01 - Última atualização em: 27 fev 2012 - 00:30

Dona Terezinha Soares, 60 anos, se orgulha em ser a única baiana de acarajé que está no Festival de Verão desde a primeira edição. Nesses 14 anos, ela acompanhou a evolução da festa e, claro, perdeu as contas de quantos acarajés foram vendidos e também de quantos litros de azeite de dendê foram despejados nas lixeiras. Este ano, o que restar do acarajé dela vai se tornar biodiesel e fornecer parte da energia do Festival.

“Eu achei ótimo. Era algo que ia jogar fora. Antes colocava num saco plástico e jogava no lixo, ou quando estava na praia colocava numa vasilha e enterrava”. lembra a baiana, que afirma gastar 15 litros de azeite por noite. “Agora vou deixar aqui e esperar o pessoal passar pra buscar”.

Pensando no meio ambiente, os organizadores do Festival de Verão vão aproveitar a influência do evento em prol da causa. E a grande novidade é que todo o resíduo de óleo utilizado para fritar alimentos será transformado e reaproveitado para a festa.

Segundo Mônica Alcântara, consultora da empresa Reclicagem, responsável pelas iniciativas ambientais no evento, a intenção do projeto é diminuir ao máximo os impactos negativos de uma festa com as proporções do Festival.

“Em vários pontos da estrutura foram utilizados materiais reaproveitados ou recicláveis. Em vários espaços, o carpete é feito de garrafas PET, a madeirite utilizada foi construída com caixas de leite e sucos”, explica. “Nos pontos em que não conseguimos diminuir o impacto com o uso de materiais, optamos pela redução do uso”, conta Mônica.

Lixo prensado
Na prática, de um jeito ou de outro, todo mundo vai participar do projeto. A começar pela produção do biodiesel, e pelo lixo, que será separado por gênero (papel, metal, plástico e orgânico). Parte dele será prensado no local e o que for resto de comida será transformado em adubo. Tudo acontecendo diante do público.

“A central de triagem é aberta à visitação e os frequentadores poderão acompanhar e conhecer um ciclo do lixo completo”, afirma a coordenadora do projeto ambiental do Festival de Verão, Ângela Márcia.

A produção do biodiesel é uma parceria entre o Festival, a escola Politécnica da Ufba e a empresa A Geradora.  Segundo Ângela Márcia, toda a energia do evento será movida pelo combustível produzido pelos pesquisadores. “Os resíduos produzidos no parque não dão conta de toda a energia que precisamos, mas parte será do que for recolhido aqui, e parte do que já foi recolhido pela Ufba em outras partes da cidade será o suficiente”, explica.

À frente da pesquisa, o coordenador do laboratório de energia da Ufba, Ednildo Torres, ressalta que o biodiesel produzido a partir dos resíduos da festa é mais renovável e limpo que o comercializado em postos de combustível.

“Na bomba comum há o biodiesel 5%. Ou seja, 5 litros de biodiesel e 95 de óleo diesel a cada 100 litros distribuídos. O nosso terá 30 litros de biodiesel a cada 100. Se tem mais biodiesel, menos agressor ao meio ambiente ele é”, disse.  
Segundo Ednildo Torres, essa adequação melhora as emissões atmosféricas, protege os rios e mares onde seria descartado esse óleo, além de contribuir para a pesquisa científica.

O professor diz ainda que oito alunos da Ufba vão monitorar os geradores de energia. “Nosso objetivo é identificar melhorias a partir do uso do biodiesel como forma de energia e criar metas para os próximos eventos”, diz Torres.

Reciclagem
Segundo  Ângela, os proprietários e funcionários das lanchonetes e restaurantes foram instruídos a separar o lixo por gênero. O que não for prensado ou transformado em adubo no espaço será encaminhado para centros de reciclagem pela Cooperativa dos Recicláveis de Canabrava (Cooperbrava).

E como o objetivo é aproveitar tudo o que for possível, os materiais que não forem utilizados pela cooperativa ou pela Ufba, como lonas e toldos, serão doados a entidades para serem reutilizados.

A coordenadora diz que até mesmo na decoração foram priorizados materiais de menor impacto ambiental. “No camarote da Rede Bahia fizemos o revestimento das paredes com papel de jornal e revistas. Os móveis são oriundos de reuso ou serão reutilizados posteriormente, todas as espécies vegetais serão replantadas e as louças e peças sanitárias têm um esmalte não aderente. Ou seja, é mais fácil de limpar e consome menos produtos químicos”, explica.

Mensagem
A coordenadora diz que os outros camarotes também foram orientados a utilizar materiais de menor impacto. “Na verdade, todo o Festival foi pensando dessa forma. Usar materiais menos impactantes, gastar menos energia, passar essa mensagem”, relata. Mas as ações não estão restritas ao espaço da festa.
Em parceria com ongs e projetos sociais, o Festival de Verão apoiou a limpeza de praias e procurou formas menos poluentes de divulgar o evento. “Queremos atingir o máximo de pessoas possível e a educação ambiental não pode se limitar ao Parque de Exposições”, defende Ângela Márcia.

Florence Perez e Lais Vita